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Preso pela PF é ligado aos Tuma há 30 anos
Acusado de importar ilegalmente celulares, Paulo Li auxiliou campanhas eleitorais da família do secretário nacional de Justiça
Naturalizado brasileiro, chinês tem papel tido como entre pequeno e médio em esquema de contrabando que opera em São Paulo
MARIO CESAR CARVALHO
FLÁVIO FERREIRA
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
O chinês naturalizado brasileiro Li Kwok Kwen, de 53
anos, conhecido como Paulo Li
e preso pela Polícia Federal no
ano passado sob acusação de
importar ilegalmente telefones
celulares, mantém relações
com a família Tuma desde os
anos 80.
Naquela década, quando o
atual senador Romeu Tuma
(PTB-SP) era superintendente
da PF paulista, o chinês deu aulas de kung fu na sede paulista
do órgão. Li tem uma academia
na Liberdade, em São Paulo.
A partir de 1995, quando Tuma se lançou ao Senado, Li ajudou em campanhas políticas
dos Tuma. Até hoje, Paulo Li é o
elo da família com a comunidade chinesa. Dois filhos do senador tiveram carreira política:
Robson foi deputado federal
(2002-2005) e Romeu Tuma
Jr., estadual (2003-2006).
Ontem, o jornal "O Estado de
S. Paulo" revelou que uma investigação da PF do ano passado encontrou indícios de que
Tuma Jr., hoje secretário nacional de Justiça, auxiliou Li a
regularizar a situação de chineses que viviam clandestinamente em São Paulo. Gravações da PF mostram Tuma Jr.
pedindo celulares para Li.
Policiais da PF ouvidos pela
Folha sob a condição de anonimato disseram que é exagero
qualificar Li como líder da máfia chinesa em São Paulo. Ele
ocuparia um papel entre médio
e pequeno no contexto dos esquemas de contrabando que
operam na capital paulista.
A prisão
A investigação sobre Li começou em 2009 de forma casual. A PF investigava um agente federal lotado na superintendência paulistana quando percebeu que ele mantinha contatos com outro colega que dizia,
ao telefone, ter condições de resolver problemas de vistos para
estrangeiros no Brasil.
As conversas do segundo o
policial, por sua vez, levaram os
investigadores à família Li. Foram autorizadas interceptações telefônicas e de e-mail -a
Operação Wei Jin foi colocada
em andamento.
Seis meses depois, em setembro, o procurador da República
em São Paulo Marcos José Gomes Corrêa, que acompanhou o
caso, representou à Justiça Federal pela prisão de Li e seus
três filhos, Renato, 28, André
Man Li, 26, e Marcelo, 24.
O esquema, segundo as investigações, funcionava da seguinte forma: o grupo recebia
telefones celulares por meio de
entregas postais por encomenda, o chamado serviço "courier", feito por uma empresa de
exportação sediada na China, a
Express Mail Service.
Em seguida, os celulares
eram adulterados numa empresa de brindes, que acrescentava marcas famosas como Nokia, Sony e Motorola. Os aparelhos eram então despejados no
comércio informal.
Um primo de Li, Lee Lap Fai,
afirmou, em depoimento à PF,
que eram trazidos ao Brasil, em
média, 230 celulares por semana. Em setembro também estava sendo formado um estoque
para as vendas do final do ano.
A juíza federal substituta da
3ª Vara Federal Criminal de
São Paulo Letícia Dea Banks
Ferreira Lopes decretou, em 9
de setembro, a prisão preventiva de Li, seus filhos e primo.
Ao mesmo tempo, ela expediu mandados de busca e
apreensão contra endereços ligados ao clã, incluindo a academia de kung fu comandada por
Li, a A.C.W. Associação Chin
Wu, Artes Marciais e Esporte
Center do Brasil, que funciona
na rua Conselheiro Furtado, na
Liberdade.
Nos seis meses de interceptações telefônicas, a PF detectou
que um policial militar escoltava o transporte de mercadorias
contrabandeadas, e outro servidor público lotado no Ministério Público do Estado de São
Paulo teria auxiliado a suposta
quadrilha com dados sobre investigações em andamento.
Paulo Li está preso desde então. O inquérito foi tornado
ação penal, que tramita na 3ª
Vara Federal Criminal.
O caso principal deu origem a
dois inquéritos. Um apura possíveis irregularidades na obtenção de vistos e regularização de
chineses em situação ilegal no
Brasil, e o outro trata de suposta advocacia administrativa
atribuída a um policial federal.
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