São Paulo, quarta-feira, 06 de junho de 2001

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ESQUELETO DO BC

Diretora da instituição diz que levantamento comprovou que ex-funcionário era investidor do FonteCindam

Ex-diretor era cotista de banco socorrido

Alan Marques/Folha Imagem
A diretora do BC Tereza Grossi durante depoimento no Senado


VERA MAGALHÃES
ALEX RIBEIRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A diretora de Fiscalização do Banco Central, Tereza Grossi, confirmou ontem que um ex-diretor da instituição era um dos principais investidores de fundos do FonteCindam -um dos bancos que receberam ajuda do BC na desvalorização do real, em fevereiro de 1999.
A informação foi dada em resposta ao senador Jefferson Péres (PDT-AM), durante depoimento conjunto de Grossi e do presidente do BC, Armínio Fraga, à CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado.
Péres perguntou a Tereza se era verdade que um ex-presidente do BC era um dos principais cotistas do FonteCindam, sem revelar o nome. A Folha apurou que trata-se de Paulo César Ximenes, que presidiu a instituição no governo Itamar Franco.
Ximenes -que também foi presidente do Banco do Brasil no governo FHC- é amigo pessoal de um dos sócios do FonteCindam, Luiz Augusto Gonçalves.
Tereza Grossi disse que um levantamento preliminar feito pelo BC comprovou que um ex-diretor e alguns funcionários aposentados da instituição detinham cotas de fundos do FonteCindam.
Grossi alegou sigilo bancário para proteger o nome dos cotistas. Também não confirmou se havia um ex-presidente do Banco Central no grupo.
Péres disse que obteve a informação ontem, de um funcionário do BC. O senador deve apresentar requerimento à diretoria do BC pedindo a relação dos cotistas do FonteCindam na época da ajuda.
A revelação foi uma das poucas novidades no depoimento de Fraga e Tereza, marcado por ofensas entre ambos e senadores
O senador Carlos Bezerra (PMDB-MS) se retirou da sala, ainda no início, dizendo que "a seriedade da depoente [Tereza"" era "altamente duvidosa". O ataque foi feito porque a diretora interrompeu uma resposta para rir de uma brincadeira de Armínio Fraga com os fotógrafos.
"Não vim aqui para ser acusada", respondeu Grossi.
Armínio Fraga chamou o líder da oposição, José Eduardo Dutra (PT-SE), de "leviano", por ter insinuado que ele teve informações privilegiadas sobre decisões do BC mesmo antes de assumir a presidência do banco.
Dutra apontou contradições entre os depoimentos de Fraga e do ministro Pedro Malan (Fazenda). "Se houve alguém leviano, foi o ministro Malan", reagiu Dutra.
O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) revelou os bancos que, segundo uma testemunha anônima, teriam participado de um suposto esquema de compra de informações: Modal, Boavista, Pactual, Marka e FonteCindam.
Essas instituições teriam ganho dinheiro, em 1998, com informações fornecidas por um grupo que tinha acesso ao centro de decisões sobre juros e câmbio do BC.
Suplicy perguntou à Tereza se o BC poderia fornecer as operações e lucros desses bancos em 1998 e 1997. A diretora respondeu que poderia apenas abrir dados dos balancetes, que são públicos.
Tereza procurou se eximir de responsabilidade sobre a requisição da carta da BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros) que alertava sobre o risco sistêmico no caso de os bancos quebrados não serem socorridos. Na CPI dos Bancos, os senadores descobriram que a carta foi escrita depois que o socorro já estava fechado e que Tereza pediu que os termos da correspondência fossem alterados. Ontem, a diretora disse que nunca citou a crise sistêmica em suas negociações com a BM&F.



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