UOL

São Paulo, sexta-feira, 06 de junho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Petista adere a "happening" ecológico

LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva protagonizou um inusitado evento musical ontem no Palácio do Planalto. Inicialmente constrangido, mas depois com certa desenvoltura, o petista foi um auxiliar de percussão para uma performance cheia de palavras de ordem típicas de ONGs ambientais.
Com um tambor artesanal entre as pernas e improvisando batuques com desenvoltura, Lula surpreendeu uma platéia de cerca de 500 pessoas que participavam do lançamento da Conferência Nacional do Meio Ambiente.
A percussão presidencial ocorreu a pedido do líder do grupo Tambores da Paz, Bené Fonteles. Sem avisar o cerimonial de sua intenção, entregou tambores para três das quatro autoridades no palanque: Lula, a ministra Marina Silva (Meio Ambiente) e o teólogo Leonardo Boff. O ministro José Dirceu (Casa Civil), constrangido, acompanhou alguns batuques com o pé, mas acabou desistindo.
"Eu não sabia que o Dirceu ia estar aqui, mas não importa. Os tambores eram para Lula, Marisa e Marina. Acabei entregando um para o Boff porque ele tem mais a ver com a gente na questão ambiental, ecológica e espiritual", disse Fonteles. A primeira-dama não participou da cerimônia.
Segundo o artista, os tambores passaram pelo detetor de metais e o presidente, ao aceitar o instrumento, disse: "Salve, Bené". Fontele conhece Lula desde 1980, quando fez um retrato seu em serigrafia para o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
No início, Lula ficou corado, mas manteve o bom humor, gesticulando que não sabia tocar.
Pouco depois, acabou batucando com entusiasmo para acompanhar os percussionistas de Fontele, que lia um manifesto.
No texto, pedia "clamor" contra os transgênicos, a transposição das águas do rio São Francisco e a indústria alimentícia que fomenta doenças. A cada pedido, uma saraivada de batucadas -inclusive a de Lula, Boff e Marina Silva -que classificou o ato como uma manifestação artística que não poderia ser censurada.
"Todos aqueles que têm coisas que não precisam são ladrões. Todos nós somos ladrões", disse Fonteles entre batidas de tambor no final de seu ato. Em seguida, fez uma espécie de dança abraçado na bandeira brasileira.
O improviso musical de Lula pegou o Planalto de surpresa em um dia no qual os procedimentos de segurança e protocolo haviam sido reforçados para evitar um constrangimento público igual ao da última solenidade no palácio.
Na semana passada, no lançamento da política de saúde mental, uma evangélica entrou sem ser convidada, tomou a palavra e fez um discurso sobre a salvação do traficante Fernandinho Beira-Mar a poucos metros de Lula.
Apesar de afirmar que não haveria mudanças na segurança palaciana, ontem todos os convidados foram obrigados a apresentar documentos, criando filas com mais de cem pessoas no saguão.
Uma bandeja de papel foi improvisada para que chaves e celulares passassem pelo detetor de metais, procedimento que sempre foi dispensado. O atraso decorrente foi de 50 minutos. O número de seguranças na cerimônia foi aumentado e divisórias baixas de madeira foram colocadas para separar o público do presidente.
Lula, que ficou mais distante do público, pediu a um assessor que autorizasse a aproximação de uma menina de 10 anos, Maria Lívia de Cabral, que queria entregar materiais da ONG de sua mãe.


Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Perfil: "Sou artista, não bobo da corte", diz autor de protesto
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.