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JANIO DE FREITAS
A oposição à oposição
Lula diz o que quer; do
PSDB, cada vez mais aturdido, não vêm senão adjetivos de última hora
AO FINAL DA apuração, todos os
insatisfeitos com o resultado
ou, pior, com o próprio quadro político-eleitoral que lhes foi
oferecido terão, ao menos, um consolo. Poderão dizer que testemunharam uma eleição para a Presidência com originalidades jamais
esperadas por aqui, nem, provavelmente, sequer imagináveis em outro
país tido como democracia.
A par de aberrações originais
como a de um presidente que assumiu para fazer campanha reeleitoral
ao longo do mandato ou como o uso
eleitoral de meios do Estado, há
também as contribuições preciosas
da oposição. Todas com admirável
determinação de negar qualquer
traço de inteligência política, ainda
que não passe da mais simples
percepção.
No conjunto de extravagâncias estamos vendo nada menos do que este cenário sem precedentes: a oposição é que está acuada e o presidente-candidato é que está no papel de
oposição, com incessantes investidas contra o candidato e outras eminências oposicionistas. Lula diz o
que quer, nos ataques aos adversários ou na autopropaganda, com algum fundamento ou voando na irrealidade. Do PSDB, cada vez mais
aturdido, não vêm senão uns adjetivos de última hora, a título de resposta, e, do PFL, nem isso. E olha
que não há um só discurso eleitoral
de Lula capaz de resistir à confrontação com fatos e dados dos seus três
anos e meio de governo.
A inversão dos papéis de governo e
oposição não é apenas original. É
também cômica, pelo que devemos
agradecer aos barões do PSDB. Mas
não só. É também trágica, por suas
conseqüências potenciais.
Má entrada
Embora a direita, aliviada, esteja
afirmando aqui que Hugo Chávez
saiu derrotado da eleição peruana,
na qual teria até prejudicado o seu
candidato, nada há de objetivo que
ampare tal conclusão. No limite
das suposições, cabe mesmo o
inverso. Ou seja, que a ingerência
de Chávez tenha feito ou facilitado
a subida de Ollanta Humala, na
última fase da campanha, a ponto
de ultrapassar a favorita Lourdes
Flores e disputar o segundo turno
com Alan Garcia, agora dado como
vitorioso.
O que há de objetivo é a ingerência de Hugo Chávez no processo
eleitoral de outro país. A ação declarada, em comparação com os
métodos sórdidos tantas vezes usados pelo Departamento de Estado e
pela CIA, pode dar-lhe alguma atenuante pessoal. Mas, em termos
institucionais e geopolíticos, sua
atitude não afrontou só peruanos.
Atingiu todos os que se opõem, e
não de agora, a todas as formas de
desconsideração da soberania de
cada país. Por mais precárias que
ainda sejam a soberania e a situação social do povo que a merece.
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