São Paulo, terça-feira, 06 de junho de 2006

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JANIO DE FREITAS

A oposição à oposição

Lula diz o que quer; do PSDB, cada vez mais aturdido, não vêm senão adjetivos de última hora

AO FINAL DA apuração, todos os insatisfeitos com o resultado ou, pior, com o próprio quadro político-eleitoral que lhes foi oferecido terão, ao menos, um consolo. Poderão dizer que testemunharam uma eleição para a Presidência com originalidades jamais esperadas por aqui, nem, provavelmente, sequer imagináveis em outro país tido como democracia.
A par de aberrações originais como a de um presidente que assumiu para fazer campanha reeleitoral ao longo do mandato ou como o uso eleitoral de meios do Estado, há também as contribuições preciosas da oposição. Todas com admirável determinação de negar qualquer traço de inteligência política, ainda que não passe da mais simples percepção.
No conjunto de extravagâncias estamos vendo nada menos do que este cenário sem precedentes: a oposição é que está acuada e o presidente-candidato é que está no papel de oposição, com incessantes investidas contra o candidato e outras eminências oposicionistas. Lula diz o que quer, nos ataques aos adversários ou na autopropaganda, com algum fundamento ou voando na irrealidade. Do PSDB, cada vez mais aturdido, não vêm senão uns adjetivos de última hora, a título de resposta, e, do PFL, nem isso. E olha que não há um só discurso eleitoral de Lula capaz de resistir à confrontação com fatos e dados dos seus três anos e meio de governo.
A inversão dos papéis de governo e oposição não é apenas original. É também cômica, pelo que devemos agradecer aos barões do PSDB. Mas não só. É também trágica, por suas conseqüências potenciais.


Má entrada
Embora a direita, aliviada, esteja afirmando aqui que Hugo Chávez saiu derrotado da eleição peruana, na qual teria até prejudicado o seu candidato, nada há de objetivo que ampare tal conclusão. No limite das suposições, cabe mesmo o inverso. Ou seja, que a ingerência de Chávez tenha feito ou facilitado a subida de Ollanta Humala, na última fase da campanha, a ponto de ultrapassar a favorita Lourdes Flores e disputar o segundo turno com Alan Garcia, agora dado como vitorioso.
O que há de objetivo é a ingerência de Hugo Chávez no processo eleitoral de outro país. A ação declarada, em comparação com os métodos sórdidos tantas vezes usados pelo Departamento de Estado e pela CIA, pode dar-lhe alguma atenuante pessoal. Mas, em termos institucionais e geopolíticos, sua atitude não afrontou só peruanos. Atingiu todos os que se opõem, e não de agora, a todas as formas de desconsideração da soberania de cada país. Por mais precárias que ainda sejam a soberania e a situação social do povo que a merece.


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