São Paulo, sexta-feira, 06 de junho de 2008

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Propina de US$ 1 mi paga pela Alstom passou por doleiros

Rota do dinheiro que teria ido para políticos brasileiros está registrada em documento do Ministério Público suíço

Nomes dos doleiros do Brasil que receberam esses valores nos EUA estão sob sigilo, já que um deles negocia delação premiada em SP


MARIO CESAR CARVALHO
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DA REPORTAGEM LOCAL

A filial suíça da Alstom usou empresas sediadas em paraísos fiscais e contas de doleiros brasileiros para movimentar US$ 1 milhão que foi usado para pagar propinas a políticos brasileiros, segundo investigação em curso na Suíça e na França.
A rota do dinheiro, de Zurique, na Suíça, a Nova York, nos EUA, está registrada em um documento do Ministério Público suíço obtido pela Folha.
Das contas dos doleiros brasileiros em Nova York o dinheiro pode ter tido dois destinos: ou foi creditado para alguém no Brasil, por meio de dólar-cabo, ou foi transferido para contas de brasileiros no exterior.
Dólar-cabo é o sistema pelo qual um doleiro recebe dinheiro numa conta no exterior e disponibiliza o mesmo valor no Brasil, em troca de uma comissão, sem que haja movimentação física de valores.
O documento lista quatro depósitos que a Alstom ordenou entre dezembro de 1998 e fevereiro de 2002. Dois desses depósitos saíram do Union Bancaire Privée, de Zurique, e outros dois, do Bank Audi.
Todos foram parar em conta da "offshore" MCA Uruguay Ltd., nas Ilhas Virgens Britânicas, paraíso fiscal localizado no Caribe. A MCA é controlada pelo brasileiro Romeu Pinto Jr., apontado pelos investigadores brasileiros como um operador ligado aos tucanos.
Os valores dos depósitos ordenados pela Alstom são: US$ 207.659,57 (outubro de 1998), US$ 298.856,45 (dezembro de 1998), US$ 245 mil (dezembro de 2001) e US$ 255 mil (fevereiro de 2002).
O valor total (US$ 1.006.516) corresponde a R$ 1,8 milhão, quando se corrige as transferências seguindo as datas em que elas foram feitas.
Os nomes dos doleiros brasileiros que receberam esses valores em Nova York estão sendo mantidos sob sigilo.
A razão do sigilo, segundo a Folha apurou, é que um dos doleiros está negociando uma delação premiada em São Paulo. Ele tenta obter uma redução de pena em troca de informações sobre quem foram os beneficiários das transferências feitas pela MCA para as contas de Nova York.
A colaboração dos doleiros é fundamental para se descobrir quem foi o beneficiário das transferências de US$ 1 milhão. É que doleiros não emitem qualquer documento sobre os valores que pagam.
O dinheiro que a MCA recebeu de bancos suíços não é o total de propina que a Alstom teria pagado a políticos brasileiros, de acordo com documentos que o Ministério Público da Suíça remeteu na última semana para o Brasil.
Segundo o resumo dos promotores, revelado pelo jornal "O Estado de S. Paulo", a Alstom pagou 34 milhões de francos franceses, correspondentes hoje a R$ 13,5 milhões. O documento suíço diz que as propinas foram pagas entre 1998 e 2001 e cita a Eletropaulo.
O jornal "Wall Street Journal", que revelou o caso, diz que a Alstom pagou US$ 6,8 milhões para obter um negócio de US$ 45 milhões do Metrô.
A Alstom não quis se pronunciar sobre os doleiros. A Folha não conseguiu falar com Pinto Jr. em seu escritório.


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