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Propina de US$ 1 mi paga pela Alstom passou por doleiros
Rota do dinheiro que teria ido para políticos brasileiros está registrada em documento do Ministério Público suíço
Nomes dos doleiros do Brasil que receberam esses valores nos EUA estão sob sigilo,
já que um deles negocia delação premiada em SP
MARIO CESAR CARVALHO
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DA REPORTAGEM LOCAL
A filial suíça da Alstom usou
empresas sediadas em paraísos
fiscais e contas de doleiros brasileiros para movimentar US$ 1
milhão que foi usado para pagar propinas a políticos brasileiros, segundo investigação
em curso na Suíça e na França.
A rota do dinheiro, de Zurique, na Suíça, a Nova York, nos
EUA, está registrada em um documento do Ministério Público
suíço obtido pela Folha.
Das contas dos doleiros brasileiros em Nova York o dinheiro pode ter tido dois destinos:
ou foi creditado para alguém
no Brasil, por meio de dólar-cabo, ou foi transferido para contas de brasileiros no exterior.
Dólar-cabo é o sistema pelo
qual um doleiro recebe dinheiro numa conta no exterior e
disponibiliza o mesmo valor no
Brasil, em troca de uma comissão, sem que haja movimentação física de valores.
O documento lista quatro
depósitos que a Alstom ordenou entre dezembro de 1998 e
fevereiro de 2002. Dois desses
depósitos saíram do Union
Bancaire Privée, de Zurique, e
outros dois, do Bank Audi.
Todos foram parar em conta
da "offshore" MCA Uruguay
Ltd., nas Ilhas Virgens Britânicas, paraíso fiscal localizado no
Caribe. A MCA é controlada
pelo brasileiro Romeu Pinto
Jr., apontado pelos investigadores brasileiros como um
operador ligado aos tucanos.
Os valores dos depósitos ordenados pela Alstom são:
US$ 207.659,57 (outubro de
1998), US$ 298.856,45 (dezembro de 1998), US$ 245 mil (dezembro de 2001) e US$ 255 mil
(fevereiro de 2002).
O valor total (US$ 1.006.516)
corresponde a R$ 1,8 milhão,
quando se corrige as transferências seguindo as datas em
que elas foram feitas.
Os nomes dos doleiros brasileiros que receberam esses valores em Nova York estão sendo mantidos sob sigilo.
A razão do sigilo, segundo a
Folha apurou, é que um dos
doleiros está negociando uma
delação premiada em São Paulo. Ele tenta obter uma redução
de pena em troca de informações sobre quem foram os beneficiários das transferências
feitas pela MCA para as contas
de Nova York.
A colaboração dos doleiros é
fundamental para se descobrir
quem foi o beneficiário das
transferências de US$ 1 milhão.
É que doleiros não emitem
qualquer documento sobre os
valores que pagam.
O dinheiro que a MCA recebeu de bancos suíços não é o total de propina que a Alstom teria pagado a políticos brasileiros, de acordo com documentos que o Ministério Público da
Suíça remeteu na última semana para o Brasil.
Segundo o resumo dos promotores, revelado pelo jornal
"O Estado de S. Paulo", a Alstom pagou 34 milhões de francos franceses, correspondentes
hoje a R$ 13,5 milhões. O documento suíço diz que as propinas foram pagas entre 1998 e
2001 e cita a Eletropaulo.
O jornal "Wall Street Journal", que revelou o caso, diz que
a Alstom pagou US$ 6,8 milhões para obter um negócio de
US$ 45 milhões do Metrô.
A Alstom não quis se pronunciar sobre os doleiros. A Folha
não conseguiu falar com Pinto
Jr. em seu escritório.
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