|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CELSO PINTO
Concessões aos municípios
A Lei de Responsabilidade Fiscal pode ser amenizada em relação às exigências para os municípios, como uma forma de ajudar
na sua aprovação ainda este ano.
A lei estabelece uma série de exigências para Estados e municípios, sujeitas a acompanhamento
e punições aos administradores.
Algumas das maiores resistências
têm surgido de municípios.
A razão principal é a dependência da maioria dos municípios de
verbas federais e estaduais. A receita disponível dos municípios
chegou a R$ 45 bilhões em 98, mas
só R$ 13,2 bilhões foram gerados
por receita própria (ISS e IPTU).
O restante, R$ 31,6 bilhões, veio de
transferências federais (R$ 13 bilhões) e estaduais (R$ 18,6 bilhões).
Quer dizer, os municípios, em
média, controlam apenas 29%
das receitas que gastam. No caso
dos municípios com menos de 50
mil habitantes, 91% do total, essa
proporção cai para 13%.
O receio de muitos prefeitos é assumir mais responsabilidades na
gestão fiscal, controlando, na verdade, uma parcela muito pequena dos recursos que utilizam. Se
algum problema, político ou econômico, afetasse o volume ou o
prazo das transferências de recursos para os municípios, eles correriam o risco de pagar pelo não
cumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal, sem ter controle
sobre o grosso da receita.
Para contornar essa resistência,
o governo está pensando em limitar algumas das exigências da nova lei apenas aos municípios acima de 200 mil habitantes. Do
ponto de vista fiscal, são esses os
municípios que contam.
O problema fiscal potencial dos
municípios menores é outro: seus
fundos de Previdência. No Programa de Estabilidade Fiscal do
ano passado, está mencionado
que 1.388 municípios têm regime
próprio de Previdência, dos quais
943 com menos de 20 mil habitantes e que "não apresentam nenhuma estrutura de administração
da conta previdenciária".
É uma bomba de tempo. Quando esses sistemas começarem a estourar, a pressão para que a conta
seja repassada para Brasília será
imensa.
Evasão na Bolsa
Quanto dinheiro de brasileiros
sai do país e volta, sob a forma de
investimento externo (via Anexo
4), para aplicar em Bolsa sem pagar imposto?
O Secretário da Receita Federal
falou que US$ 17 bilhões do Anexo
4 viriam de "paraísos fiscais" da
América Central e que o grosso seria de brasileiros. O que o levou a
sugerir que o Anexo 4 fosse taxado como os investimentos locais.
A conta, contudo, não é clara.
Alfredo Rizkhallah, presidente da
Bolsa de São Paulo (Bovespa), diz
que o estoque de Anexo 4 em 30 de
abril era de US$ 20 bilhões (já
chegou a US$ 29 bilhões antes da
crise russa). Desse total, cerca de
30% teriam origem na América
Central, o que dariam US$ 6 bilhões e não US$ 17 bilhões.
Dados de fevereiro da Comissão
de Valores Mobiliários (CVM)
mostram que 36% das carteiras
de Anexo 4 têm origem na América Central. No entanto, isso não
quer dizer que 36% do volume
vêm de lá, apenas que 36% dos titulares das carteiras são de lá.
Existem carteiras de apenas um
investidor, mas existem também
as chamadas "contas ônibus": sob
um titular estão inúmeros investidores. Existem cerca de 400 contas
no Anexo 4, mas sabe-se que,
atrás destas contas, existem mais
de 5 mil investidores.
Olhando a origem dos investidores e não das contas, cerca de
75% vêm dos Estados Unidos, Reino Unido e Canadá. Uma razão
para isso é que vários fundos dedicados à América Latina, ao
Brasil ou a países emergentes têm
origem na América Central e acabam reunindo, como investidores,
grandes fundos institucionais
americanos ou de outras origens.
A Bovespa custodia boa parte do
dinheiro do Anexo 4. Do que estava custodiado lá, em maio, 62,1%
tinham origem nos Estados Unidos e Canadá; 26,3% na Europa;
10% na América Central; 0,9% na
América do Sul; 0,7% na Ásia e
0,1% no Oriente Médio.
É claro que existe dinheiro expatriado de brasileiros não só na
América Central, mas no resto do
mundo e o "passeio fiscal" deve
ser coibido. Só que fica complicado entender de onde vem o número de US$ 17 bilhões de brasileiros
vindos da América Central.
Ninguém é contra coibir essa
evasão. A principal razão para
não taxar o Anexo 4 é outra: ela
vai desviar ainda mais negócios
com ações brasileiras para o exterior, especialmente Nova York,
onde já são negociadas ações que
representam 70% do movimento
da Bovespa. O que esvaziaria o
benefício fiscal da medida e encolheria o mercado brasileiro.
Texto Anterior: Folha publica relatório Próximo Texto: Deputado faz acusação a presidente do TJ paulista Índice
|