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RUMO ÀS ELEIÇÕES
Programa de governo de Luiz Inácio Lula da Silva promete manter superávit primário e metas de inflação
PT defende mais controle sobre mercado
FÁBIO ZANINI
DA REPORTAGEM LOCAL
O programa de governo de Luiz
Inácio Lula da Silva, aprovado pelo diretório nacional petista na semana passada, defende a maior
presença do Estado na economia,
com o fortalecimento de sua
"ação reguladora".
"É necessário considerar como
central a recuperação da capacidade de definir e implementar políticas econômicas com maior autonomia ante os mercados globais. Isso supõe o fortalecimento
da capacidade de regulação do Estado", afirma o programa.
Em outro trecho, o partido pede
que o Estado seja ativo na "ação
reguladora sobre o mercado e o
comportamento predatório de
monopólios e oligopólios".
O documento, resultado de seis
meses de debates internos, tem
como um dos objetivos assegurar
ao mercado que as mudanças defendidas pelo PT seriam feitas da
maneira mais tranquila possível.
O tom do texto é de cautela, destacando a defesa de um período
de transição rumo a um novo modelo, que respeitaria contratos e
regras estabelecidos, defenderia a
estabilidade e encorajaria o investimento produtivo.
Estão ali, por exemplo, as promessas de preservar por algum
tempo os instrumentos básicos da
atual política econômica, como a
meta de superávit primário -hoje em 3,75% do PIB-,o sistema
de metas de inflação e o câmbio
flutuante.
"O nosso governo não vai prometer respostas mágicas. Mas pode sim prometer uma luta incansável para o país avançar", afirma
o texto. Não há referências à independência do Banco Central, que
o PT rejeita, e ao alongamento da
dívida interna, que poderia ser
confundido com calote, segundo
receava o partido.
O programa aprovado pelo PT é
na realidade um compêndio de
quatro textos que tratam de crescimento econômico,distribuição
de renda, políticas sociais e infra-estrutura, totalizando mais de
cem páginas.
O calhamaço está passando por
um processo de redação final, a
cargo do coordenador do programa, Antônio Palocci, e deverá ficar mais enxuto, com algo em torno de 50 páginas. Em 23 de junho,
será divulgado oficialmente o texto final do programa, com a presença do próprio Lula.
"Os textos aprovados pelo diretório nacional não podem sofrer
alteração em sua essência. Trata-se apenas de dar a forma final ao
documento", declarou Palocci.
No texto, o partido praticamente subtraiu o termo "ruptura",
que constava de documento de
diretrizes para o atual programa,
aprovado em dezembro. A palavra poderia evocar imagem de
quebra de contratos e rompimento da estabilidade.
Agora, há apenas uma referência à "ruptura com as tendências
históricas da sociedade brasileira,
altamente concentradora de renda e geradora de exclusão social".
Quanto ao combate à inflação, o
PT reconhece seus méritos, mas
nega que a paternidade caiba aos
tucanos, criadores do Plano Real.
"[A estabilidade" não é patrimônio do atual governo, pois foi obtida com sacrifícios, especialmente dos setores mais vulneráveis".
Equilíbrio precário
O documento petista promete
concentrar um eventual governo
de Lula em cinco reformas: tributária, previdenciária, trabalhista,
política e agrária.
A tributária é a que recebe
maior atenção. Entre as promessas elencadas estão a desoneração
das exportações, tributação de
fortunas e heranças e redução da
carga tributária sobre os bens de
consumo de massa.
O partido dá ênfase à redução
da dependência do Brasil ao capital especulativo. Para isso, promete diminuir "de forma rápida e
continuada" o déficit em transações correntes, pela obtenção de
saldos comerciais. Além do estímulo às exportações, compromete-se com a substituição "competitiva" (sem fechamento da economia) de importações.
Seria esta uma das chaves para
retomar a vocação "histórica" do
Brasil para crescer, que já atingiu
índices de 7% ao ano, como lembra o documento.
Ainda ao tratar de comércio exterior, o partido de Lula defende
que se "revigore" o Mercosul,
construindo instituições políticas
e jurídicas comuns, bem como
uma mesma política externa.
Sobre a Área de Livre Comércio
das Américas (Alca), o PT é crítico, afirmando que, da maneira
como está sendo negociada, "pode representar a desestruturação
dos sistemas produtivos da maioria dos países do continente, especialmente do Brasil".
Apesar de prometer que não fará do Brasil uma economia fechada, pois "ninguém no PT tem saudade do velho protecionismo", o
texto não se furta a uma crítica à
globalização, que "não pode ser
entendida como um milagroso
atalho para o desenvolvimento".
Apregoando que "não há governo petista que não esteja comprometido com a responsabilidade
fiscal", o documento critica ainda
a forma como o ajuste nas contas
públicas foi realizado.
"O atual governo estabeleceu
um equilíbrio fiscal precário. A
âncora fiscal tem efeito limitador
da atividade econômica."
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