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MARCHA DA RADICALIZAÇÃO
Mais de 600 mil esperam assentamento no país
Total de acampados cresce 147,5% em apenas 6 meses
JAIRO MARQUES
TIAGO ORNAGHI
EDUARDO SCOLESE
DA AGÊNCIA FOLHA
Mais de 600 mil pessoas, que representam quase 149 mil famílias,
estão acampadas à espera de terra
no Brasil. Esse número é 147,5%
maior do que aquele que o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) divulgou à
equipe de transição do então presidente eleito Luiz Inácio Lula da
Silva (PT), no final de 2002, que
era de 60 mil famílias.
Isso indica um crescimento na
busca de áreas rurais em seis meses do governo Lula, e representa
mais que o dobro da demanda
que o atual governo planejava assentar até o final deste ano -60
mil famílias. Já o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra) reivindica o assentamento
de 120 mil famílias em 2003 e de 1
milhão até o final de 2006.
A Agência Folha contatou todas
as superintendências regionais do
Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) e levantou que existem hoje, pelo
menos, 148.491 famílias morando
em barracos de lona em 1.297
acampamentos espalhados por 22
Estados mais o Distrito Federal.
Esses números ainda são parciais em alguns Estados e farão
parte de um relatório que o órgão
prepara e pretende divulgar no final deste mês. Ou seja, o número
de acampados pode aumentar.
Não há dados sobre acampamentos no Acre, em Roraima e no
Amapá. Apenas o Incra de Rondônia não forneceu informações e
ficou fora da amostragem.
618 mil pessoas
Para chegar ao dado do total de
pessoas acampadas, o método
adotado pelo Incra é multiplicar o
número de famílias por quatro.
Porém, em Sergipe, no Rio de Janeiro, em Goiás e em Minas Gerais, as superintendências adotam
a multiplicação por cinco, o que
totaliza 618.490 pessoas.
No Estado de São Paulo, onde se
encontra uma das regiões mais
conflituosas do país -o Pontal
do Paranapanema-, o Itesp
(Instituto de Terras de São Paulo)
contabiliza 97 acampamentos
com 9.556 famílias.
No ano passado, a Ouvidoria
Agrária Nacional do governo Fernando Henrique Cardoso anunciou que cerca de 60 mil famílias
viviam à margem de rodovias ou
em terras invadidas esperando ser
assentadas, menos da metade do
número atual (149 mil).
"O nosso levantamento terminou no final de maio [e foi repassado ao Incra Nacional], mas os
números têm aumentado muito
rapidamente, o que obriga estarmos sempre revendo para checar
a realidade. A pressão pela terra é
fortíssima aqui no Estado, mas estamos evitando o conflito com a
negociação. Pelo tamanho do
nosso território, a concentração
de famílias acampadas é preocupante", declarou o superintendente do Incra em Sergipe, Carlos
Antônio de Siqueira Fontenele .
Os dados tabulados não se referem apenas a acampamentos ligados ao MST. Grupos ligados à
CPT (Comissão Pastoral da Terra) e à Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura), por exemplo, também
estão presentes no levantamento
realizado pelo órgão.
Reivindicação
As próprias lideranças do MST
falam no incremento do número
de pessoas acampadas durante o
primeiro semestre da administração do presidente Lula.
João Paulo Rodrigues, da direção nacional, disse que, das famílias do movimento instaladas em
barracos em todo o país, 30 mil teriam aderido depois da posse de
Lula, e o restante viveria "há mais
de dois anos" em barracos.
Indagado sobre o número de assentamentos exigidos pelo MST
em 2003, Rodrigues declarou:
"Qualquer número que seja próximo de 90 mil [número de famílias ligadas ao MST acampadas no
país, segundo o movimento]. Esse
é o mínimo. Mas nós não vamos
bater em números agora. Nós
queremos que sejam assentadas
as famílias acampadas, o que é o
compromisso de campanha de
Lula", afirmou o dirigente.
Dentre os Estados com o maior
número de pessoas reivindicando
terra no Brasil está Pernambuco,
palco de diversos conflitos na última semana. O levantamento oficial do Incra local está atrasado,
mas, na estimativa dos movimentos sociais pernambucanos, pode
haver até 35 mil famílias acampadas em 320 locais diferentes.
Para o levantamento feito, foram consideradas 19 mil famílias,
dado da ouvidoria do governo
passado e encampado pela equipe
de transição de Lula.
"A superintendência aqui de
Pernambuco tem uma capacidade máxima de assentar 2.000 pessoas por ano. A demanda de
acampados, ao longo dos últimos
oito anos, foi sempre maior que
isso, o que resultou em um saldo
acumulado que foi se arrastando.
Chegou-se ao cúmulo de termos
pessoas acampadas há sete anos
no Estado", disse o superintendente do Incra em Pernambuco,
João Farias de Paula Júnior.
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