São Paulo, quarta-feira, 06 de julho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ NOVAS LIGAÇÕES

José Borba afirma que publicitário discutia nomeações com o PT e, após pressão, se licencia

Valério negociava cargos no governo, diz líder do PMDB

Carlos Moura - 29.jun.2005/Correio Brasiliense
O líder do PMDB na Câmara, José Borba, que divulgou nota ontem


RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

SILVIO NAVARRO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA

O líder do PMDB na Câmara, deputado José Borba (PR), aumentou ontem ainda mais a gravidade da crise política ao afirmar, em nota, que o publicitário mineiro Marcos Valério Fernandes de Souza participava das discussões para o preenchimento dos cargos públicos federais e "fazia parte do grupo do PT que exercia efetiva influência político-administrativa no governo".
Aliado do Planalto desde que assumiu a liderança do PMDB, no início de 2004, Borba verbalizou o que o PT e o governo procuram negar efusivamente: que Valério, acusado de ser o "operador" do suposto "mensalão", tinha influência política na gestão de Luiz Inácio Lula da Silva.
"Nunca recebi do senhor Marcos Valério qualquer numerário ou recursos financeiros, limitando-se o relacionamento ao fato de que o mesmo fazia parte do grupo do PT que exercia efetiva influência político-administrativa junto ao governo federal", diz a nota de Borba. O peemedebista afirma ainda ter discutido com Valério e com o PT a indicação de apadrinhados para cargos federais.
A nota -que traz duros ataques ao presidente do PMDB, Michel Temer (SP)- teve imediata repercussão no Congresso.
Pressionado por uma lista de assinaturas para destituí-lo da liderança, Borba pediu licença do cargo na noite de ontem, indicando Wilson Santiago (PB) para a vaga.
Após a divulgação da nota, governistas diziam se sentir perplexos e avaliavam que Borba poderia ter se "atrapalhado" na redação. Outros afirmavam que o peemedebista se sentiu abandonado pelo governo.
Instado pelo PSDB, o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), acionou a Corregedoria da Casa para apurar se as ações assumidas por Borba ferem o decoro parlamentar, o que pode resultar em cassação do mandato. "Borba fez uma verdadeira confissão de crime, ele assumiu a existência de uma verdadeira quadrilha", afirmou Alberto Goldman (SP), líder do PSDB.
O líder do PMDB foi citado por Fernanda Karina Somaggio, ex-secretária de Valério, como um dos políticos que eram próximos ao ex-chefe, que chegou a avalizar um empréstimo do PT.
Borba negou conhecer Valério, mas recuou. Embora tenha dito a líderes do PMDB que sua relação com o publicitário não envolvia o partido, a nota de ontem une Valério, PT e PMDB na prática do fisiologismo. "O que discuti com dirigentes do PT e o senhor Marcos Valério é o que lideranças partidárias discutem hoje e sempre discutiram em todos os governos: a nomeação de seus partidários para cargos na administração pública", diz a nota, que reforça:
"O meu relacionamento com líderes do PT, integrantes de sua Executiva Nacional e o senhor Marcos Valério sempre foram [sic] delimitados pela tratativa da ocupação de cargos públicos, em razão de pleitos de integrantes de nossa bancada, sendo leviana e politiqueira qualquer especulação de favorecimento financeiro a deputados do PMDB".
Sobre o fato de ter ido ao Banco Rural em Brasília -local onde o "mensalão" era distribuído, segundo Roberto Jefferson (PTB-RJ)- Borba afirma ser "possível" ter estado na agência, mas para "atender pagamento [sic] ou efetuar operação bancária de natureza particular". Ele diz que freqüentava o prédio também para fazer "exames laboratoriais".
Um dos objetivos da nota de Borba era atacar a ala oposicionista da legenda, liderada por Temer e pelo ex-governador Anthony Garotinho (RJ), que se movimentavam para tirá-lo do posto.
"Um dos poucos sucessos nas tratativas com o mesmo grupo [PT e Valério] foi para a presidência dos Correios, por indicação do deputado Michel Temer", diz a nota, se referindo a João Henrique, exonerado após a crise.


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