São Paulo, quarta-feira, 06 de julho de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ PT X PT

Tesoureiro, responsável por empréstimo avalizado por Marcos Valério, segue decisão de Silvio Pereira; Genoino ainda resiste

Delúbio cede a pressões e se afasta do PT

FÁBIO ZANINI
EM SÃO PAULO

Apontado como cabeça do suposto "mensalão", Delúbio Soares pediu ontem afastamento da tesouraria do PT, tornando-se o segundo integrante da cúpula partidária a cair em dois dias.
Anteontem, o secretário-geral petista, Silvio Pereira, colocou o cargo à disposição. O foco agora recai sobre o presidente do PT, José Genoino, que apesar de hesitante, ainda tenta se manter no cargo e sobreviver à reunião do diretório nacional do fim de semana, que pode destituí-lo.
Delúbio fez um discurso emocionado, mas sem lágrimas, para comunicar à Executiva que finalmente cedia às pressões, um mês após ter sido citado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ).
Em dez minutos, tentou explicar o empréstimo de R$ 2,4 milhões avalizado pelo publicitário Marcos Valério Fernandes.
Disse que foi Valério quem intermediou o empréstimo com o banco mineiro BMG, assinado em fevereiro de 2003, o que teria justificado sua posição de "avalista".
"O PT precisava de um empréstimo e fui ao Valério. Ele me levou à diretoria do BMG, que conhecia por ter negócios com eles. Quando o empréstimo saiu, coloquei ele como avalista", afirmou, segundo participantes.
Em sua carta de demissão, Delúbio negou-se a admitir erros no processo que levou à maior crise da história do PT. "Não temo. Tenho a plena consciência de nunca haver transgredido os princípios éticos da prática política. Prova eloqüente disso é meu reduzido patrimônio", diz a nota.
O ex-tesoureiro também disponibilizou, pela segunda vez, seu sigilo fiscal, telefônico e bancário.
Aos 21 integrantes da Executiva, ele admitiu um único equívoco: não ter descrito o empréstimo de forma detalhada a Genoino. O presidente do PT é avalista do financiamento.
"Levei ao Genoino muitos documentos naquele dia e não o informei completamente sobre o que ele estava assinando. Induzi o companheiro a erro, e isso me leva a renunciar", afirmou.
Em nenhum momento, Delúbio disse que se arrependia da operação, na qual Valério chegou a pagar parcela de R$ 350 mil.
A queda de Delúbio era reivindicada há quase um mês por correntes minoritárias. "Delúbio deveria ter saído antes. Os envolvidos, para demonstrar isenção e se defender melhor, precisam se afastar", disse Plínio de Arruda Sampaio, candidato a presidente do PT por um bloco de esquerda.
Uma proposta conjunta de 18 deputados federais da "esquerda petista" foi divulgada para cobrar "a recomposição da Executiva, sem a presença de todos os dirigentes acusados", mas acabou derrotada pela ala moderada.
Delúbio e Sílvio fazem parte dentro do partido da "turma do Zé", numa referência ao ex-ministro da Casa Civil José Dirceu.
O único que resta do grupo agora na Executiva é Marcelo Sereno, secretário de Comunicação, também citado por Jefferson como sabendo do "mensalão". Ontem ele descartou a renúncia.


Texto Anterior: Bolsonaro ironiza choro de Genoino
Próximo Texto: Perfil: Tesoureiro é amigo de Lula e Dirceu
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.