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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ PT X PT
Tesoureiro, responsável por empréstimo avalizado por Marcos Valério, segue decisão de Silvio Pereira; Genoino ainda resiste
Delúbio cede a pressões e se afasta do PT
FÁBIO ZANINI
EM SÃO PAULO
Apontado como cabeça do suposto "mensalão", Delúbio Soares pediu ontem afastamento da
tesouraria do PT, tornando-se o
segundo integrante da cúpula
partidária a cair em dois dias.
Anteontem, o secretário-geral
petista, Silvio Pereira, colocou o
cargo à disposição. O foco agora
recai sobre o presidente do PT, José Genoino, que apesar de hesitante, ainda tenta se manter no
cargo e sobreviver à reunião do
diretório nacional do fim de semana, que pode destituí-lo.
Delúbio fez um discurso emocionado, mas sem lágrimas, para
comunicar à Executiva que finalmente cedia às pressões, um mês
após ter sido citado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ).
Em dez minutos, tentou explicar o empréstimo de R$ 2,4 milhões avalizado pelo publicitário
Marcos Valério Fernandes.
Disse que foi Valério quem intermediou o empréstimo com o
banco mineiro BMG, assinado em
fevereiro de 2003, o que teria justificado sua posição de "avalista".
"O PT precisava de um empréstimo e fui ao Valério. Ele me levou
à diretoria do BMG, que conhecia
por ter negócios com eles. Quando o empréstimo saiu, coloquei
ele como avalista", afirmou, segundo participantes.
Em sua carta de demissão, Delúbio negou-se a admitir erros no
processo que levou à maior crise
da história do PT. "Não temo. Tenho a plena consciência de nunca
haver transgredido os princípios
éticos da prática política. Prova
eloqüente disso é meu reduzido
patrimônio", diz a nota.
O ex-tesoureiro também disponibilizou, pela segunda vez, seu sigilo fiscal, telefônico e bancário.
Aos 21 integrantes da Executiva,
ele admitiu um único equívoco:
não ter descrito o empréstimo de
forma detalhada a Genoino. O
presidente do PT é avalista do financiamento.
"Levei ao Genoino muitos documentos naquele dia e não o informei completamente sobre o
que ele estava assinando. Induzi o
companheiro a erro, e isso me leva a renunciar", afirmou.
Em nenhum momento, Delúbio disse que se arrependia da
operação, na qual Valério chegou
a pagar parcela de R$ 350 mil.
A queda de Delúbio era reivindicada há quase um mês por correntes minoritárias. "Delúbio deveria ter saído antes. Os envolvidos, para demonstrar isenção e se
defender melhor, precisam se
afastar", disse Plínio de Arruda
Sampaio, candidato a presidente
do PT por um bloco de esquerda.
Uma proposta conjunta de 18
deputados federais da "esquerda
petista" foi divulgada para cobrar
"a recomposição da Executiva,
sem a presença de todos os dirigentes acusados", mas acabou
derrotada pela ala moderada.
Delúbio e Sílvio fazem parte
dentro do partido da "turma do
Zé", numa referência ao ex-ministro da Casa Civil José Dirceu.
O único que resta do grupo agora na Executiva é Marcelo Sereno,
secretário de Comunicação, também citado por Jefferson como
sabendo do "mensalão". Ontem
ele descartou a renúncia.
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