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ELIO GASPARI
De MarioCovas@edu
para FHC@psdb.org
Caro Fernando,
Você deve saber. Só se fala na necessidade de um encontro teu com o Lula, prenúncio de
uma aliança do PSDB com o PT.
A iniciativa garantiria a governabilidade, isolaria o atraso e
permitiria ao país ir adiante. É
coisa do Tinhoso. Resultará no
desrespeito aos nossos eleitores e
transferirá para nossas costas a
paralisia administrativa do governo. Tome distância do aparelho petista. Se arruinaram o
Lula, imagine o que farão aos
outros.
Lembra-se da última vez que
nos pediram para socorrer um
governo moralmente danificado? O Fernando Collor te chamou ao palácio e ofereceu o Itamaraty. Foi em abril de 1992.
Felizmente recusamos a aliança. Eu tive um papel nessa história, mas a esta altura da eternidade não disputo rodapé de biografia. Nunca precisei de aliança para exercer e impor meu padrão de moralidade.
Conte a esses rapazes que querem ir à Granja do Torto o que
teria acontecido a você e ao Tasso Jereissati se o PSDB fosse
atrás do Collor, como queria o
Ciro Gomes. Tucano seria uma
espécie extinta. Uma preliminar: daqui de onde estou sei perfeitamente quais são as semelhanças e as diferenças entre
Collor e Lula. Infelizmente, não
posso me alongar neste assunto.
Em 1997 o Lula disse, durante
um jantar, que "o meu sonho é
fazer um entendimento com o
Mário Covas". Talvez fosse o
meu também. Mesmo assim, se
até hoje Lula não veio a público
dizer que não sabia de nada,
por que um tucano haverá de
dizer que ele de nada sabia?
Domingo passado eu e o Capablanca passamos pelo Fest
Rock de Belém. Esse cubano genial tornou-se meu parceiro de
xadrez. Professor, para ser mais
preciso. Enquanto "Capa" andou por aí, até 1942, ensinou
que os desfechos das partidas
devem ser tão estudados quanto
as aberturas. O desfecho de uma
aliança costurada no Torto será
o contágio dos tucanos. Matematicamente, as coisas ficarão
assim: PT = PSDB, portanto, PT
+ PSDB = PT + PT, ou PSDB +
PSDB.
Ouça o que nós ouvimos do
Samuel Rosa, da banda Skank:
"Todos só estão atrás do dinheiro. O negócio é saber quem vai
meter primeiro a mão na grana".
E do Biquíni Cavadão: "Eu
sou do povo, eu sou um Zé ninguém. Aqui embaixo as leis são
diferentes".
O Brasil já precisou de um
choque de capitalismo. Hoje ele
precisa de um choque moral.
Não será fazendo acertos no
Torto que devolveremos a esperança aos brasileiros.
Os tucanos devem estender a
Lula a mão do entendimento. O
lugar para se fazer isso é o plenário do Congresso Nacional,
diante das vistas do pessoal que
mora "aqui embaixo". Uma
aliança PT-PSDB deverá ser pública, transparente e pontual.
Como os amores de Vinicius de
Moraes, será "eterna enquanto
dure". Se o PT tiver agenda, haverá o que apoiar.
Se essa aliança funcionar no
plenário do Congresso, ela será
ética e benfazeja. Se precisar
passar pelo Torto, sabemos como acabará. Na melhor das hipóteses você receberá de Lula
um cheque em branco, como o
que ele passou ao Roberto Jefferson.
Cheguei a pensar em jogar fora esta mensagem. O Montoro,
que está aqui comigo, achou-a
muito dura com o PT. Ele concorda com a aliança de plenário, feita no chão do Congresso.
Discorda do tom. Você conhece
essa doce alma que é o Montoro
e conhece a mim. Não tenho outro tom.
Recomende-me a d. Ruth e fique com um abraço,
Mário.
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