São Paulo, quarta-feira, 06 de julho de 2005

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ELIO GASPARI

De MarioCovas@edu para FHC@psdb.org

Caro Fernando,
Você deve saber. Só se fala na necessidade de um encontro teu com o Lula, prenúncio de uma aliança do PSDB com o PT. A iniciativa garantiria a governabilidade, isolaria o atraso e permitiria ao país ir adiante. É coisa do Tinhoso. Resultará no desrespeito aos nossos eleitores e transferirá para nossas costas a paralisia administrativa do governo. Tome distância do aparelho petista. Se arruinaram o Lula, imagine o que farão aos outros.
Lembra-se da última vez que nos pediram para socorrer um governo moralmente danificado? O Fernando Collor te chamou ao palácio e ofereceu o Itamaraty. Foi em abril de 1992. Felizmente recusamos a aliança. Eu tive um papel nessa história, mas a esta altura da eternidade não disputo rodapé de biografia. Nunca precisei de aliança para exercer e impor meu padrão de moralidade.
Conte a esses rapazes que querem ir à Granja do Torto o que teria acontecido a você e ao Tasso Jereissati se o PSDB fosse atrás do Collor, como queria o Ciro Gomes. Tucano seria uma espécie extinta. Uma preliminar: daqui de onde estou sei perfeitamente quais são as semelhanças e as diferenças entre Collor e Lula. Infelizmente, não posso me alongar neste assunto. Em 1997 o Lula disse, durante um jantar, que "o meu sonho é fazer um entendimento com o Mário Covas". Talvez fosse o meu também. Mesmo assim, se até hoje Lula não veio a público dizer que não sabia de nada, por que um tucano haverá de dizer que ele de nada sabia?
Domingo passado eu e o Capablanca passamos pelo Fest Rock de Belém. Esse cubano genial tornou-se meu parceiro de xadrez. Professor, para ser mais preciso. Enquanto "Capa" andou por aí, até 1942, ensinou que os desfechos das partidas devem ser tão estudados quanto as aberturas. O desfecho de uma aliança costurada no Torto será o contágio dos tucanos. Matematicamente, as coisas ficarão assim: PT = PSDB, portanto, PT + PSDB = PT + PT, ou PSDB + PSDB.
Ouça o que nós ouvimos do Samuel Rosa, da banda Skank: "Todos só estão atrás do dinheiro. O negócio é saber quem vai meter primeiro a mão na grana".
E do Biquíni Cavadão: "Eu sou do povo, eu sou um Zé ninguém. Aqui embaixo as leis são diferentes".
O Brasil já precisou de um choque de capitalismo. Hoje ele precisa de um choque moral. Não será fazendo acertos no Torto que devolveremos a esperança aos brasileiros.
Os tucanos devem estender a Lula a mão do entendimento. O lugar para se fazer isso é o plenário do Congresso Nacional, diante das vistas do pessoal que mora "aqui embaixo". Uma aliança PT-PSDB deverá ser pública, transparente e pontual. Como os amores de Vinicius de Moraes, será "eterna enquanto dure". Se o PT tiver agenda, haverá o que apoiar.
Se essa aliança funcionar no plenário do Congresso, ela será ética e benfazeja. Se precisar passar pelo Torto, sabemos como acabará. Na melhor das hipóteses você receberá de Lula um cheque em branco, como o que ele passou ao Roberto Jefferson.
Cheguei a pensar em jogar fora esta mensagem. O Montoro, que está aqui comigo, achou-a muito dura com o PT. Ele concorda com a aliança de plenário, feita no chão do Congresso. Discorda do tom. Você conhece essa doce alma que é o Montoro e conhece a mim. Não tenho outro tom.
Recomende-me a d. Ruth e fique com um abraço,
Mário.


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