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PSDB SOB SUSPEITA
Em fita, Paschoal Thomeu cita suposto favorecimento de Alckmin; ontem, disse que tentou evitar assédio do PFL
Deputado diz que trocou voto por "ajuda"
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma fita gravada a que a reportagem da Folha teve acesso reproduz diálogo telefônico entre o deputado estadual Romeu Tuma Jr.
(PMDB-SP) e o também deputado Paschoal Thomeu (PTB-SP).
Na conversa, ocorrida às vésperas
da eleição do novo presidente da
Assembléia Legislativa paulista,
em 15 de março deste ano, Tuma
Jr. tenta conquistar o voto de Thomeu para o candidato Rodrigo
Garcia, do PFL, que disputava o
posto com o deputado Edson
Aparecido, do PSDB e preferido
do governador Geraldo Alckmin.
Thomeu, gravado, descarta o
voto em Garcia e afirma que votará em Edson Aparecido. Alega
que o governador Geraldo Alckmin prometeu-lhe ajuda:
Thomeu diz que suas "seis firmas" estão "em situação muito
difícil";
Que está vendendo "umas terras pra CDHU", a Companhia de
Desenvolvimento Habitacional e
Urbano, empresa do governo estadual, vinculada à Secretaria da
Habitação;
Que não pode "cuspir no prato"
em que come;
Que o governador em pessoa, e
não um intermediário, prometeu-lhe ajuda. (leia no quadro ao lado
os principais trechos da gravação)
Questionado ontem sobre a
conversa, Thomeu confirmou-a e
lembrou-se de frases inteiras. Disse, contudo, que estava apenas
tentando se livrar do assédio dos
aliados de Rodrigo Garcia, como
o deputado Romeu Tuma Jr. (leia
texto nesta página).
O deputado Romeu Tuma Jr.
recusou-se a comentar o conteúdo da gravação. Eleito em maio
corregedor parlamentar na Assembléia, Tuma Jr. disse que só
falará sobre o assunto depois da
publicação da reportagem. E encerrou a conversa: "Não esqueça
de dizer que nessa história toda eu
fui vítima. Eu fui o grampeado."
CPIs na gaveta
No dia 15 de março, como antecipava a conversa entre os dois
deputados, Thomeu votou em
Edson Aparecido. Tuma Jr. cravou Rodrigo Garcia. No placar geral, o dissidente Garcia foi eleito
presidente por 48 votos a 46, ou
50% mais um dos votos da casa.
A disputa pela presidência da
Assembléia Legislativa do Estado
de São Paulo foi renhida. O PSDB
presidia o Legislativo paulista
desde 1995, quando Mario Covas
(1930-2001) foi eleito governador
pela primeira vez.
Na conversa gravada, Tuma Jr.
tentou convencer Paschoal Thomeu a votar em Rodrigo Garcia,
alegando: "A gente vai criar uma
independência."
O mote da "independência" explica-se. Até o dia da eleição do
presidente da Assembléia, havia
48 pedidos de constituição de comissões parlamentares de inquérito parados na Assembléia.
Hoje, já são 57 os pedidos de
CPIs. A metade delas destina-se a
apurar ações do Executivo. Mas as
investigações não prosperam. A
última CPI instalou-se na casa em
junho de 2001.
Com a eleição de Garcia, partidos como PT, PMDB, PC do B,
que se opõem a Alckmin, esperavam contar com uma ajuda extra
para levar adiante essas CPIs.
O entusiasmo petista com a derrota de Edson Aparecido ficou
claro pelas reações que se seguiram. Logo depois da votação, os
deputados petistas fizeram uma
confraternização para celebrar a
derrota do governador, e o presidente nacional do PT, José Genoino, chegou a telefonar para o líder
de seu partido na Assembléia Legislativa, Cândido Vaccarezza,
cumprimentando-o pela derrota
tucana.
"Situação difícil"
A "situação difícil" mencionada
pelo deputado Paschoal Thomeu
na conversa gravada é de conhecimento geral na Assembléia. Roseli Thomeu, filha do deputado, não
faz segredo da situação financeira
da família: "Nossas empresas estão deficitárias. Já foram 30 empresas, com 3.400 funcionários.
Hoje, são só três empresas e uma
marca, e 180 funcionários. Meu
pai mora em um apartamento
alugado, por causa das dívidas
com bancos."
Roseli Thomeu disse que a família tem seis grandes áreas na região de Guarulhos, "e as seis estão
à venda". Também confirma que
a área de 753.580 metros quadrados que constitui o "Sítio do Vovô", de posse da família Thomeu
há 40 anos, está sendo negociada.
A propriedade é avaliada em R$
30 milhões e fica no bairro de
Bonsucesso, na periferia de Guarulhos.
Roseli, entretanto, afirma que o
"Sítio do Vovô" deve ser vendido
para um grupo particular, que
pretende loteá-lo. Diz já ter formalizada a oferta, e que a opção
para negociação assinada entre a
família Thomeu e o grupo está em
vigor, tendo vencido em 29 de junho, com prorrogação por mais
30 dias. Não há garantia da consumação da venda.
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