São Paulo, domingo, 06 de julho de 2008

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Elio Gaspari

A volta da 4ª Frota é um ato arrogante


O poderio naval americano já se meteu quatro vezes na vida brasileira, em 1864, 1893, 1941 e 1964

SEM CONSULTA aos demais países, o presidente George Bush recriou a Quarta Frota da Marinha dos Estados Unidos, que deverá proteger seus interesses nas águas da América Latina e do Caribe. A medida recebeu o apoio da equipe do candidato Barack Obama. Má notícia para a turma do andar de baixo.
Um levantamento do professor John Coatsworth, da Universidade Columbia, ensina que, entre 1898 e 1994, os Estados Unidos ajudaram a derrubar 41 governos latino-americanos. Um a cada 28 meses. As intervenções militares diretas foram 17 e nessa conta não entraram a fracassada invasão de Cuba, de 1961, e a deposição do presidente haitiano Jean-Bertrand Aristide, em 1984.
No Brasil faz-se de conta que a frota só ameaça os outros. Falso. A primeira intervenção americana ocorreu em 1864, com o seqüestro de um vapor confederado no porto de Salvador. Estão documentadas outras três.
A maior de todas, durante a Segunda Guerra Mundial, ficou no papel. Segundo a primeira versão do "Plano do Teatro de Operações do Nordeste do Brasil", de 1º de novembro de 1941 (um mês antes do ataque japonês a Pearl Harbour), os Estados Unidos desembarcariam até 100 mil soldados num arco que iria de Belém a Salvador. A cabeça de ponte da invasão ficaria em Natal. Getúlio Vargas entendeu que não lhe restava outro caminho e cedeu aos americanos o acesso ao Saliente Nordestino.
A frota americana meteu-se na vida nacional em duas outras ocasiões. A primeira, em 1893, contribuiu para o fim da Revolta da Armada e a convocação de eleições por Floriano Peixoto. Os Estados Unidos concentraram na Baía da Guanabara cinco cruzadores, equivalentes a um terço da tonelagem da Marinha americana. Esse foi o primeiro grande lance de imperialismo naval da história dos Estados Unidos. A história segundo a qual Floriano disse que receberia "à bala" uma ajuda internacional pode ter sido patriótica lorota. O caso está contado no livro "Trade and Gunboats" (Comércio e Canhoneiras), do historiador Steven Topik.
Em 1964, quando a Quarta Frota estava desativada, os Estados Unidos planejaram outra intervenção. Chamou-se Operação Brother Sam e era formada por um porta-aviões e seis contra-torpedeiros. Destinava-se a mostrar que a Casa Branca estava do lado da revolta contra o presidente João Goulart. O espetáculo militar foi desnecessário e os barcos deram meia-volta.

COMEÇOU A BOCA-LIVRE COM A INFLAÇÃO

O Conselho Monetário Nacional manteve a Taxa de Juros de Longo Prazo do BNDES em 6,25% ao ano. Metade do que a patuléia terá que pagar pela Selic do Banco Central. Com essa medida, os sábios da ekipekonômica reinjetaram um vírus na patologia da incipiente inflação do real. Criaram o sujeito que ganha com ela. A 6,25%, o BNDES cobra juros inferiores à taxa de inflação prevista para o ano, 6,3%.
A inflação prejudica as famílias porque as mercadorias ficam mais caras e os investimentos perdem para a desvalorização da moeda. Dói, mas é o jogo jogado.
Esse mesmo jogo fica trapaceado quando alguém entra nele sem chance de perder. Na hora em que o CMN mantém em 6,25% seus juros camaradas, os clientes da TJLP passam a ganhar para dever.
Por enquanto a trapaça é pontual e o benefício é pequeno, mas ninguém deve subestimar a audácia do governo, do BNDES e do empresariado que freqüenta esse circuito. Já houve época em que, em nome de um grande projeto industrial, o banco emprestava a uma taxa prefixada de 20%, com uma inflação de 35%. Muita gente boa botou o dinheiro no papelório e o progresso ficou para depois.

ECO
Num fim de semana da primeira quinzena de junho, Lula e o comissário José Dirceu tiveram uma conversa.
No último fim de semana de junho, saiu a entrevista de Gilberto Carvalho ao repórter Otávio Cabral. Nela, o chefe-de-gabinete de Nosso Guia, pessoa de sua estrita confiança, disse o seguinte:
"José Dirceu e Lula não são tão íntimos assim, nunca tiveram relação de amizade".

ALARME
É enorme o nervosismo na Câmara dos Deputados. Há 200 administrações municipais sendo investigadas pela Polícia Federal e pelo Ministério Público. Já foram encontradas dezenas de conexões com parlamentares. Pelo ronco da manada e pela estridência com que ela reclama, pode-se estar diante de roubalheiras capazes de transformar o episódio dos Anões do Orçamento em crônica de trombadinhas. Em 1994, deputados julgaram deputados, agora, policiais caçam delinqüentes. Antes, havia depoimentos, agora, há gravações.

SIGILO PRESERVADO
Já há maganos que desistiram de proteger os discos de seus computadores com senhas e softwares que criptografam documentos. Como não há programa invulnerável, abandonaram o disco da máquina e usam sempre um disco externo, portátil, que pode ser guardado longe do computador. Pode-se buscar a paz de espírito com um pendrive de 2 Gigabytes, no qual cabem todas as emendas ao Orçamento, ou um iPod de 160, capaz de armazenar uma prateleira de livros com 1,5 km de extensão.
Esse recurso não protege o sigilo de mensagens eletrônicas. Serve apenas para impedir que levem o disco do computador do interessado.

Madame Natasha
Madame Natasha passou o sábado estudando o "Documento de Direcionamento Estratégico do Ipea 2008-2010". Ela concluiu que os doutores precisam contratar um serviço de limpeza do idioma, daqueles que raspam o blablablá dos textos oficiais. Entre as grandes linhas para as pesquisas do instituto, o comissariado incluiu as seguintes:
1) "Macroeconomia do pleno emprego".
2) "Inserção Internacional Soberana".
3) "Finanças industrializantes".
Natasha acredita que, nessa linha, em breve o Ipea trocará de nome. Passará a se chamar Comissariado de Ótimas Pesquisas para a Boa Economia Aplicada aos Interesses de sua Excelsa Diretoria.

COZINHA
Recomeçaram as tentativas de fritura do ministro Guido Mantega.

EREMILDO, O IDIOTA
Eremildo é um idiota e soube que o ministro da Defesa, Nelson Jobim, trabalha com a possibilidade de dar uma pensão de um salário mínimo às famílias dos três jovens chacinados depois que uma tropa do Exército os entregou a bandidos do morro da Mineira.
Tudo bem. O cretino não entende porque a vida de um cidadão vale R$ 480 mensais e a Bolsa Ditadura de Lula custa algo em torno de R$ 4.800.
O idiota concluiu que morrer na democracia vale dez vezes menos do que gramar 31 dias de cadeia na ditadura.
Eremildo vai a Brasília para mostrar a Jobim uma tabelinha de Bolsas Ditadura distribuídas pelo governo nos últimos anos. O cretino tem certeza de que o ministro será capaz de demonstrar que Vinicius de Moraes havia bebido quando cantou que "o morro não tem vez".


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