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COMUNICAÇÃO
Afiliadas da Rede Globo lideram ranking de ligações com políticos, seguidas pelas do SBT e da Bandeirantes
Políticos controlam 24% das TVs do país
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
Levantamento exclusivo feito
pela Folha mostra que pelo menos 59 emissoras de televisão
-24% das 250 concessões de TV
comercial existentes- pertencem a políticos. Dentro de dois
meses, o número subirá para 60,
com a inauguração da TV do senador Gilvam Borges (PMDB-AP), em Macapá.
Esses números referem-se a empresas que têm concessão do governo para gerar programação e
não incluem as milhares de retransmissoras que funcionam
com licenças precárias e apenas
repetem o sinal das geradoras
nem as TVs educativas.
A Rede Globo tem 21 afiliadas ligadas a políticos, contra 17 do
SBT e 9 da Bandeirantes. Entre os
políticos ligados comercialmente
à Globo, estão os ex-presidentes
da República José Sarney e Fernando Collor de Mello e três governadores: Roseana Sarney
(PFL-MA), Garibaldi Alves Filho
(PMDB-RN) e o tucano Albano
Franco, de Sergipe.
Entre os afiliados da Rede Globo encontram-se ainda o senador
Antônio Carlos Magalhães Júnior
(PFL-BA), o ex-senador João Calisto Lobo (PMDB-PI), oito deputados federais e um estadual.
No SBT, estão o governador do
Ceará, Tasso Jereissati (PSDB), e o
presidente interino do Senado,
Edison Lobão (PFL-MA). Na lista
da Bandeirantes figuram três senadores -entre eles, o presidente
licenciado do Senado, Jader Barbalho (PMDB-PA), e o vice-governador de Alagoas, Geraldo
Sampaio, do PDT.
Crise em Alagoas
Uma emissora de televisão na
mão de políticos pode ser uma arma tanto para promover aliados
quanto para atacar adversários.
De janeiro a abril deste ano, o
governador de Alagoas, Ronaldo
Lessa (PSB), esteve em guerra
contra a TV Gazeta, afiliada da
Globo pertencente à família Collor de Mello, que o acusou de tramar o assassinato do coronel Cavalcante. O militar cumpre pena
em Maceió pela morte de um irmão do governador, em 1991.
""Era uma acusação sem nenhum fundamento, apenas porque Collor e eu somos adversários
históricos. Fui para ofensiva. Suspendi entrevistas e publicidade
oficial para as Organizações Arnon de Mello", diz o governador.
Ele conta que gravou em vídeo
as imagens veiculadas pela TV e
que entregou a fita ao ex-diretor
de Jornalismo da Rede Globo,
Evandro Carlos de Andrade. A
emissora passou a enviar jornalistas de Recife para cobrir os eventos importantes de Alagoas.
Segundo Ronaldo Lessa, a guerra acabou em abril, quando a TV
Gazeta noticiou que as acusações
não procediam. No dia 9 de julho,
o ex-diretor de jornalismo da Gazeta, Célio Gomes, foi substituído
pelo então coordenador do núcleo de rede da Globo no Paraná,
Clésio Oliveira. A Globo nega que
tenha feito intervenção na afiliada, mas admite ter sugerido Clésio para o cargo. A TV Gazeta não
comentou o episódio.
Mais recentemente, em maio, a
Globo teve problemas na Bahia.
Sua afiliada local, a TV Bahia, da
família de Antonio Carlos Magalhães, não cobriu as manifestações em Salvador pela cassação de
ACM. A Globo usou imagens feitas por um sindicato no noticiário
nacional, mas -pelo menos para
efeito externo- justificou a conduta da afiliada dizendo que ela
subestimou os protestos.
Coronelismo
A forte influência política na radiodifusão é uma herança dos governos anteriores que Fernando
Henrique Cardoso não conseguiu
modificar. "O coronelismo eletrônico é uma face do atraso brasileiro. Mostra a nossa carência de cidadania e fragilidade partidária",
diz o diretor da Faculdade de Comunicação da Universidade Nacional de Brasília, Murilo Ramos.
Ramos lembra que FHC, ao
anunciar Sérgio Motta para ministro das Comunicações, em
1995, prometeu explicitamente
mudar esse quadro. "Não mudou.
Pelo contrário, consolidou o poder político no setor."
A família Sarney tem o maior
império de comunicação do Maranhão, Estado em que controla
quatro emissoras de TV afiliadas
da Globo: as TVs Mirante das cidades de São Luís, Imperatriz,
Santa Inês e Codó.
No Rio Grande do Norte, as
quatro emissoras comerciais de
televisão existentes pertencem a
políticos, de acordo com o ex-ministro Aluísio Alves, tio do governador Garibaldi Alves e um dos
acionistas da TV Cabugi, afiliada
da Globo.
Aluísio Alves conseguiu a concessão da TV Cabugi quando foi
ministro da Administração no
governo Sarney. Foram agraciados, na mesma ocasião, os senadores Agripino Maia (PFL) e Geraldo Melo (PSDB).
Além da TV, a família Alves é
dona de rádios e do jornal "Tribuna do Norte", de Natal.
O ex-ministro diz que a TV não
lhe dá dividendos políticos. "O
contrato com a Globo não permite fazer política com a emissora,
mas meus adversários usam as
deles. Só tenho liberdade de fazer
política no jornal e nas rádios."
SBT
Entre os políticos vinculados
comercialmente ao SBT, além de
Tasso Jereissati e Edison Lobão,
estão o senador Mozarildo Cavalcanti (PFL-RR), Orestes Quércia
(ex-governador de São Paulo e
atual presidente do PMDB no Estado), o prefeito de Araçatuba
(SP), Jorge Maluly Neto (PFL), e o
ex-governador do Paraná Paulo
Pimentel. Constam também quatro deputados federais, entre eles,
o ex-governador da Bahia Nilo
Coelho (PSDB).
Maluly Neto e Sílvio Santos são
sócios da TV Araçá, de Araçatuba. O prefeito admite que ser proprietário de TV o beneficia politicamente. Em entrevista à Folha,
por telefone, ele travou o seguinte
diálogo:
Folha - De que maneira a TV o ajuda politicamente?
Maluly - Você pode mostrar sua
atuação. O fato de noticiar ajuda.
Folha - Há fatos relativos à sua
gestão que são divulgados em sua
TV e não saem nas emissoras concorrentes?
Maluly - Com certeza. Quando
há fatos proeminentes na cidade,
elas cobrem, mas nem sempre eu
apareço. A mesma notícia, na
nossa emissora, traz uma pontinha de declaração da gente.
Na avaliação de Maluly Neto, os
radiodifusores tem 50% a mais de
chances de se elegerem do que os
demais candidatos, o que explica
o interesse dos políticos pelas rádios e televisões.
Bandeirantes
A Bandeirantes é a rede de televisão com o maior número de senadores entre seus afiliados. Além
de Jader Barbalho, também estão
na lista os tucanos Geraldo Melo,
do Rio Grande do Norte, e Romero Jucá, de Roraima.
Ainda faz parte da listagem o
ex-senador e ex-governador do
Mato Grosso Júlio Campos. A
mulher dele, Isabel Campos, é diretora-executiva da TV Oeste, da
cidade de Cuiabá.
Campos é o único político que
figura no cadastro do Ministério
das Comunicações como titular
de emissora de televisão em Mato
Grosso, mas, na avaliação de Isabel, "quase 100% das rádios e televisões do Estado têm vínculos
com grupos políticos".
Ela diz que as emissoras que
apóiam o governo são favorecidas
na distribuição da verba publicitária e que a TV Oeste estaria sendo discriminada por pertencer a
Campos. "Nem sempre o vínculo
explícito com um político favorece a emissora", afirma.
Outras redes
Oficialmente, a Record tem apenas cinco afiliadas com políticos,
mas sua situação não é comparável às das demais redes. "A Record é um caso à parte. Ela está a
serviço de uma denominação religiosa, a Igreja Universal do Reino
de Deus, que tem seus representantes do Congresso", afirma o diretor da Faculdade de Comunicação da UNB.
A CNT, que tem quatro geradoras próprias de televisão, é a rede
com vínculo político mais explícito. Seu acionista controlador é o
presidente nacional do PTB e deputado federal pelo Paraná, José
Carlos Martinez.
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