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São Paulo, quarta-feira, 06 de agosto de 2003

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REFORMA SOB PRESSÃO

Presidente diz a reitores de universidades federais que diagnóstico de descontrole social é exagerado

Lula nega caos e adia crescimento para 2004

LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em audiência na qual planejavam discutir as "ameaças" da reforma da Previdência para o ensino superior público, os reitores das universidades federais acabaram desarmados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que destacou a importância deles no projeto de desenvolvimento e na retomada do crescimento, que datou para março de 2004.
Além disso, Lula disse aos reitores, segundo relatos após a reunião, que o diagnóstico de caos social é exagerado porque o governo federal considera as reivindicações dos movimentos "normais" e "esperadas".
O presidente teria sugerido que a invasão do terreno da Volkswagen em São Bernardo (SP) por cerca de 3.000 famílias de sem-teto seria um ato compreensível.
"Veja o exemplo do terreno em São Bernardo. O que se pode esperar em um local que não tem mais terreno para loteamentos populares? As pessoas até que têm muita paciência", disse Lula, segundo relato da reitora Margarida Salomão, da Universidade Federal de Juiz de Fora (MG).
Participaram da audiência de cerca de duas horas, promovida pelo ministro Cristovam Buarque (Educação), 51 membros da Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes de Instituições Federais de Ensino Superior).
Ao marcar a retomada do crescimento para março de 2004, o presidente apresentou aos reitores a necessidade prévia de aprovar reformas internas e de assegurar a credibilidade e estabilidade internacional. Para isso, seria necessário fortalecer laços com países da América Latina e África, além de Rússia, Índia e China.
"Estamos num processo de construção. Será um ano de ajustes até março do ano que vem", disse Lula, segundo o reitor da Universidade Federal de Alagoas, Rogerio Pinheiro.
Apesar do manifesto contra a reforma previdenciária e do que consideram uma situação grave e crítica nas universidades federais, os reitores deixaram o Planalto satisfeitos com a sugestão de Lula de incluir as propostas para expansão do ensino superior -duplicação de vagas na graduação e na pós-graduação em quatro anos- no Plano Plurianual.

Cobranças
O presidente também deixou claro que não poderá atender agora a cobranças por recursos, o que não impediu os reitores de comemorar a deferência recebida. Lula pediu que fossem "cúmplices" do desenvolvimento.
"Não há na história da humanidade nenhum país que conseguiu crescer e se desenvolver sem antes ter consolidado a sua base, que é a formação intelectual e profissional da sua gente", afirmou Lula, em discurso para prefeitos petistas após a audiência.
No manifesto da Andifes sobre a reforma previdenciária, os reitores classificam o projeto como uma ameaça à universidade pública e "seu elemento mais precioso: o saber e os recursos humanos que o constituem".
Para a entidade, a reforma acarretaria a chamada fuga de cérebros, ou seja, a perda da força de trabalho mais talentosa, devido à falta de atrativos de carreira.
Porém, segundo relatos, Lula não citou a palavra greve nem falou diretamente da reforma previdenciária. Em pelo menos 32 instituições federais, os sindicatos de docentes já aprovaram indicativo de paralisação, de acordo com a Andes (sindicato dos docentes das federais).


Colaboraram WILSON SILVEIRA e LUCIANA CONSTANTINO, da Sucursal de Brasília


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