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São Paulo, quarta-feira, 06 de agosto de 2003

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TENSÃO SOCIAL

"Não precisaremos pegar em armas para enfrentar o latifúndio", afirma João Paulo Rodrigues em Brasília

MST diz que fará reforma agrária "no tapa"

GABRIELA ATHIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) informou ontem, durante um seminário em Brasília, que a reforma agrária será feita no "tapa" e que a estratégia do movimento é aumentar para 1 milhão o número de famílias acampadas no país. Hoje seriam 110 mil.
"Se conseguirmos colocar um milhão de famílias acampadas na beira das estradas não precisaremos pegar em armas para enfrentar o latifúndio. Não precisaremos fazer nada. Nós enfrentaremos eles [os proprietários] a tapa. Tiraremos eles das fazendas sem que haja necessidade de grandes explicações", afirmou João Paulo Rodrigues, membro da coordenação nacional do MST.
O discurso de Rodrigues foi feito em evento promovido pelo Conselho Indigenista Missionário (ligado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e pelo Fórum Nacional pela Reforma Agrária e Justiça no Campo.
Em um momento em que a tensão no campo está acirrada em razão das recentes invasões e que fazendeiros reforçaram milícias para proteger sua propriedade, a declaração do coordenador pode agravar a tensão.
No mês passado, João Pedro Stedile, uma das principais lideranças do MST, durante discurso no Rio Grande do Sul, teria conclamado os 23 milhões de pessoas da luta camponesa para acabar com os 27 mil fazendeiros do país.

110 mil famílias
Rodrigues informou que há 15 dias havia 90 mil famílias acampadas. Ontem esse número já estava em 110 mil, um crescimento de 22,2%, segundo ele. Neste ano, segundo a Comissão Pastoral da Terra, 25 pessoas foram assassinadas em conflitos agrários.
A coordenação do MST, informou Rodrigues, decidiu não participar do governo federal e negou que o movimento tenha recebido cargos no Incra (Instituto Nacional de Reforma Agrária): "O mais próximo do MST no governo é Luiz Inácio Lula da Silva".
Segundo Rodrigues, a cúpula do MST definiu sua forma de colaborar com o Planalto: "Temos de organizar os pobres no campo para o presidente Lula fazer as mudanças necessárias".

Mobilização
Para Rodrigues, esse esforço de mobilização se faz necessário uma vez que, segundo ele, essa gestão "ainda não é do PT", mas uma coalizão feita para ganhar as eleições e obter apoio no Congresso. "É um governo dúbio."
Como exemplos citou os ministros Roberto Rodrigues (Agricultura) como "representante do patronato" e Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário) e Agnelo Queiroz (Esportes) como pessoas ligadas à esquerda.
Manoel José dos Santos, presidente da Contag (Confederação Nacional de Trabalhadores na Agricultura), ressaltou que, além de fazer ocupações, os movimentos rurais precisam encontrar uma forma de assegurar recursos para a reforma agrária.
Cerca de uma hora e meia depois de dizer que a reforma agrária seria feita "no tapa", João Paulo Rodrigues disse que havia usado apenas "uma figura de linguagem".
"Estamos no olho do furacão", declarou o procurador-geral da República, Cláudio Fonteles, na abertura do seminário. Em 9 de julho, ele afirmou que a invasão de terras improdutivas, se fosse realizada de forma pacífica, constituía uma prática legal. Ontem, porém, ele pediu "diálogo" aos movimentos sociais: "Precisamos de paz", disse aos jornalistas.


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