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TENSÃO SOCIAL
"Não precisaremos pegar em armas para enfrentar o latifúndio", afirma João Paulo Rodrigues em Brasília
MST diz que fará reforma agrária "no tapa"
GABRIELA ATHIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) informou ontem, durante um seminário em Brasília, que a reforma
agrária será feita no "tapa" e que a
estratégia do movimento é aumentar para 1 milhão o número
de famílias acampadas no país.
Hoje seriam 110 mil.
"Se conseguirmos colocar um
milhão de famílias acampadas na
beira das estradas não precisaremos pegar em armas para enfrentar o latifúndio. Não precisaremos fazer nada. Nós enfrentaremos eles [os proprietários] a tapa.
Tiraremos eles das fazendas sem
que haja necessidade de grandes
explicações", afirmou João Paulo
Rodrigues, membro da coordenação nacional do MST.
O discurso de Rodrigues foi feito em evento promovido pelo
Conselho Indigenista Missionário
(ligado à Conferência Nacional
dos Bispos do Brasil) e pelo Fórum Nacional pela Reforma
Agrária e Justiça no Campo.
Em um momento em que a tensão no campo está acirrada em razão das recentes invasões e que fazendeiros reforçaram milícias para proteger sua propriedade, a declaração do coordenador pode
agravar a tensão.
No mês passado, João Pedro
Stedile, uma das principais lideranças do MST, durante discurso
no Rio Grande do Sul, teria conclamado os 23 milhões de pessoas
da luta camponesa para acabar
com os 27 mil fazendeiros do país.
110 mil famílias
Rodrigues informou que há 15
dias havia 90 mil famílias acampadas. Ontem esse número já estava em 110 mil, um crescimento
de 22,2%, segundo ele. Neste ano,
segundo a Comissão Pastoral da
Terra, 25 pessoas foram assassinadas em conflitos agrários.
A coordenação do MST, informou Rodrigues, decidiu não participar do governo federal e negou
que o movimento tenha recebido
cargos no Incra (Instituto Nacional de Reforma Agrária): "O mais
próximo do MST no governo é
Luiz Inácio Lula da Silva".
Segundo Rodrigues, a cúpula do
MST definiu sua forma de colaborar com o Planalto: "Temos de organizar os pobres no campo para
o presidente Lula fazer as mudanças necessárias".
Mobilização
Para Rodrigues, esse esforço de
mobilização se faz necessário
uma vez que, segundo ele, essa
gestão "ainda não é do PT", mas
uma coalizão feita para ganhar as
eleições e obter apoio no Congresso. "É um governo dúbio."
Como exemplos citou os ministros Roberto Rodrigues (Agricultura) como "representante do patronato" e Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário) e Agnelo
Queiroz (Esportes) como pessoas
ligadas à esquerda.
Manoel José dos Santos, presidente da Contag (Confederação
Nacional de Trabalhadores na
Agricultura), ressaltou que, além
de fazer ocupações, os movimentos rurais precisam encontrar
uma forma de assegurar recursos
para a reforma agrária.
Cerca de uma hora e meia depois de dizer que a reforma agrária seria feita "no tapa", João Paulo Rodrigues disse que havia usado apenas "uma figura de linguagem".
"Estamos no olho do furacão",
declarou o procurador-geral da
República, Cláudio Fonteles, na
abertura do seminário. Em 9 de
julho, ele afirmou que a invasão
de terras improdutivas, se fosse
realizada de forma pacífica, constituía uma prática legal. Ontem,
porém, ele pediu "diálogo" aos
movimentos sociais: "Precisamos
de paz", disse aos jornalistas.
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