São Paulo, sábado, 06 de agosto de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/CPI DOS CORREIOS

Relatório será enviado ao Conselho de Ética; caso de Dirceu pode ir para a CPI do Mensalão

CPI vai sugerir à Câmara a cassação de até 18 deputados

FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em dez dias a CPI dos Correios prometeu apresentar o primeiro relatório recomendando a cassação de deputados federais ao Conselho de Ética da Câmara. Os critérios para definir os casos em que houve quebra de decoro parlamentar ainda serão discutidos com as lideranças políticas e com os integrantes da comissão, que terão que votar esse parecer.
O universo analisado pelo relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), e pelos quatro sub-relatores são 18 parlamentares citados direta ou indiretamente nas investigações da comissão. Os trabalhos têm se concentrado nos saques feitos nas contas do publicitário Marcos Valério de Souza e em suposto esquema de corrupção nos Correios.
O relatório que será apresentado em dez dias é considerado parcial. No final dos trabalhos, um relatório final será apresentado.
Haverá, no entanto, no caso do relatório dos pedidos de cassação, dois tipos de encaminhamento. Os casos em que for avaliado que há prova de quebra de decoro serão enviados diretamente para o Conselho de Ética da Câmara. Uma outra listagem será feita com os parlamentares contra os quais haveria apenas indícios de irregularidades e seria encaminhada à CPI do Mensalão.

Negociação política
Essa divisão dá margem para negociações políticas. Questionado se um saque em uma das contas de Marcos Valério seria considerado uma prova ou um indício, Serraglio afirmou que "vai haver uma interpretação coletiva".
Marcos Valério é acusado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) de ser o operador do "mensalão", suposto pagamento de mesada pelo PT a deputados da base aliada. Os saques em dinheiro das contas do publicitário seriam parte desse esquema.
Tanto Delúbio quanto Valério dão outra justificativa. Segundo eles, os recursos seriam destinados ao pagamento de dívidas de campanha e fariam parte de um caixa dois do PT. A origem do dinheiro seriam empréstimos bancários tomados pelas empresas do publicitário e repassados à sigla.
Essa versão não deve servir para poupar deputados. "A meu juízo caixa dois é um ato equivocado. Uma sucessão de equívocos não o legitima", disse Serraglio.
Para o senador Jefferson Péres (PDT-AM), já há prova para cassar cerca de 20 deputados, inclusive o ex-ministro José Dirceu (Casa Civil). "Eu cassaria o deputado José Dirceu [PT-SP]. Só a velhinha de Taubaté não sabe que ele era o chefe do esquema", disse ele.
O caso do ex-ministro da Casa Civil, no entanto, deve ser encaminhado para a CPI do Mensalão. Parlamentares ouvidos pela Folha afirmam que não há provas contra ele, já que não há comprovação de que o Roberto Marques autorizado a sacar R$ 50 mil das contas de Marcos Valério seja o assessor pessoal de Dirceu.
O relator da CPI sinalizou que, em sua opinião, já há elementos para cassar Roberto Jefferson. Questionado se tem convicção de que ele chefiava um esquema de corrupção nos Correios, Serraglio insinuou que sim, mas que essa decisão dependerá da maioria. "Eu até poderia dizer que tenho convicção, mas acho que seria inadequado dizer. No parecer não quero produzir um monólogo, não sou dono da verdade, tenho que submeter ao plenário."
O presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS), afirmou que a comissão deve funcionar até novembro.


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