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Governo deu R$ 160 mil a fundação de fachada
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
A Fundação Fazendo o Futuro, de Queimados, na Baixada
Fluminense, existe apenas no
papel, mas recebeu R$ 160 mil
do Fundo Nacional de Saúde
para comprar duas ambulâncias. No endereço da entidade
funciona o escritório de campanha do candidato a deputado
federal Zé Zacarias (PHS).
A fundação recebeu o dinheiro no final de 2004 e comprou
os veículos da Planam, empresa
acusada de chefiar a máfia dos
sanguessugas. Uma das ambulâncias está parada há cinco
meses, com o motor fundido,
no posto médico de Japeri, município vizinho de Queimados.
A outra, quando não está rodando com o tesoureiro da fundação, Josué Barboza, fica na
garagem da casa dele.
A Alternativa Social, também
de Queimados, recebeu R$ 120
mil do Ministério da Saúde, em
outubro passado, para comprar
uma ambulância UTI. A sede da
entidade é uma pequena clínica
privada que cobra pelos serviços e passa a maior parte do dia
vazia. Segundo a recepcionista,
a ambulância fica na casa da
responsável, identificada como
Alice. O toldo que identificava a
clínica foi retirado depois que a
reportagem esteve lá.
Há fundações que tiveram o
registro cassado pelo conselho
municipal de assistência social,
por não fazerem trabalho assistencial e, ainda assim, receberam dinheiro para a compra de
ambulâncias. É o caso do Serviço Social do Brasileiro, de Nova
Iguaçu, na Baixada Fluminense, que recebeu R$ 120 mil do
Fundo Nacional de Saúde. A
entidade perdeu o registro em
abril de 2004, assinou o convênio em julho e recebeu o dinheiro em novembro.
A Fundação Fazendo o Futuro e a Alternativa Social tiveram seus registros de entidades
filantrópicas cancelados pelo
Conselho Municipal de Assistência Social de Japeri porque
não atualizaram a documentação no prazo exigido por lei.
O registro da Fazendo o Futuro foi cancelado pelo conselho municipal em 2003, por
não ser voltada para a saúde. O
registro da Alternativa Social
foi cancelado no ano passado.
Elo com a Planam
As duas entidades de Queimados foram apontadas pelo
empresário Luiz Antonio Vedoin, sócio da Planam, em depoimento na Justiça, como integrantes do esquema. Segundo o empresário, elas seriam ligadas ao secretário de Saúde de
Japeri, Abner Peclat Barboza,
conhecido como Leo Peclat.
Segundo Vedoin, a Planam
pagou 5% de comissão sobre o
valor dos dois convênios (R$ 14
mil) a Leo Peclat. O secretário
foi procurado pela reportagem
e chegou a marcar um encontro, mas cancelou a entrevista.
Certidão de um cartório de
Queimados prova que ele é ligado à fundação de fachada Fazendo o Futuro. O primeiro tesoureiro da entidade -e motorista da ambulância-, Josué
Barboza, é irmão dele, e a segunda tesoureira, Flávia Rodrigues Siqueira, é sua secretária.
Marilda Soares Goes, subsecretária de Planejamento de Japeri, é conselheira da fundação.
A Associação Caridade Hospital de Nova Iguaçu, também
acusada de receber comissão
por Vedoin, obteve R$ 1,7 milhão do Fundo Nacional de
Saúde graças a três emendas do
deputado Fernando Gonçalves
(PTB-RJ), um dos principais
suspeitos de envolvimento na
máfia dos sanguessugas.
Foram feitas três licitações
para compra de equipamentos
hospitalares, todas vencidas
pela Suprema-Rio, empresa de
fachada montada pela Planam.
Como se tratavam de licitações
por tomada de preços, eram necessários três concorrentes, e
mais duas candidatas se apresentaram: a Rotal Hospitalar
(que desistiu de apresentar
proposta) e a Oxitec Hospitalar, de Brasília, outra empresa
de fachada ligada à Planam.
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