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ELEIÇÕES 2008/ RIO DE JANEIRO
Acesso de candidato a favela é condicionado a benfeitorias
Campanhas só são feitas se mão-de-obra local for contratada, diz líder comunitário
Associações de moradores exigem que concorrente "invista" em projetos sociais; para magistrado impedir entrada em morro é ilegal
ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO
A contratação de moradores
para atuar na campanha eleitoral ou a oferta de serviços sociais em favelas é estratégia
usada para assegurar o acesso
de candidatos com segurança a
favelas do Rio. Lideranças comunitárias afirmam que, sem
essa contrapartida, os traficantes vetam a presença de candidatos em área em que controlam a venda de drogas.
Segundo o presidente da Federação de Favelas do Rio, Rossino Castro Diniz, os presidentes de associações de moradores apresentam aos candidatos
uma "listagem de demandas".
Ele afirma que o montante "investido" pode chegar a R$ 35
mil em uma comunidade.
"As favelas agora acharam
por bem expulsar esses políticos [que só vão às favelas] de
quatro em quatro anos para tirar os votos. Os políticos não
têm compromisso com a comunidade. A comunidade agora
mudou, acordou", disse Diniz.
"Em certas comunidades,
que não têm candidato próprio,
para entrar tem uma listagem
de demandas que o político tem
que se comprometer. Coisas
que já deveriam ser feitas pelo
Estado. Se chegou nesse ponto,
o Estado é que é o culpado",
acrescentou.
A principal reivindicação dos
presidentes de associação é a
contratação de equipes de campanha nas comunidades. Também podem ser prestados serviços sociais antes das eleições.
Conforme Diniz, as entidades
não garantem votos para o candidato, só "espaço para fazer a
campanha". Ele afirma que
desde junho as negociações estão sendo feitas entre candidatos e presidentes de associação.
Diniz relata que, se as condições não forem satisfeitas, o
"pessoal do tráfico" proíbe a
entrada dos candidatos.
No Pavão-Pavãozinho, o presidente da associação de moradores, Marco Antônio de Carvalho, o Matu, diz que a comunidade "está aberta para receber os candidatos". Mas, se o
candidato não emprega moradores da favela, não pode fazer
campanha no morro, diz ele.
"Vai trazer uma equipe própria e vai deixar os moradores
sem trabalho? Na rua pode fazer isso. Aqui não. Tem que dar
oportunidade para os jovens
trabalharem", disse Matu. Ele
não contou como impede a
campanha de candidatos.
A campanha de Eduardo
Paes (PMDB) contratou moradores da favela. Solange Amaral
(DEM) e Marcelo Crivella
(PRB) farão campanha na favela em breve, segundo Matu.
O coordenador-geral da fiscalização da propaganda eleitoral do Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro, juiz
Luiz Márcio Pereira, disse que
há uma "linha tênue" entre a
intenção de associações ajudarem os moradores de favelas a
conseguirem emprego e a "vinculação a candidatos".
"A partir do momento que há
constrangimento ou coação
[para fazer campanha em favelas] há ilícito", afirmou o juiz.
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