São Paulo, quarta-feira, 06 de agosto de 2008

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ELEIÇÕES 2008/ RIO DE JANEIRO

Acesso de candidato a favela é condicionado a benfeitorias

Campanhas só são feitas se mão-de-obra local for contratada, diz líder comunitário

Associações de moradores exigem que concorrente "invista" em projetos sociais; para magistrado impedir entrada em morro é ilegal


ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO

A contratação de moradores para atuar na campanha eleitoral ou a oferta de serviços sociais em favelas é estratégia usada para assegurar o acesso de candidatos com segurança a favelas do Rio. Lideranças comunitárias afirmam que, sem essa contrapartida, os traficantes vetam a presença de candidatos em área em que controlam a venda de drogas.
Segundo o presidente da Federação de Favelas do Rio, Rossino Castro Diniz, os presidentes de associações de moradores apresentam aos candidatos uma "listagem de demandas". Ele afirma que o montante "investido" pode chegar a R$ 35 mil em uma comunidade.
"As favelas agora acharam por bem expulsar esses políticos [que só vão às favelas] de quatro em quatro anos para tirar os votos. Os políticos não têm compromisso com a comunidade. A comunidade agora mudou, acordou", disse Diniz.
"Em certas comunidades, que não têm candidato próprio, para entrar tem uma listagem de demandas que o político tem que se comprometer. Coisas que já deveriam ser feitas pelo Estado. Se chegou nesse ponto, o Estado é que é o culpado", acrescentou.
A principal reivindicação dos presidentes de associação é a contratação de equipes de campanha nas comunidades. Também podem ser prestados serviços sociais antes das eleições. Conforme Diniz, as entidades não garantem votos para o candidato, só "espaço para fazer a campanha". Ele afirma que desde junho as negociações estão sendo feitas entre candidatos e presidentes de associação.
Diniz relata que, se as condições não forem satisfeitas, o "pessoal do tráfico" proíbe a entrada dos candidatos.
No Pavão-Pavãozinho, o presidente da associação de moradores, Marco Antônio de Carvalho, o Matu, diz que a comunidade "está aberta para receber os candidatos". Mas, se o candidato não emprega moradores da favela, não pode fazer campanha no morro, diz ele.
"Vai trazer uma equipe própria e vai deixar os moradores sem trabalho? Na rua pode fazer isso. Aqui não. Tem que dar oportunidade para os jovens trabalharem", disse Matu. Ele não contou como impede a campanha de candidatos.
A campanha de Eduardo Paes (PMDB) contratou moradores da favela. Solange Amaral (DEM) e Marcelo Crivella (PRB) farão campanha na favela em breve, segundo Matu.
O coordenador-geral da fiscalização da propaganda eleitoral do Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro, juiz Luiz Márcio Pereira, disse que há uma "linha tênue" entre a intenção de associações ajudarem os moradores de favelas a conseguirem emprego e a "vinculação a candidatos".
"A partir do momento que há constrangimento ou coação [para fazer campanha em favelas] há ilícito", afirmou o juiz.


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