São Paulo, quinta-feira, 06 de agosto de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Sarney se defende; Conselho de Ética arquiva 4 denúncias

Presidente do Senado diz ser vítima de perseguição e que não abandonará o cargo

Em discurso técnico, Sarney rebate acusações; oposição elogia tom pacificador, mas afirma que lacunas em fala não encerram a crise na Casa


Fernando Bizerra Jr/Efe
José Sarney (PMDB-AP), presidente do Senado, durante discurso no plenário

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em discurso de 50 minutos ao plenário do Senado, o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), prometeu resistir no cargo, colocou-se como vítima de uma campanha da imprensa e fez um apelo pela volta da "paz" entre os colegas.
"Até hoje não usei esta tribuna para rebater as inverdades contra mim disseminadas aqui e na mídia", afirmou, da tribuna da Casa, num discurso intitulado "Uma Defesa". "Não tenho senão que resistir, foi a alternativa que me deram."
Na sequência, o Conselho de Ética se reuniu e seu presidente, o senador Paulo Duque (PMDB-RJ), arquivou quatro denúncias contra Sarney e outra contra o líder do PMDB na Casa, Renan Calheiros (AL).
Na primeira etapa do discurso no plenário, Sarney relatou fatos que denotariam a disposição de enfrentar com coragem situações adversas. Depois, fez uma defesa técnica das acusações contra ele no Conselho de Ética, mas deixou várias perguntas sem resposta. Por fim, pediu que "ódio e paixão" não façam os senadores perderem a "razão".
O peemedebista não foi interrompido durante o discurso, aplaudido ao final por metade do plenário -petistas e a oposição não seguiram as palmas.
A expectativa da véspera, de um discurso duro e cheio de ameaças, não se concretizou. Senadores da oposição saíram elogiando a "humildade" e o apelo pela pacificação da Casa. Disseram, porém, que as muitas lacunas deixadas por Sarney quanto ao mérito das acusações não encerram a crise.
Sarney disse que condenou a cassação de deputados em 1964 e a edição do AI-5, em 1968, que endureceu o regime militar. Revelou que sofreu três atentados contra sua vida.
Sob os olhares de senadores do PT, mencionou três vezes que já defendeu ou apoiou Lula, inclusive na sua prisão no regime militar. Fez algo parecido com relação ao DEM, lembrando que tem tido a colaboração próxima na administração da Casa do primeiro-secretário, Heráclito Fortes (DEM-PI).
Com uso de um telão, Sarney projetou dados e documentos à medida que se explicava.
Negou responsabilidade pela existência de 170 diretorias no Senado. Admitiu apenas 23.
Afirmou que não tinha conhecimento dos atos secretos e que só 88 de 663 ocorreram durante suas gestões. "Afirmaram que eu era o responsável por todos eles. E a opinião pública passou a receber assim essas informações, erradas, deformadas e incompletas."
Tanto os atos secretos como o inchaço do número de diretorias ocorreram por orientação do ex-diretor-geral do Senado Agaciel Maia, apadrinhado de Sarney e exonerado em março deste ano após 14 anos no cargo. Aliados do presidente do Senado beneficiaram-se de diretorias, e parentes seus foram nomeados ou exonerados por meio de atos secretos.
"Eu anulei todos eles", defendeu-se Sarney, sem mencionar que 36 atos acabaram revalidados após a anulação.
Ao elencar 17 pessoas nomeadas para cargos de comissão, Sarney admitiu nepotismo apenas em um caso, o de uma sobrinha encaixada no gabinete do senador Delcídio Amaral (PT-MS). Disse que não teve participação nenhuma na nomeação dos demais. Admitiu que usou servidores do Senado para fazer a segurança de sua casa no Maranhão, mas disse que isso é prática corrente.
Negou que tenha intercedido para que o neto José Adriano operasse o crédito consignado no Senado. "Sua relação era com o [banco] HSBC, que em 2005 foi autorizado a operar com o Senado, quando eu não era presidente ou exercia função na Mesa Diretora. Quando assumi, meu neto não era mais credenciado do HSBC, que não trabalhava mais com consignado no Senado."
O presidente da Casa repetiu que não tem participação na administração da Fundação José Sarney, embora seja presidente vitalício do órgão e tenha feito lobby pela obtenção de recursos. Não mencionou que patrocínio da Petrobras à fundação acabou empregado em empresas fantasmas.
Com relação à acusação de que atuou para a nomeação do namorado de uma neta por um ato secreto, Sarney negou ter agido de maneira ilícita. Recorreu a um argumento sentimental. "É claro que não existe um pedido de uma neta, se pudermos ajudar legalmente, que deixemos de atender."
Negou irregularidade por ter recebido auxílio-moradia apesar de ter casa em Brasília e disse que devolveu o dinheiro.
Em vários momentos do discurso, o presidente do Senado se disse vítima de uma "campanha". "Os jornais e a mídia em geral nunca se concentraram tanto contra uma pessoa como estão fazendo comigo, vasculhando minha vida e, não encontrando nada, abrem devassa contra minha família."
Disse que foi forjada uma gravação da PF para dar a impressão de que o empresário Zuleido Veras, pivô da Operação Navalha, era próximo dele. E reclamou do suposto furto por um repórter de papéis na mesa do empresário Geovane de Moraes, a quem Sarney vendeu o sítio Pericumã.
"Assim, não se está desejando melhorar o Senado. Está-se numa campanha pessoal contra mim, sem respeitar minha privacidade, meus 55 anos de vida pública, de muitas e cruéis lutas, sem nódoas." (FÁBIO ZANINI, VALDO CRUZ E ADRIANO CEOLIN)


Texto Anterior: Painel
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.