|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Sarney se defende; Conselho de Ética arquiva 4 denúncias
Presidente do Senado diz ser vítima de perseguição e que não abandonará o cargo
Em discurso técnico, Sarney rebate acusações; oposição elogia tom pacificador, mas afirma que lacunas em fala não encerram a crise na Casa
Fernando Bizerra Jr/Efe
|
|
José Sarney (PMDB-AP), presidente do Senado, durante discurso no
plenário
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em discurso de 50 minutos
ao plenário do Senado, o presidente da Casa, José Sarney
(PMDB-AP), prometeu resistir
no cargo, colocou-se como vítima de uma campanha da imprensa e fez um apelo pela volta
da "paz" entre os colegas.
"Até hoje não usei esta tribuna para rebater as inverdades
contra mim disseminadas aqui
e na mídia", afirmou, da tribuna da Casa, num discurso intitulado "Uma Defesa". "Não tenho senão que resistir, foi a alternativa que me deram."
Na sequência, o Conselho de
Ética se reuniu e seu presidente, o senador Paulo Duque
(PMDB-RJ), arquivou quatro
denúncias contra Sarney e outra contra o líder do PMDB na
Casa, Renan Calheiros (AL).
Na primeira etapa do discurso no plenário, Sarney relatou
fatos que denotariam a disposição de enfrentar com coragem
situações adversas. Depois, fez
uma defesa técnica das acusações contra ele no Conselho de
Ética, mas deixou várias perguntas sem resposta. Por fim, pediu que "ódio e
paixão" não façam os senadores perderem a "razão".
O peemedebista não foi interrompido durante o discurso,
aplaudido ao final por metade
do plenário -petistas e a oposição não seguiram as palmas.
A expectativa da véspera, de
um discurso duro e cheio de
ameaças, não se concretizou.
Senadores da oposição saíram
elogiando a "humildade" e o
apelo pela pacificação da Casa.
Disseram, porém, que as muitas lacunas deixadas por Sarney quanto ao mérito das acusações não encerram a crise.
Sarney disse que condenou a
cassação de deputados em 1964
e a edição do AI-5, em 1968, que
endureceu o regime militar.
Revelou que sofreu três atentados contra sua vida.
Sob os olhares de senadores
do PT, mencionou três vezes
que já defendeu ou apoiou Lula,
inclusive na sua prisão no regime militar. Fez algo parecido
com relação ao DEM, lembrando que tem tido a colaboração
próxima na administração da
Casa do primeiro-secretário,
Heráclito Fortes (DEM-PI).
Com uso de um telão, Sarney
projetou dados e documentos à
medida que se explicava.
Negou responsabilidade pela
existência de 170 diretorias no
Senado. Admitiu apenas 23.
Afirmou que não tinha conhecimento dos atos secretos e
que só 88 de 663 ocorreram durante suas gestões. "Afirmaram
que eu era o responsável por todos eles. E a opinião pública
passou a receber assim essas
informações, erradas, deformadas e incompletas."
Tanto os atos secretos como
o inchaço do número de diretorias ocorreram por orientação
do ex-diretor-geral do Senado
Agaciel Maia, apadrinhado de
Sarney e exonerado em março
deste ano após 14 anos no cargo. Aliados do presidente do Senado beneficiaram-se de diretorias, e parentes seus foram
nomeados ou exonerados por
meio de atos secretos.
"Eu anulei todos eles", defendeu-se Sarney, sem mencionar
que 36 atos acabaram revalidados após a anulação.
Ao elencar 17 pessoas nomeadas para cargos de comissão, Sarney admitiu nepotismo
apenas em um caso, o de uma
sobrinha encaixada no gabinete do senador Delcídio Amaral
(PT-MS). Disse que não teve
participação nenhuma na nomeação dos demais. Admitiu
que usou servidores do Senado
para fazer a segurança de sua
casa no Maranhão, mas disse
que isso é prática corrente.
Negou que tenha intercedido
para que o neto José Adriano
operasse o crédito consignado
no Senado. "Sua relação era
com o [banco] HSBC, que em
2005 foi autorizado a operar
com o Senado, quando eu não
era presidente ou exercia função na Mesa Diretora. Quando
assumi, meu neto não era mais
credenciado do HSBC, que não
trabalhava mais com consignado no Senado."
O presidente da Casa repetiu
que não tem participação na
administração da Fundação
José Sarney, embora seja presidente vitalício do órgão e tenha
feito lobby pela obtenção de recursos. Não mencionou que patrocínio da Petrobras à fundação acabou empregado em empresas fantasmas.
Com relação à acusação de
que atuou para a nomeação do
namorado de uma neta por um
ato secreto, Sarney negou ter
agido de maneira ilícita. Recorreu a um argumento sentimental. "É claro que não existe um
pedido de uma neta, se pudermos ajudar legalmente, que
deixemos de atender."
Negou irregularidade por ter
recebido auxílio-moradia apesar de ter casa em Brasília e disse que devolveu o dinheiro.
Em vários momentos do discurso, o presidente do Senado
se disse vítima de uma "campanha". "Os jornais e a mídia em
geral nunca se concentraram
tanto contra uma pessoa como
estão fazendo comigo, vasculhando minha vida e, não encontrando nada, abrem devassa contra minha família."
Disse que foi forjada uma
gravação da PF para dar a impressão de que o empresário
Zuleido Veras, pivô da Operação Navalha, era próximo dele.
E reclamou do suposto furto
por um repórter de papéis na
mesa do empresário Geovane
de Moraes, a quem Sarney vendeu o sítio Pericumã.
"Assim, não se está desejando melhorar o Senado. Está-se
numa campanha pessoal contra mim, sem respeitar minha
privacidade, meus 55 anos de
vida pública, de muitas e cruéis
lutas, sem nódoas."
(FÁBIO ZANINI, VALDO CRUZ E ADRIANO CEOLIN)
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Frase Índice
|