São Paulo, quinta-feira, 06 de setembro de 2001

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Governo dos EUA diz que já não teme Lula presidente

MARCIO AITH
DE WASHINGTON

Lula já não mete mais medo no governo dos EUA.
Depois de duas décadas de democratização e três eleições presidenciais no Brasil, o Departamento de Estado norte-americano faz questão de mostrar que os EUA não temem uma eventual vitória do petista nas eleições presidenciais do próximo ano.
"Os EUA se preocupam em assegurar o compromisso democrático dos governos e de candidatos latino-americanos", disse à Folha Curt Struble, subsecretário assistente de Estado dos EUA para o hemisfério Ocidental. "No caso de Lula, embora ele defenda posições das quais discordamos, não há dúvidas quanto ao fato de ser um democrata. A democracia no Brasil está madura. Sabemos que o presidente que for eleito assumirá e ficará no poder durante o período de seu mandato."
Os comentários de Struble à Folha se somam a declarações semelhantes de seu chefe, o subsecretário de Estado em exercício, Lino Gutierrez, publicadas pelo jornal "Miami Herald" na semana passada. "Lula não me deixa nervoso", disse ele ao colunista Andres Oppenheimer ao falar sobre a reação que os EUA teriam a uma eventual vitória de candidatos de oposição nas próximas eleições presidenciais latino-americanas.
Gutierrez negou, de forma enfática, qualquer semelhança entre Lula e Daniel Ortega, líder sandinista e ex-presidente da Nicarágua (1979-1990) que comandou uma guerra contra rebeldes apoiados pelos EUA. Ortega lidera a corrida presidencial de novembro na Nicarágua e, como fez o PT alguns meses atrás, abrandou algumas de suas posições que são identificadas pelos EUA como radicais e antiamericanas. "Ortega e alguns de seus amigos têm dito que os EUA não estão preocupados com a Frente de Libertação Nacional Sandinista e isso não é verdade. Já o Brasil mostrou uma tremenda maturidade e adesão à democracia, em todos os níveis. Lula não me deixa nervoso."
Embora os EUA não reconheçam uma mudança de posição, as declarações de Struble e de Gutierrez refletem uma nova atitude norte-americana com relação a Lula e a democracia no Brasil.
É verdade que, durante as três últimas eleições presidenciais brasileiras, os EUA evitaram ataques diretos a Lula e disseram que trabalhariam positivamente com qualquer candidato que fosse eleito. No entanto, nunca elogiaram o petista, preferindo sempre enfatizar preocupação com itens de sua plataforma que consideravam antiamericanos ou contrários à economia de mercado.
Um exemplo da reticência norte-americana foi a incapacidade do ex-embaixador dos EUA no Brasil, Melvin Levitz, de encontrar-se com Lula durante a campanha de 1994. O embaixador creditou o fracasso a um problema na agenda de ambos.
"Boa parte da mudança de percepção dos norte-americanos sobre Lula resulta de uma visão mais positiva que passaram a ter do PT nos últimos dois anos", disse Raquel Menezes, pesquisadora da entidade norte-americana Interamerican Dialogue. "Ao contrário do observado em 89, 94 e 98, os EUA hoje entendem que o partido é composto por alas moderadas e tem viabilidade administrativa."
Menezes diz que a aceitação política de Lula não elimina a desconfiança dos norte-americanos para com seu projeto econômico. "A opinião do Departamento de Estado reflete apenas um aspecto da posição norte-americana. Seria ingênuo achar que os departamentos do Tesouro e de Comércio deixaram de temer um tratamento hostil do PT ao capital estrangeiro e aos credores do país." Além do Brasil e da Nicarágua, Colômbia, Honduras e Costa Rica realizarão eleições em 2001 e 2002.

Malan
Ontem, Lula -que está viajando pelo Nordeste- disse que, pela sua intuição, só o ministro da Fazenda, Pedro Malan, tem condições de ser o candidato de FHC à Presidência. "Se dependesse do Fernando Henrique, seria o Malan, porque teria de ser um candidato do tamanho do ego dele. Só o Malan poderia defender a política econômica dele [FHC". O Serra [ministro da Saúde" e o Tasso Jereissati [governador do Ceará" não têm a mesma convicção."
O petista chamou de "esmola" os R$ 15 dados pelo governo federal a cada criança atendida pelo programa Bolsa-Escola e os R$ 60 dados às famílias atingidas pela seca no Bolsa-Renda.


Colaborou KAMILA FERNANDES, da Agência Folha em Tauá (CE)



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