São Paulo, quinta-feira, 06 de setembro de 2001

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NO AR

Super-homem eleitoral

NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA

O espetáculo já se esgotou, mas a televisão, sem alternativa, não consegue parar mais.
Jennifer foi perseguida pelas ruas de São Paulo como uma estrela pop. Na Record e em outras, helicópteros acompanharam seus menores movimentos. Da locução:
- É este primeiro carro. Você vai ver que ela está no meio de dois policiais. Lá. No banco de trás. Ela aí, ó.
Para deleite da TV, Jennifer seguiu no personagem.
Em certo momento, ela garantia que o dinheiro do sequestro era para distribuir à população carente. Foi manchete do Jornal Nacional.
Em outro, um telejornal contava da "ironia de Jennifer", que teria sido vendedora do Baú da Felicidade.
Em outro, a sequestradora respondia agressivamente aos repórteres, que perguntavam, segundo ela, sempre as mesmas coisas -queriam saber de amor, paixão, sexo.
Já se escreveu que quem mergulha -e sobrevive- em tal ambiente de super-exposição encarna o "super-homem" nietzschiano.
Boris Casoy parecia ecoar tal alegoria, ao falar de outro protagonista desse drama tornado farsa:
- A história do resgate que nos foi vendida era de que o sequestrador exigia, com revólver na cabeça de Silvio Santos, a presença do governador. Agora, a história é outra. O governador Geraldo Alckmin se dispôs a ir. Sua presença não era exigida pelo sequestrador. Isso piora as coisas. Além de criar um precedente, parece ter sido um golpe de promoção de Geraldo Alckmin, que desnecessariamente quis pegar carona numa gigantesca cobertura, de amplitude nacional e até internacional, de televisão. Deu uma de super-homem eleitoral.

 

Volta e meia, aí está ela, a campanha eleitoral extemporânea -em toda parte.
Nos intervalos, os comerciais da ala de Itamar Franco no PMDB anunciam que "o Brasil precisa de alguém que acredite nesta gente".
O PFL, de seu lado, anuncia que vai ocupar os programas políticos estaduais com a imagem de Roseana Sarney. E Lula protagoniza mais uma coletiva para os telejornais.
 

Nem Paulo Maluf parece se levar mais a sério. Dele, no Jornal Nacional, sobre a cobertura da imprensa suíça ao escândalo das contas:
- Só pode ser coisa de um petista suíço.

E-mail: nelsonsa@uol.com.br


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