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NO AR
Super-homem eleitoral
NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA
O espetáculo já se esgotou, mas a televisão, sem
alternativa, não consegue parar
mais.
Jennifer foi perseguida pelas
ruas de São Paulo como uma estrela pop. Na Record e em outras, helicópteros acompanharam seus menores movimentos.
Da locução:
- É este primeiro carro. Você
vai ver que ela está no meio de
dois policiais. Lá. No banco de
trás. Ela aí, ó.
Para deleite da TV, Jennifer
seguiu no personagem.
Em certo momento, ela garantia que o dinheiro do sequestro
era para distribuir à população
carente. Foi manchete do Jornal
Nacional.
Em outro, um telejornal contava da "ironia de Jennifer",
que teria sido vendedora do Baú
da Felicidade.
Em outro, a sequestradora
respondia agressivamente aos
repórteres, que perguntavam,
segundo ela, sempre as mesmas
coisas -queriam saber de
amor, paixão, sexo.
Já se escreveu que quem mergulha -e sobrevive- em tal
ambiente de super-exposição
encarna o "super-homem"
nietzschiano.
Boris Casoy parecia ecoar tal
alegoria, ao falar de outro protagonista desse drama tornado
farsa:
- A história do resgate que
nos foi vendida era de que o sequestrador exigia, com revólver
na cabeça de Silvio Santos, a
presença do governador. Agora,
a história é outra. O governador
Geraldo Alckmin se dispôs a ir.
Sua presença não era exigida
pelo sequestrador. Isso piora as
coisas. Além de criar um precedente, parece ter sido um golpe
de promoção de Geraldo Alckmin, que desnecessariamente
quis pegar carona numa gigantesca cobertura, de amplitude
nacional e até internacional, de
televisão. Deu uma de super-homem eleitoral.
Volta e meia, aí está ela, a
campanha eleitoral extemporânea -em toda parte.
Nos intervalos, os comerciais
da ala de Itamar Franco no
PMDB anunciam que "o Brasil
precisa de alguém que acredite
nesta gente".
O PFL, de seu lado, anuncia
que vai ocupar os programas
políticos estaduais com a imagem de Roseana Sarney. E Lula
protagoniza mais uma coletiva
para os telejornais.
Nem Paulo Maluf parece se levar mais a sério. Dele, no Jornal
Nacional, sobre a cobertura da
imprensa suíça ao escândalo
das contas:
- Só pode ser coisa de um petista suíço.
E-mail: nelsonsa@uol.com.br
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