São Paulo, quarta-feira, 06 de setembro de 2006

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Eleições 2006/Candidatos na Folha

Brasil não tem partidos de verdade, afirma Alckmin

Candidato à Presidência não poupa nem sequer o PSDB e propõe reforma política

Tucano diz que ineficiência do governo anula eficiência das empresas e prega corte de gastos públicos para alavancar crescimento


Marlene Bergamo/Folha Imagem
O candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, responde a uma questão durante o ciclo de sabatinas com os presidenciáveis no Teatro Folha, em SP


DA REPORTAGEM LOCAL

O candidato à Presidência Geraldo Alckmin criticou ontem, em sabatina promovida pela Folha, os partidos políticos brasileiros, entre eles o seu PSDB, e pregou a necessidade de uma reforma política.
"O Brasil, vamos a falar a verdade, não tem partidos políticos dignos desse nome", disse o tucano. "Nem o PSDB?", questionaram os jornalistas. "Não tem. A tradição política do Brasil é do personalismo."
Com o auditório do Teatro Folha lotado, Alckmin falou por quase duas horas e foi sempre aplaudido nos contidos ataques que fez ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no campo da ética.
O único tucano de expressão nacional a acompanhar Alckmin foi o vereador José Aníbal, ex-presidente do PSDB. O candidato, em desvantagem nas pesquisas, disse que não se sente abandonado pelo partido ou pelos candidatos aos governos estaduais de sua aliança.
Ao responder a uma pergunta sobre o motivo de não utilizar depoimentos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e do ex-prefeito José Serra nos seus programas de TV, disse: "Não sou candidato do PT, que precisa andar de muletas. Eu tenho liderança."
No âmbito da economia, o candidato insistiu na redução dos gastos públicos como a panacéia para o setor. "O custo da ineficiência do governo anula a eficiência das empresas." Ao final, questionado pela platéia, Alckmin negou pertencer à corrente conservadora Opus Dei, da Igreja Católica, e se disse favorável à união civil entre homossexuais.

 

Segundo turno
"Nós já temos hoje segundo turno nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Vamos trabalhar para isso no Norte e Nordeste. Nunca vi pessoas tão impressionadas com pesquisas quanto jornalistas. Nós temos que ter apreço pela democracia. Caso contrário, não precisava nem de campanha eleitoral. A pesquisa decidia."

Impostos
"O inacreditável é o que o Lula conseguiu. Pegar uma carga tributária [herança do governo FHC] que já era absurda e conseguir aumentá-la mais ainda. O problema fiscal hoje é uma coisa grave. Ele envolve a questão monetária, taxa de juros muito elevada, e empurra para informalidade os mais pobres."

Ajuste fiscal
"O nosso desafio é diminuir pobreza e desigualdade. Como se faz isso? Com crescimento e políticas públicas. O Brasil não cresce há um bom tempo. (...) Como você faz o país crescer? Com política fiscal. O custo da ineficiência do governo anula a eficiência das empresas. É preciso reduzir gastos. O governo gasta muito e gasta mal. Onde cortar? Primeiro, na corrupção, que não é pequena. A questão ética não é só roubar e não deixar roubar, é eficiência."

Juros e câmbio
"Por que o país não cresce? Não são apenas os juros [que impedem]. Juro é apenas um fator, talvez o principal, mas é um conjunto. (...) Em um mundo globalizado, se você tem uma diferença tão grande dos juros do Brasil para com os juros internacionais, é claro que isso cria uma perda de competitividade enorme, além de jogar o câmbio para uma questão insuportável. Hoje, indústria é galpão, você pega e leva para a China, para a Índia, para a Argentina, aqui do lado."

Lula
"A primeira tarefa de um governante é assumir responsabilidade. O Mario Covas dizia, "se alguém no meu governo errar, fui eu quem errei, porque fui eu quem o nomeou". Hoje o presidente da República não traz uma palavra de esclarecimento ao povo brasileiro. Não vem a um debate para olhar nos olhos das pessoas e responder."

Mensalão
"O mensalão é o DNA autoritário do governo do PT, que está, inclusive, em querer controlar a mídia. O que é a Ancinav [Agência Nacional do Cinema e do Audiovisual]? O mensalão é submeter o Legislativo ao Executivo. (...) Totalmente diferente [o mensalão da compra de votos para aprovar a emenda da reeleição em 1997]. Uma coisa é um caso isolado, outra é ter uma quadrilha, uma estrutura de poder para corromper."

Apoios
"Não há crise interna [no PSDB]. É natural que quem é candidato [aos governos dos Estados] primeiro cuide de sua campanha. Não vou ficar choramingando por causa disso. (...) Ninguém aparece na minha campanha [além de mim]. Eu não sou candidato do PT que precisa andar de muletas. Eu tenho liderança. Quem aparece é o povo."

Partidos
"O Brasil, vamos a falar a verdade, não tem partidos políticos dignos desse nome. [Nem PSDB?] Não tem. A tradição política do Brasil é do personalismo. Isso vem do janismo, ademarismo, getulismo. Por isso o Brasil precisa ter fidelidade partidária, precisa ter voto distrital misto, não tem tradição de partido político."

Opus Dei
"Não sou da Opus Dei [prelazia da Igreja Católica]. Respeito quem é, mas não a conheço."

Segurança pública
"Não vou fazer vinculação de natureza partidária [dos ataques do PCC], porque isso cabe à polícia investigar. (...) Agora, o que o criminoso ganha tocando fogo em ônibus? Matando um bombeiro? Não ganha nada. O que está por trás?"

Casamento gay
"Sou favorável [à união civil de homossexuais]. Quando as pessoas vivem juntas, isso é contrato, nenhum problema. Sou totalmente favorável."


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