São Paulo, quinta-feira, 06 de setembro de 2007

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Novo diretor da PF é contra grampo da Abin

Proposta é defendida, em casos especiais, por Paulo Lacerda, o antecessor de Luiz Fernando Corrêa que comandará a Abin

Atual diretor-geral defende escutas telefônicas durante as investigações da Polícia Federal e diz que há "mitos" sobre excesso no uso delas

ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em sua primeira entrevista à imprensa como diretor-geral da Polícia Federal, o delegado Luiz Fernando Corrêa, 49, disse ontem que é contrário à idéia de a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) ser autorizada a fazer escutas telefônicas.
A proposta é defendida pelo delegado Paulo Lacerda, antecessor de Corrêa na PF, e que agora vai comandar a Abin. A autorização para esse tipo de atividade, que requer aprovação do Congresso Nacional, seria feita, segundo Lacerda, em situações "excepcionalíssimas": suspeita de ataque terrorista ou de sabotagem com risco de sérios danos à sociedade.
Corrêa ainda assim é contra. Entende que a PF poderia ser acionada em tais casos. "Sou contra, em tese. A própria PF tem atribuição para investigar terrorismo." Apesar das reservas em relação à Abin, Corrêa defende o uso de escutas, as quais caracteriza como "uma importante ferramenta de investigação, mas não a única". Ele é um dos pais do "Sistema Guardião", o software adotado pela PF para gerenciar o monitoramento telefônico.
Disse que há "mitos" em torno de um suposto uso indiscriminado de escutas, que poderiam até se prestar a propósitos pessoais e não ao interesse público de combater o crime. "Criaram-se mitos sobre as escutas. São softwares, registram acessos e são auditáveis a qualquer tempo", declarou.
Corrêa negou intenção de modificar a administração da PF no que diz respeito à condução e à divulgação das megaoperações policiais. "O sujeito foi preso, jogado como um pacote de batata no carro. Mostrar isso é excesso, é a pirotecnia que não agrega valor à polícia. A idéia é não expor a pessoa nessa posição degradante. E converge com o entendimento do dr. Paulo Lacerda, que nos deixou um Manual de Planejamento Operacional, que é uma reflexão, um amadurecimento sobre a atividade policial."
Destinado a conter abusos nas operações, o documento contempla, por exemplo, a determinação de não expor pessoas presas quando estiverem dentro do camburão ou no momento em que são detidas em casas. Não há restrição quanto ao uso de algemas. "É um símbolo do Estado prendendo. Tem que ser igual para todos", disse o diretor-geral, que ingressou na PF em 1980.
Ele contou que a primeira conversa com o ministro da Justiça, Tarso Genro, sobre a ida para PF se deu no início de agosto. "Ele me sinalizou que houve uma conversa [com Lula] e que a tendência era essa. Tendência porque, em política, vocês sabem...".
Negou que o ministro tivesse lhe dado qualquer recomendação para reduzir a divulgação das ações da PF. "Ninguém reinaugura a Polícia Federal. Assume e segue, dentro de uma normalidade já criada, como deve ser em uma polícia Republicana, de Estado."
Apesar de experientes, os sete novos diretores escolhidos por Corrêa têm no máximo 12 anos como delegado - seu próprio caso. Todos participaram, de alguma forma, da revisão de metodologias de trabalho e de comunicação da PF com a sociedade. O hiato no recrutamento produziu uma divisão interna entre "novos" e "antigos" delegados, o principal desafio de Corrêa para manter o equilíbrio na instituição.
Em seu discurso de posse, realizado na segunda-feira, ele marcou a disposição de trabalhar com a renovação, sua principal base de apoio. Provocou críticas, por ora veladas, dos mais experientes. Fundador e dirigente do primeiro sindicato de policiais do Brasil, no Rio Grande do Sul, em 1989, Corrêa transita bem no meio. Vai também marcar sua gestão por esse viés, inexistente na administração Lacerda.


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