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Novo diretor da PF é contra grampo da Abin
Proposta é defendida, em casos especiais, por Paulo Lacerda, o antecessor de Luiz Fernando Corrêa que comandará a Abin
Atual diretor-geral defende escutas telefônicas durante as investigações da Polícia Federal e diz que há "mitos" sobre excesso no uso delas
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em sua primeira entrevista à
imprensa como diretor-geral
da Polícia Federal, o delegado
Luiz Fernando Corrêa, 49, disse ontem que é contrário à idéia
de a Abin (Agência Brasileira de
Inteligência) ser autorizada a
fazer escutas telefônicas.
A proposta é defendida pelo
delegado Paulo Lacerda, antecessor de Corrêa na PF, e que
agora vai comandar a Abin. A
autorização para esse tipo de
atividade, que requer aprovação do Congresso Nacional, seria feita, segundo Lacerda, em
situações "excepcionalíssimas": suspeita de ataque terrorista ou de sabotagem com risco de sérios danos à sociedade.
Corrêa ainda assim é contra.
Entende que a PF poderia ser
acionada em tais casos. "Sou
contra, em tese. A própria PF
tem atribuição para investigar
terrorismo." Apesar das reservas em relação à Abin, Corrêa
defende o uso de escutas, as
quais caracteriza como "uma
importante ferramenta de investigação, mas não a única".
Ele é um dos pais do "Sistema
Guardião", o software adotado
pela PF para gerenciar o monitoramento telefônico.
Disse que há "mitos" em torno de um suposto uso indiscriminado de escutas, que poderiam até se prestar a propósitos
pessoais e não ao interesse público de combater o crime.
"Criaram-se mitos sobre as escutas. São softwares, registram
acessos e são auditáveis a qualquer tempo", declarou.
Corrêa negou intenção de
modificar a administração da
PF no que diz respeito à condução e à divulgação das megaoperações policiais. "O sujeito
foi preso, jogado como um pacote de batata no carro. Mostrar isso é excesso, é a pirotecnia que não agrega valor à polícia. A idéia é não expor a pessoa
nessa posição degradante. E
converge com o entendimento
do dr. Paulo Lacerda, que nos
deixou um Manual de Planejamento Operacional, que é uma
reflexão, um amadurecimento
sobre a atividade policial."
Destinado a conter abusos
nas operações, o documento
contempla, por exemplo, a determinação de não expor pessoas presas quando estiverem
dentro do camburão ou no momento em que são detidas em
casas. Não há restrição quanto
ao uso de algemas. "É um símbolo do Estado prendendo.
Tem que ser igual para todos",
disse o diretor-geral, que ingressou na PF em 1980.
Ele contou que a primeira
conversa com o ministro da
Justiça, Tarso Genro, sobre a
ida para PF se deu no início de
agosto. "Ele me sinalizou que
houve uma conversa [com Lula] e que a tendência era essa.
Tendência porque, em política,
vocês sabem...".
Negou que o ministro tivesse
lhe dado qualquer recomendação para reduzir a divulgação
das ações da PF. "Ninguém reinaugura a Polícia Federal. Assume e segue, dentro de uma
normalidade já criada, como
deve ser em uma polícia Republicana, de Estado."
Apesar de experientes, os sete novos diretores escolhidos
por Corrêa têm no máximo 12
anos como delegado - seu próprio caso. Todos participaram,
de alguma forma, da revisão de
metodologias de trabalho e de
comunicação da PF com a sociedade. O hiato no recrutamento produziu uma divisão
interna entre "novos" e "antigos" delegados, o principal desafio de Corrêa para manter o
equilíbrio na instituição.
Em seu discurso de posse,
realizado na segunda-feira, ele
marcou a disposição de trabalhar com a renovação, sua principal base de apoio. Provocou
críticas, por ora veladas, dos
mais experientes. Fundador e
dirigente do primeiro sindicato
de policiais do Brasil, no Rio
Grande do Sul, em 1989, Corrêa
transita bem no meio. Vai também marcar sua gestão por esse
viés, inexistente na administração Lacerda.
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