São Paulo, domingo, 06 de setembro de 2009

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"Leis devem ser respeitadas", cobra Battisti

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Personagem do imbróglio de implicações internacionais, o escritor italiano Cesare Battisti, 54, se diz "triste" por continuar preso oito meses depois de receber o status de refugiado político pelo governo.
Ele afirma, contudo, que há por aqui "leis que devem ser respeitadas". Foi pensando na legislação, que proíbe a extradição de estrangeiro que cometeu crimes ditos políticos, que o italiano veio para o Brasil, como contou à Folha em 2007.
Detido na penitenciária da Papuda, em Brasília, onde diz ser tratado com "dignidade" e "respeito", Battisti respondeu à mão algumas perguntas enviadas pela reportagem, por meio de seu advogado. Não foi possível, por isso, replicar nenhuma das respostas. (LF)

 

FOLHA - Como se sente, oito meses após conseguir o refúgio político, continuar preso à espera do julgamento do STF?
CESARE BATTISTI -
Me sinto triste por estar aqui. Sinto muito pela minha família, que acreditou poder reunir-se comigo em breve. Por outro lado, essa demora tem servido para que os ministros do STF tenham estudado em profundidade o caso e assim compreendido que não fui responsável pelos atos que me foram imputados.

FOLHA - O sr. acredita estar preso por questões políticas?
BATTISTI -
Não sei o que quer dizer com a expressão "questões políticas". O certo é que, mesmo concedido o refúgio, me encontro ainda encarcerado, aguardando que o STF decida arquivar a extradição.

FOLHA - O seu caso é singular: é refugiado político para o governo brasileiro, mas está preso por ordem do STF. O que pensa sobre isso?
BATTISTI -
Não obstante as tentativas de confundir a opinião pública, meu caso é claro. Neste país existem leis e elas devem ser respeitadas. Frente a tantas evidências não cabem opiniões pessoais.

FOLHA - Qual sua expectativa com relação ao julgamento?
BATTISTI -
É tradição deste país acolher perseguidos em suas nações de origem. Há exemplos de outros três italianos, cuja situação é semelhante à minha e o STF negou a extradição. Nunca duvidei da seriedade da Justiça do Brasil.

FOLHA - Quem o ajuda financeiramente?
BATTISTI -
Apesar de preso, recebo direitos autorais por obras publicadas. A assistência de familiares e amigos é bem-vinda.

FOLHA - O sr. continua escrevendo na prisão? Sobre o quê?
BATTISTI -
As condições não são as mais favoráveis, [mas] consigo escrever quase todos os dias. É minha fonte de renda. Acabei uma trilogia de caráter autobiográfico e agora estou trabalhando em uma obra de ficção abordando, como sempre, temas sociais.

FOLHA - Como é tratado na prisão?
BATTISTI -
As condições aqui na Papuda são razoáveis. Sou tratado com respeito e dignidade.

FOLHA - O sr. tem passado por tratamento de saúde?
BATTISTI -
Há aproximadamente um ano tive problemas hepáticos e diabéticos. Fui prontamente atendido pelo estabelecimento prisional. Atualmente me encontro sob tratamento de antidepressivos.


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