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"Leis devem ser respeitadas", cobra Battisti
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Personagem do imbróglio de
implicações internacionais, o
escritor italiano Cesare Battisti, 54, se diz "triste" por continuar preso oito meses depois
de receber o status de refugiado
político pelo governo.
Ele afirma, contudo, que há
por aqui "leis que devem ser
respeitadas". Foi pensando na
legislação, que proíbe a extradição de estrangeiro que cometeu
crimes ditos políticos, que o italiano veio para o Brasil, como
contou à Folha em 2007.
Detido na penitenciária da
Papuda, em Brasília, onde diz
ser tratado com "dignidade" e
"respeito", Battisti respondeu à
mão algumas perguntas enviadas pela reportagem, por meio
de seu advogado. Não foi possível, por isso, replicar nenhuma
das respostas.
(LF)
FOLHA - Como se sente, oito meses
após conseguir o refúgio político,
continuar preso à espera do julgamento do STF?
CESARE BATTISTI - Me sinto triste
por estar aqui. Sinto muito pela
minha família, que acreditou
poder reunir-se comigo em
breve. Por outro lado, essa demora tem servido para que os
ministros do STF tenham estudado em profundidade o caso e
assim compreendido que não
fui responsável pelos atos que
me foram imputados.
FOLHA - O sr. acredita estar preso
por questões políticas?
BATTISTI - Não sei o que quer dizer com a expressão "questões
políticas". O certo é que, mesmo concedido o refúgio, me encontro ainda encarcerado,
aguardando que o STF decida
arquivar a extradição.
FOLHA - O seu caso é singular: é refugiado político para o governo brasileiro, mas está preso por ordem do
STF. O que pensa sobre isso?
BATTISTI - Não obstante as tentativas de confundir a opinião
pública, meu caso é claro. Neste
país existem leis e elas devem
ser respeitadas. Frente a tantas
evidências não cabem opiniões
pessoais.
FOLHA - Qual sua expectativa com
relação ao julgamento?
BATTISTI - É tradição deste país
acolher perseguidos em suas
nações de origem. Há exemplos
de outros três italianos, cuja situação é semelhante à minha e
o STF negou a extradição. Nunca duvidei da seriedade da Justiça do Brasil.
FOLHA - Quem o ajuda financeiramente?
BATTISTI - Apesar de preso, recebo direitos autorais por obras
publicadas. A assistência de familiares e amigos é bem-vinda.
FOLHA - O sr. continua escrevendo
na prisão? Sobre o quê?
BATTISTI - As condições não são
as mais favoráveis, [mas] consigo escrever quase todos os dias.
É minha fonte de renda. Acabei
uma trilogia de caráter autobiográfico e agora estou trabalhando em uma obra de ficção
abordando, como sempre, temas sociais.
FOLHA - Como é tratado na prisão?
BATTISTI - As condições aqui na
Papuda são razoáveis. Sou tratado com respeito e dignidade.
FOLHA - O sr. tem passado por tratamento de saúde?
BATTISTI - Há aproximadamente um ano tive problemas hepáticos e diabéticos. Fui prontamente atendido pelo estabelecimento prisional. Atualmente
me encontro sob tratamento de
antidepressivos.
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