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Planilha traz indícios de fraudes em entidade catarinense, diz PF
Polícia apura se há registro de caixa dois para campanhas de candidatos petistas
JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CHAPECÓ
O inquérito que investiga supostas fraudes praticadas pela
Fetraf-Sul (Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar da Região Sul), entidade
sindical ligada ao grupo da senadora Ideli Salvatti (PT-SC),
inclui planilha sobre cursos financiados com dinheiro federal que apresenta itens como
"gasto real" (com valores mais
baixos do que o recebido em recursos) e "saldo Fetraf" (com a
diferença entre "gasto real" e o
que foi recebido).
Esses dados aparecem em
dois DVDs em poder da Polícia
Federal de Chapecó (oeste de
SC), que abriu o inquérito em
março deste ano. A PF apura se
as planilhas que constam nesses DVDs registram a arrecadação de recursos via caixa dois
para campanhas de candidatos
petistas. Uma das planilhas
tem o nome de "Cx II" e registra suposto "saldo" da Fetraf de
R$ 15 mil na organização de
cursos neste ano.
A Fetraf nega as suspeitas e
não reconhece como seus os
documentos gravados nos
DVDs, que foram obtidos pelo
MPF (Ministério Público Federal) e repassados à PF. A federação afirma que documentos foram furtados de sua sede,
em Chapecó, e que as planilhas
nesses DVDs podem ser versões adulteradas dos documentos originais.
O inquérito foi aberto a pedido do procurador da República
Celso Antônio Três. Segundo a
investigação da PF, as fraudes
podem chegar a R$ 6,4 milhões,
com dinheiro oriundo dos ministérios do Trabalho e do Desenvolvimento Agrário e de outros órgãos federais. Parte desse valor (R$ 1,2 milhão) é relativo a fraudes que teriam sido
praticadas pela Cooperhaf
(Cooperativa de Habitação dos
Agricultores Familiares dos
Três Estados do Sul), órgão ligado à Fetraf.
As fraudes podem ter ocorrido, de acordo com o Ministério
Público, com dinheiro que era
repassado à Fetraf e à Cooperhaf por meio de convênios com
o governo federal para a realização de cursos de qualificação
profissional, congressos e processos licitatórios.
Parte do dinheiro arrecadado
pelas duas entidades, suspeita o
MPF, teria ido parar na campanha de pelo menos um candidato do PT no ano passado.
Diretores, assessores e funcionários da Fetraf-Sul que
doaram dinheiro para a campanha do coordenador da entidade Dirceu Dresch (PT-SC) a deputado estadual, no ano passado, constam como beneficiários de recibos emitidos pela federação. Os recibos teriam sido
emitidos para cobertura de gastos que só ocorreram no papel.
O delegado da PF Misael
Mazzetti, que preside o inquérito, disse que solicitou autorização ao TRE (Tribunal Regional Eleitoral) de Santa Catarina
para investigar falsas doações a
campanhas de 2006. Com a investigação de crimes eleitorais
é de competência da Justiça
Eleitoral, a PF depende da autorização para levar adiante inquérito específico sobre o caso.
Ideli Salvatti reconhece sua
ligação com lideranças da agricultura familiar em Santa Catarina, mas diz que isso se deve a
sua atuação política em defesa
do setor e nega qualquer relação com fraudes.
Celso Três disse que os documentos que chegaram à Procuradoria são fartos em provas
"de crimes de desvio, estelionato e peculato" e pediu investigação para embasar ação de improbidade administrativa.
Uma das supostas planilhas
da Fetraf que fazem parte do
inquérito lista 29 cursos realizados nos três Estados do Sul
com verba federal no início
deste ano. As rubricas da planilha, segundo a interpretação do
Ministério Público, mostram
os locais em que os cursos foram realizados e os respectivos
gasto "previsto".
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