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Doações "esquentavam" dinheiro
DO ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA
Os papéis que parecem ser o livro-caixa secreto da campanha de
Cassio Taniguchi contêm algumas inscrições cifradas. Por
exemplo, aparecem vários "D" na
frente do nome de doadores. A
Folha apurou que isso significa
que se tratam mesmo de doadores. É importante a distinção, pois
alguns doadores da campanha
aparecem com a inscrição "E" à
frente de seus nomes. Esses são de
uma categoria especial.
Ao todo, 22 doadores estão na
classe "E". Representam um valor
total doado de R$ 1,5 milhão, quase a metade do declarado ao TRE
oficialmente por Taniguchi. O "E"
era como o pessoal do comitê financeiro do PFL de Curitiba tratava uma operação chamada "engenharia financeira". São casos de
doadores que fazem a entrega do
dinheiro oficialmente, mas recebem o mesmo valor de volta, de
maneira informal, sempre em espécie, para evitar o rastreamento.
A razão dessa operação é simples. Algumas campanhas quase
sempre recebem doações ilegais
ao longo do tempo. Quando chega a hora da prestação de contas
no TRE, é necessário declarar a
origem do dinheiro. Por isso empresas amigas são convidadas a
fazer doações "quentes" para esquentar o dinheiro "frio" que já
estava no caixa do político.
A doação é perfeitamente legal.
Sempre realizada por meio de
cheque nominal, aparece na prestação de contas ao TRE. O que é
ilegal é a devolução do dinheiro,
numa transação "por fora". Como a devolução era feita em dinheiro, por funcionários subalternos, o receptor do valor devolvido
era convidado a assinar um recibo
atestando o pagamento. A pessoa
do comitê garantia assim que
realmente havia feito a operação.
Há muitos desses recibos no material obtido pela Folha.
Na tentativa de se eximir de culpa, uma empresa confirmou a veracidade de um desses papéis. A
Risotolândia, grande fornecedora
de refeições para a Prefeitura de
Curitiba (fatura cerca de R$ 1,5
milhão por mês com o contrato
municipal), realizou uma doação
de R$ 100 mil no esquema de "engenharia financeira" em 28 de
agosto de 2000.
Três dias depois, em 31 de agosto, o diretor Marcelo Bueno assinou um recibo atestando ter recebido os R$ 100 mil de volta por
"prestação de serviços". O superintendente da Risotolândia, Carlos Humberto de Souza, foi contatado para explicar a operação. Sua
reação inicial foi negar a transação. Depois de examinar o recibo,
entretanto, mudou sua versão e
acabou "autenticando" a fotocópia em posse da Folha.
"Nós recebemos [o recibo" do
partido, do PFL, em função de
serviços prestados durante esse
período da campanha. Isso significa eventos tipo almoços, jantares que são feitos aí para correligionários", disse Humberto.
Como na declaração de Taniguchi ao TRE não consta nenhum tipo de pagamento à Risotolândia,
a versão complicou ainda mais a
situação do prefeito curitibano.
Ao saber que sua explicação para a existência do recibo era incompatível com a parte oficial da
campanha pefelista, o superintendente da Risotolândia declarou:
"Aí também não sei como foi feita
a contabilidade deles interna nesse sentido. Teríamos até que conversar em três partes para termos
um esclarecimento melhor (...). O
motivo que levou eles [sic" a não
declarar eu não posso citar exatamente".
(FERNANDO RODRIGUES)
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