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CAIXA DE CAMPANHA
Prefeito diz que nunca viu documentos e sugere participação de peemedebista na obtenção dos papéis
Taniguchi nega caixa dois e acusa Requião
DO ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA
O prefeito de Curitiba, Cassio
Taniguchi (PFL), 60, disse nunca
ter visto os documentos que a Folha publica em sua edição de hoje.
Ele declarou não ter "a menor
idéia" a respeito do assunto.
Taniguchi recusou-se a ser fotografado manuseando os papéis.
Também considerou desnecessário chamar o presidente do comitê financeiro de sua campanha à
reeleição, Mário Lopes Filho, que
ficou esperando em outra sala para dar uma entrevista separadamente.
Em boa parte da entrevista, o
prefeito preferiu sugerir haver algum nexo entre a publicação desta reportagem e uma possível participação do senador Roberto Requião (PMDB-PR). "Um sujeito
desses não tem escrúpulos", disse
Taniguchi.
No dia em que falou à Folha,
Taniguchi teve um apartamento
seu assaltado na parte da manhã.
Segundo ele, "só estavam atrás de
documentos". Os dois assaltantes
teriam levado algumas pastas e
não foram capturados pela polícia
paranaense, embora tenham sido
perseguidos.
Embora de forma indireta, o
prefeito sugeriu que o assalto a
seu apartamento teria alguma ligação com Requião. E que os documentos em posse da Folha seriam resultado do roubo. Na realidade, os papéis já estavam com o
jornal desde a semana anterior.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista, realizada na
tarde da quinta-feira da semana
passada.
(FERNANDO RODRIGUES)
Folha - Parece crível este documento [mostrando o livro-caixa"
para o sr.?
Cassio Taniguchi - Nunca vi na
minha vida isso aí. Não tenho a
menor idéia.
Folha - Quer dizer que o sr. nunca
viu esses papéis?
Taniguchi - Nunca vi, realmente,
é a primeira vez na vida... Até porque é uma área que nem sequer
eu tenho acesso... Se eu conhecesse, se eu soubesse, eu te diria. Até
porque sou leitor da Folha. E se há
um jornal com credibilidade, é a
Folha.
Folha - Apesar de o sr. dizer desconhecer o material, várias empresas confirmaram dados. O que o sr.
acha disso?
Taniguchi - Partindo de quem
partiu...
Folha - De quem partiu?
Taniguchi - O [Roberto" Requião
[senador pelo PMDB-PR" há uma
semana deu entrevista a uma rádio, dizendo que tinha um monte
de documentos e que os teria obtido na minha casa. Bom, eu nunca o convidei para a minha casa.
E, por coincidência, hoje arrombaram, assaltaram um apartamento meu...
Folha - Assaltaram seu apartamento?
Taniguchi - ...À procura de documentos. Deram dez tiros. Só estavam atrás de documentos. Esse
apartamento é uma quitinete pequena, onde eu guardo os documentos da minha empresa. Duas
pessoas entraram armadas.
Folha - Quem estava no apartamento na hora do assalto?
Taniguchi - A Isaura, secretária
de minha mulher, um motorista e
um auxiliar.
Folha - Chegaram a levar algum
material?
Taniguchi - Obrigaram a abrir o
cofre e levaram umas pastas embora. É muito estranho essas coisas acontecerem assim. Lá não
tem nenhum tipo de documento
confidencial.
Folha - A que horas ocorreu o assalto?
Taniguchi - Às 9h30 da manhã. É
muito estranho que essas coisas
aconteçam, logo depois do acidente que o senador interfere [Requião é acusado de ter prejudicado, na semana passada, a ação policial em um acidente de trânsito
envolvendo um sobrinho", uma
semana antes ele fala na rádio...
Folha - Mas qual a relação entre
esses fatos?
Taniguchi - Uma pessoa que faz
esse tipo de ação é capaz de tudo.
Um sujeito desses não tem escrúpulos. Tem uma campanha no
ano que vem e ele se aproveita
neste momento para apresentar
uma série de documentos, exatamente para me prejudicar porque
eu sou potencialmente um candidato -embora eu tenha negado
isso constantemente.
Folha - De volta aos documentos.
O sr. realmente não reconhece nenhum desses papéis?
Taniguchi - Como eu disse desde
o começo, eu nunca participei...
Não conheço nem sequer direito
as pessoas que estavam...
Folha - Mas o sr. conhece Mário
Lopes Filho, que presidiu o comitê
financeiro?
Taniguchi - Claro, com certeza.
Folha - E ele nunca comentou sobre essas operações com o sr.?
Taniguchi - Não.
Folha - O sr. não acha que seria
mais produtivo se convidássemos
Mário Lopes Filho para participar
desta entrevista?
Taniguchi - Seria até uma certa
perda de tempo, porque eu nunca
vi esses documentos e não sei o
que aconteceu lá dentro, de que
maneira as coisas foram conduzidas. Eu estava em campanha, fora
do comitê.
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