São Paulo, terça-feira, 06 de novembro de 2001

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CAIXA DE CAMPANHA

Prefeito diz que nunca viu documentos e sugere participação de peemedebista na obtenção dos papéis

Taniguchi nega caixa dois e acusa Requião

DO ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA

O prefeito de Curitiba, Cassio Taniguchi (PFL), 60, disse nunca ter visto os documentos que a Folha publica em sua edição de hoje. Ele declarou não ter "a menor idéia" a respeito do assunto.
Taniguchi recusou-se a ser fotografado manuseando os papéis. Também considerou desnecessário chamar o presidente do comitê financeiro de sua campanha à reeleição, Mário Lopes Filho, que ficou esperando em outra sala para dar uma entrevista separadamente.
Em boa parte da entrevista, o prefeito preferiu sugerir haver algum nexo entre a publicação desta reportagem e uma possível participação do senador Roberto Requião (PMDB-PR). "Um sujeito desses não tem escrúpulos", disse Taniguchi.
No dia em que falou à Folha, Taniguchi teve um apartamento seu assaltado na parte da manhã. Segundo ele, "só estavam atrás de documentos". Os dois assaltantes teriam levado algumas pastas e não foram capturados pela polícia paranaense, embora tenham sido perseguidos.
Embora de forma indireta, o prefeito sugeriu que o assalto a seu apartamento teria alguma ligação com Requião. E que os documentos em posse da Folha seriam resultado do roubo. Na realidade, os papéis já estavam com o jornal desde a semana anterior.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista, realizada na tarde da quinta-feira da semana passada. (FERNANDO RODRIGUES)

Folha - Parece crível este documento [mostrando o livro-caixa" para o sr.?
Cassio Taniguchi -
Nunca vi na minha vida isso aí. Não tenho a menor idéia.

Folha - Quer dizer que o sr. nunca viu esses papéis?
Taniguchi -
Nunca vi, realmente, é a primeira vez na vida... Até porque é uma área que nem sequer eu tenho acesso... Se eu conhecesse, se eu soubesse, eu te diria. Até porque sou leitor da Folha. E se há um jornal com credibilidade, é a Folha.

Folha - Apesar de o sr. dizer desconhecer o material, várias empresas confirmaram dados. O que o sr. acha disso?
Taniguchi -
Partindo de quem partiu...

Folha - De quem partiu?
Taniguchi -
O [Roberto" Requião [senador pelo PMDB-PR" há uma semana deu entrevista a uma rádio, dizendo que tinha um monte de documentos e que os teria obtido na minha casa. Bom, eu nunca o convidei para a minha casa. E, por coincidência, hoje arrombaram, assaltaram um apartamento meu...

Folha - Assaltaram seu apartamento?
Taniguchi -
...À procura de documentos. Deram dez tiros. Só estavam atrás de documentos. Esse apartamento é uma quitinete pequena, onde eu guardo os documentos da minha empresa. Duas pessoas entraram armadas.

Folha - Quem estava no apartamento na hora do assalto?
Taniguchi -
A Isaura, secretária de minha mulher, um motorista e um auxiliar.

Folha - Chegaram a levar algum material?
Taniguchi -
Obrigaram a abrir o cofre e levaram umas pastas embora. É muito estranho essas coisas acontecerem assim. Lá não tem nenhum tipo de documento confidencial.

Folha - A que horas ocorreu o assalto?
Taniguchi -
Às 9h30 da manhã. É muito estranho que essas coisas aconteçam, logo depois do acidente que o senador interfere [Requião é acusado de ter prejudicado, na semana passada, a ação policial em um acidente de trânsito envolvendo um sobrinho", uma semana antes ele fala na rádio...

Folha - Mas qual a relação entre esses fatos?
Taniguchi -
Uma pessoa que faz esse tipo de ação é capaz de tudo. Um sujeito desses não tem escrúpulos. Tem uma campanha no ano que vem e ele se aproveita neste momento para apresentar uma série de documentos, exatamente para me prejudicar porque eu sou potencialmente um candidato -embora eu tenha negado isso constantemente.

Folha - De volta aos documentos. O sr. realmente não reconhece nenhum desses papéis?
Taniguchi -
Como eu disse desde o começo, eu nunca participei... Não conheço nem sequer direito as pessoas que estavam...

Folha - Mas o sr. conhece Mário Lopes Filho, que presidiu o comitê financeiro?
Taniguchi -
Claro, com certeza.

Folha - E ele nunca comentou sobre essas operações com o sr.?
Taniguchi -
Não.

Folha - O sr. não acha que seria mais produtivo se convidássemos Mário Lopes Filho para participar desta entrevista?
Taniguchi -
Seria até uma certa perda de tempo, porque eu nunca vi esses documentos e não sei o que aconteceu lá dentro, de que maneira as coisas foram conduzidas. Eu estava em campanha, fora do comitê.


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