São Paulo, domingo, 06 de novembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CONEXÃO RIBEIRÃO

Já como ministro da Fazenda, petista pegou carona em aeronave de Roberto Colnaghi

Palocci viajou em jatinho emprestado por empresário

MARIO CESAR CARVALHO
CATIA SEABRA

DA REPORTAGEM LOCAL
O empresário Roberto Colnaghi, que emprestou em julho de 2002 o avião no qual o PT teria transportado dólares recebidos de Cuba, deu caronas em seu jatinho a Antonio Palocci quando o petista já era ministro da Fazenda. Uma das vezes em que o ministro usou o jatinho de Colnaghi foi em 2 de maio de 2004, após visitar a Agrishow, a feira de agronegócios realizada em Ribeirão Preto.
Empresários que receberam Palocci na cidade lembram que o ministro circulou com Colnaghi numa recepção realizada no JP, um hotel que fica nas margens da rodovia Anhangüera e é um dos preferidos dos ruralistas.
Ao ser questionado pela reportagem da Folha sobre a carona dada a Palocci após o Agrishow, Colnaghi não negou a informação. Informou, por meio de sua assessoria, que não tinha "nada a declarar". A assessoria do ministro da Fazenda foi procurada, mas não se manifestou até o fechamento desta edição.
Após a feira, o jatinho Citation, prefixo PT-XAC, saiu de Ribeirão Preto, fez uma escala em São Paulo e depois rumou para Brasília. Três testemunhas que viram Palocci embarcar no jatinho confirmaram a história para a reportagem da Folha. Todas elas só aceitaram conversar sobre o caso com a condição de que os seus nomes não fossem citados -temem eventuais retaliações do PT e do ministro da Fazenda.
O Citation de Colnaghi também transportou a família de Palocci a Brasília para a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 1º de janeiro de 2003.
Em outra carona que Palocci pegou no jatinho, em 2003, assessores do ministro abasteceram a avião com frutas e salgadinhos e perguntaram até se tinha aparelho de microondas para esquentar a comida. Não tinha.
O ministro costumava viajar sozinho e sem bagagem. Ficava calado a maior parte do tempo. Quando falava, o mais comum era pedir permissão para fumar. Recebia um "não" como resposta.
Tinha pressa. Numa delas, em 2003, Palocci saiu de Brasília, voou para Ribeirão Preto e voltou para Brasília no mesmo dia.
Durante a campanha de Lula, em 2002, Palocci era um usuário ainda mais freqüente do jatinho. A ponto de Colnaghi deixar o avião no aeroporto de Ribeirão, no hangar da Power Helicópteros.
Numa das viagens à época da campanha, o jatinho foi usado para buscar Palocci e o deputado federal José Dirceu, então presidente do PT, no Rio de Janeiro. Os dois chegaram às 22h30 em Congonhas, frustrando expectativa de Dirceu de ir a outro destino ainda naquela noite.
Colnaghi tem dois aviões: o Seneca (prefixo PT-RSX), que teria sido usado para transportar os dólares de Brasília para São Paulo, e o Citation, o jatinho que costumava ceder a Palocci.

República de Ribeirão
O empresário vive numa casa de alto padrão no centro de Penápolis (491 km a noroeste de São Paulo), onde tem uma empresa de equipamentos de irrigação. Mas costuma passar parte da semana na Bahia, na filial da empresa.
Na semana passada, "Beto" - como é chamado - teria telefonado a Palocci para consultá-lo sobre como reagir ao assédio dos jornalistas após a denúncia de transporte de dólares saídos de Cuba para a campanha de Lula.
Ele e o irmão, Francisco Carlos Jorge Colnaghi, são integrantes da que já foi chamada de "república de Ribeirão Preto" -apelido do grupo que orbita em torno de Palocci depois que ele foi designado ministro da Fazenda.
O grupo tinha tanta expectativa que a proximidade com Palocci renderia bons negócios que alugou uma casa em Brasília para realizar reuniões e churrascos.
O economista Vladimir Poleto, que trabalhou para Palocci em sua segunda passagem pela prefeitura de Ribeirão Preto (2001-2002), foi quem cuidou do aluguel da casa. Adiantou R$ 60 mil, entregues em pacotes de notas, por seis meses de aluguel. Em entrevista à revista "Veja", Poleto contou que havia transportado US$ 1,4 milhão no avião emprestado por Colnaghi e depois negou a informação.
Ralf Barquete, assessor de Palocci que teria coordenado a operação de transporte dos dólares cubanos, também freqüentava a casa de Brasília. Ele morreu de câncer no ano passado.
Colnaghi, o dono dos aviões Seneca e Citation cedidos ao PT, também passava por lá quando estava em Brasília. O advogado Rogério Buratti, que confirmou para a "Veja" ter tomado conhecimento da operação com os dólares de Cuba, usava tanto a casa que deputados chegaram a acusá-lo de ser o locatário do imóvel. Não era. Poleto fizera o negócio.
Colnaghi, Buratti, Poleto e Barquete têm algo mais em comum do que os sobrenomes italianos, típicos de uma região que recebeu esses imigrantes no final do século 19. Aproveitaram a proximidade com Palocci para tentar fazer negócios. Segundo fontes do mercado, tentaram, por exemplo, beneficiar um banco chamado Prosper, onde Poleto trabalhou.


Colaborou JOSÉ ALBERTO BOMBIG, do Painel


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