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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CONEXÃO RIBEIRÃO
Já como ministro da Fazenda, petista pegou carona em aeronave de Roberto Colnaghi
Palocci viajou em jatinho emprestado por empresário
MARIO CESAR CARVALHO
CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL
O empresário Roberto Colnaghi, que emprestou em julho de
2002 o avião no qual o PT teria
transportado dólares recebidos
de Cuba, deu caronas em seu jatinho a Antonio Palocci quando o
petista já era ministro da Fazenda.
Uma das vezes em que o ministro
usou o jatinho de Colnaghi foi em
2 de maio de 2004, após visitar a
Agrishow, a feira de agronegócios
realizada em Ribeirão Preto.
Empresários que receberam Palocci na cidade lembram que o
ministro circulou com Colnaghi
numa recepção realizada no JP,
um hotel que fica nas margens da
rodovia Anhangüera e é um dos
preferidos dos ruralistas.
Ao ser questionado pela reportagem da Folha sobre a carona
dada a Palocci após o Agrishow,
Colnaghi não negou a informação. Informou, por meio de sua
assessoria, que não tinha "nada a
declarar". A assessoria do ministro da Fazenda foi procurada, mas
não se manifestou até o fechamento desta edição.
Após a feira, o jatinho Citation,
prefixo PT-XAC, saiu de Ribeirão
Preto, fez uma escala em São Paulo e depois rumou para Brasília.
Três testemunhas que viram Palocci embarcar no jatinho confirmaram a história para a reportagem da Folha. Todas elas só aceitaram conversar sobre o caso com
a condição de que os seus nomes
não fossem citados -temem
eventuais retaliações do PT e do
ministro da Fazenda.
O Citation de Colnaghi também
transportou a família de Palocci a
Brasília para a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 1º
de janeiro de 2003.
Em outra carona que Palocci
pegou no jatinho, em 2003, assessores do ministro abasteceram a
avião com frutas e salgadinhos e
perguntaram até se tinha aparelho de microondas para esquentar a comida. Não tinha.
O ministro costumava viajar sozinho e sem bagagem. Ficava calado a maior parte do tempo. Quando falava, o mais comum era pedir permissão para fumar. Recebia um "não" como resposta.
Tinha pressa. Numa delas, em
2003, Palocci saiu de Brasília,
voou para Ribeirão Preto e voltou
para Brasília no mesmo dia.
Durante a campanha de Lula,
em 2002, Palocci era um usuário
ainda mais freqüente do jatinho.
A ponto de Colnaghi deixar o
avião no aeroporto de Ribeirão,
no hangar da Power Helicópteros.
Numa das viagens à época da
campanha, o jatinho foi usado para buscar Palocci e o deputado federal José Dirceu, então presidente do PT, no Rio de Janeiro. Os
dois chegaram às 22h30 em Congonhas, frustrando expectativa de
Dirceu de ir a outro destino ainda
naquela noite.
Colnaghi tem dois aviões: o Seneca (prefixo PT-RSX), que teria
sido usado para transportar os
dólares de Brasília para São Paulo,
e o Citation, o jatinho que costumava ceder a Palocci.
República de Ribeirão
O empresário vive numa casa de
alto padrão no centro de Penápolis (491 km a noroeste de São Paulo), onde tem uma empresa de
equipamentos de irrigação. Mas
costuma passar parte da semana
na Bahia, na filial da empresa.
Na semana passada, "Beto" -
como é chamado - teria telefonado a Palocci para consultá-lo
sobre como reagir ao assédio dos
jornalistas após a denúncia de
transporte de dólares saídos de
Cuba para a campanha de Lula.
Ele e o irmão, Francisco Carlos
Jorge Colnaghi, são integrantes da
que já foi chamada de "república
de Ribeirão Preto" -apelido do
grupo que orbita em torno de Palocci depois que ele foi designado
ministro da Fazenda.
O grupo tinha tanta expectativa
que a proximidade com Palocci
renderia bons negócios que alugou uma casa em Brasília para
realizar reuniões e churrascos.
O economista Vladimir Poleto,
que trabalhou para Palocci em
sua segunda passagem pela prefeitura de Ribeirão Preto (2001-2002), foi quem cuidou do aluguel
da casa. Adiantou R$ 60 mil, entregues em pacotes de notas, por
seis meses de aluguel. Em entrevista à revista "Veja", Poleto contou que havia transportado US$
1,4 milhão no avião emprestado
por Colnaghi e depois negou a informação.
Ralf Barquete, assessor de Palocci que teria coordenado a operação de transporte dos dólares
cubanos, também freqüentava a
casa de Brasília. Ele morreu de
câncer no ano passado.
Colnaghi, o dono dos aviões Seneca e Citation cedidos ao PT,
também passava por lá quando
estava em Brasília. O advogado
Rogério Buratti, que confirmou
para a "Veja" ter tomado conhecimento da operação com os dólares de Cuba, usava tanto a casa
que deputados chegaram a acusá-lo de ser o locatário do imóvel.
Não era. Poleto fizera o negócio.
Colnaghi, Buratti, Poleto e Barquete têm algo mais em comum
do que os sobrenomes italianos,
típicos de uma região que recebeu
esses imigrantes no final do século 19. Aproveitaram a proximidade com Palocci para tentar fazer
negócios. Segundo fontes do mercado, tentaram, por exemplo, beneficiar um banco chamado Prosper, onde Poleto trabalhou.
Colaborou JOSÉ ALBERTO BOMBIG, do
Painel
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