São Paulo, domingo, 06 de novembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ FUNDOS DE PENSÃO

Ex-secretário do PT e ex-assessor de Dirceu indicou investimentos para a Nucleos, fundação de empregados das estatais de energia nuclear

Sereno tentou influenciar fundo de estatal

LEONARDO SOUZA
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO

Documento obtido pela Folha comprova que o ex-secretário de Comunicação do PT e ex-assessor de José Dirceu na Casa Civil, Marcelo Sereno, exercia influência na Nucleos, fundação de previdência dos empregados das estatais de energia nuclear.
A Nucleos consta da lista dos fundos de pensão que tiveram os sigilos fiscal, bancário e telefônico quebrados pela CPI dos Correios, por suspeitas de terem sido usados como fontes de recursos do esquema do "mensalão".
Em julho deste ano, a Folha publicou reportagem na qual o petista Neildo de Souza Jorge, um dos três representantes dos empregados no Conselho Deliberativo da Nucleos, acusou Sereno de manipular o fundo para desviar dinheiro para o PT, o que o ex-secretário de Comunicação nega.
Uma ligação de Sereno, em outubro de 2004, para o então diretor financeiro da Nucleos, Gildásio Amado Filho, confirma que ele tinha alguma ingerência nas escolhas de investimento da fundação. Sereno pediu para que Gildásio telefonasse para o representante da ASM Asset Management Fernando de Barros Teixeira.
A demanda de Sereno foi anotada por uma das secretárias da Nucleos. "Gildásio, ligar para o senhor Fernando de Barros Teixeira, da ASM, a pedido de M. Sereno", escreveu a secretária em bilhete que foi anexado ao prospecto de um fundo de direitos creditórios (baseados em dívidas imobiliárias) da ASM, uma gestora de recursos de terceiros.
"Informando nossa impossibilidade em out/04", escreveu Gildásio no próprio bilhete, assinado e carimbado. A reportagem pôde consultar o original.
O presidente da Nucleos na época, Paulo Figueiredo, a quem Gildásio estava subordinado, confirmou à Folha a história contida no bilhete. Figueiredo acrescentou que, dias após a ligação de Sereno, Fernando de Barros Teixeira foi recebido em reunião na sede da Nucleos, no Centro do Rio, da qual participaram ele próprio e Gildásio. Na ocasião, o representante da ASM ofereceu à fundação investimentos no fundo de direitos creditórios cujo prospecto Gildásio havia recebido.
Neildo de Souza Jorge afirma que Figueiredo foi alçado ao cargo de presidente da fundação por indicação de Sereno. Gildásio também seria escolha do petista.
"O Marcelo Sereno não indicou, ele pediu. Eu soube desse bilhete depois. Ele ligou e pediu para atender a ASM [...]. Muita gente fala que eu fui indicação dele. Eu não fui indicação dele, não há documento que comprove isso", afirmou Figueiredo.
O presidente da Nucleos contou ainda que o prefeito de Paracambi (município da Baixada Fluminense), o petista André Ceciliano, também pediu para que a ASM fosse atendida pela Nucleos.
"O que acontece é o seguinte: houve esse pedido para atender. Se eu não me engano, o prefeito de Paracambi tinha solicitado para atender o Fernando Teixeira. Ele foi lá, como ASM, da mesma forma que a gente recebeu outros [representantes de empresas]."
Questionado que interesses Sereno teria para indicar uma gestora de recursos, Figueiredo respondeu: "Eu não sei se ele indicou ou conversou. Talvez... Tem gente no PT que tem ligação com corretora, né? Como em qualquer lugar [...] São empresas idôneas e aí vão lá e apresentam suas demandas. Entendeu?".
Figueiredo ressaltou que o telefonema de Sereno foi para Gildásio. Afirmou que Sereno nunca o procurou. O ex-presidente da Nucleos disse ter ouvido falar que a família do prefeito de Paracambi tem corretoras de valores. "Isso é comentário. A família dele tem ligações no mercado, ele é um cara rico, de berço."
Segundo Figueiredo, a Nucleos só não aplicou no fundo da ASM porque os papéis da carteira eram lastreados em TR (Taxa Referencial), investimento que não é permitido pelas regras da fundação.
Em 2004, na gestão de Paulo Figueiredo e de Gildásio, a Nucleos obteve um dos menores rendimentos entre todos os fundos de pensão. No ano passado a rentabilidade da fundação foi de 5,7%, contra média no setor de 17%. Figueiredo deixou a Nucleos em abril deste ano.


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