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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ FUNDOS DE PENSÃO
Ex-secretário do PT e ex-assessor de Dirceu indicou investimentos para a Nucleos, fundação de empregados das estatais de energia nuclear
Sereno tentou influenciar fundo de estatal
LEONARDO SOUZA
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
Documento obtido pela Folha
comprova que o ex-secretário de
Comunicação do PT e ex-assessor
de José Dirceu na Casa Civil, Marcelo Sereno, exercia influência na
Nucleos, fundação de previdência
dos empregados das estatais de
energia nuclear.
A Nucleos consta da lista dos
fundos de pensão que tiveram os
sigilos fiscal, bancário e telefônico
quebrados pela CPI dos Correios,
por suspeitas de terem sido usados como fontes de recursos do
esquema do "mensalão".
Em julho deste ano, a Folha publicou reportagem na qual o petista Neildo de Souza Jorge, um
dos três representantes dos empregados no Conselho Deliberativo da Nucleos, acusou Sereno de
manipular o fundo para desviar
dinheiro para o PT, o que o ex-secretário de Comunicação nega.
Uma ligação de Sereno, em outubro de 2004, para o então diretor financeiro da Nucleos, Gildásio Amado Filho, confirma que
ele tinha alguma ingerência nas
escolhas de investimento da fundação. Sereno pediu para que Gildásio telefonasse para o representante da ASM Asset Management
Fernando de Barros Teixeira.
A demanda de Sereno foi anotada por uma das secretárias da Nucleos. "Gildásio, ligar para o senhor Fernando de Barros Teixeira, da ASM, a pedido de M. Sereno", escreveu a secretária em bilhete que foi anexado ao prospecto de um fundo de direitos creditórios (baseados em dívidas imobiliárias) da ASM, uma gestora de
recursos de terceiros.
"Informando nossa impossibilidade em out/04", escreveu Gildásio no próprio bilhete, assinado
e carimbado. A reportagem pôde
consultar o original.
O presidente da Nucleos na
época, Paulo Figueiredo, a quem
Gildásio estava subordinado,
confirmou à Folha a história contida no bilhete. Figueiredo acrescentou que, dias após a ligação de
Sereno, Fernando de Barros Teixeira foi recebido em reunião na
sede da Nucleos, no Centro do
Rio, da qual participaram ele próprio e Gildásio. Na ocasião, o representante da ASM ofereceu à
fundação investimentos no fundo
de direitos creditórios cujo prospecto Gildásio havia recebido.
Neildo de Souza Jorge afirma
que Figueiredo foi alçado ao cargo de presidente da fundação por
indicação de Sereno. Gildásio
também seria escolha do petista.
"O Marcelo Sereno não indicou,
ele pediu. Eu soube desse bilhete
depois. Ele ligou e pediu para
atender a ASM [...]. Muita gente
fala que eu fui indicação dele. Eu
não fui indicação dele, não há documento que comprove isso",
afirmou Figueiredo.
O presidente da Nucleos contou
ainda que o prefeito de Paracambi
(município da Baixada Fluminense), o petista André Ceciliano,
também pediu para que a ASM
fosse atendida pela Nucleos.
"O que acontece é o seguinte:
houve esse pedido para atender.
Se eu não me engano, o prefeito
de Paracambi tinha solicitado para atender o Fernando Teixeira.
Ele foi lá, como ASM, da mesma
forma que a gente recebeu outros
[representantes de empresas]."
Questionado que interesses Sereno teria para indicar uma gestora de recursos, Figueiredo respondeu: "Eu não sei se ele indicou
ou conversou. Talvez... Tem gente
no PT que tem ligação com corretora, né? Como em qualquer lugar
[...] São empresas idôneas e aí vão
lá e apresentam suas demandas.
Entendeu?".
Figueiredo ressaltou que o telefonema de Sereno foi para Gildásio. Afirmou que Sereno nunca o
procurou. O ex-presidente da Nucleos disse ter ouvido falar que a
família do prefeito de Paracambi
tem corretoras de valores. "Isso é
comentário. A família dele tem ligações no mercado, ele é um cara
rico, de berço."
Segundo Figueiredo, a Nucleos
só não aplicou no fundo da ASM
porque os papéis da carteira eram
lastreados em TR (Taxa Referencial), investimento que não é permitido pelas regras da fundação.
Em 2004, na gestão de Paulo Figueiredo e de Gildásio, a Nucleos
obteve um dos menores rendimentos entre todos os fundos de
pensão. No ano passado a rentabilidade da fundação foi de 5,7%,
contra média no setor de 17%. Figueiredo deixou a Nucleos em
abril deste ano.
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