São Paulo, domingo, 06 de novembro de 2005

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ELIO GASPARI

Eremildo quer ser avaliador no MEC

Eremildo é um idiota e vai pleitear o cargo de avaliador-geral do Ministério da Educação. Os companheiros criaram um megateste para 5 milhões de crianças de duas séries do ensino fundamental. Chama-se ProvaBrasil, está anunciado na internet e abrirá um ciclo de avaliação dos 35 milhões de alunos desse estágio da rede escolar. Isso após terem detonado o Provão, que avaliava os cursos do ensino superior. O plano do idiota é arrumar uma boquinha para avaliar as avaliações dos sistemas de avaliação, estudando novas reavaliações. (O idiota procura um sócio para sua empresa de aplicação de testes.)
Nas próximas semanas, centenas de milhares de crianças da rede escolar passarão por três (ou quatro) avaliações. Uma será o velho teste mensal do colégio. Depois virá a turma do ProvaBrasil. Em seguida, em alguns Estados, o exame de avaliação local. Se a escola for sorteada, chegará o teste federal do Aneb.
Quando os companheiros chegaram a Brasília, o MEC cuidava de três sistemas de aferição de desempenho escolar. A saber:
1) O Saeb, ou Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica, que testa conhecimentos das crianças do ensino fundamental e médio. (Os çábios trocaram o nome da iniciativa para Avaliação Nacional da Educação Básica, a Aneb.) O teste baseia-se numa amostra de 150 mil alunos e é aplicado a cada dois anos. Noves fora uma tola tentativa de esconder o desempenho de cada Estado, deu bons resultados. Ele revela, por exemplo, que, em 2003, 69% dos estudantes estavam mal ou muito mal em matemática.
2) O Exame Nacional do Ensino Médio. Afere os conhecimentos de 1 milhão de jovens de nível médio. Cerca de 450 faculdades aceitam a nota do Enem como um dos fatores de acesso dos estudantes aos seus cursos. É um êxito, mas tem gente querendo acabar com ele.
3) O Provão, ou Exame Nacional de Cursos, criado em 1996, destinava-se a avaliar os conhecimentos dos alunos dos cursos superiores. Em 2002, aferiu o desempenho de 400 mil jovens. Servia sobretudo para desmascarar fábricas de canudos. Durante o mandarinato de Cristovam Buarque, ele foi dinamitado. Converteram-no num teste por amostragem, cujos resultados impedem comparações entre escolas.
O MEC montou o ProvaBrasil para avaliar o aproveitamento de todas as crianças das 200 mil escolas municipais e estaduais. Segundo o ministro Fernando Haddad, isso permitirá a microobservação da rede de ensino. Vai-se descobrir que a escola Marechal Deodoro, no município de Marechal Fortunato, está mal em matemática, coisa que já se podia intuir pelo Saeb.
Os companheiros destruíram a essência classificatória do Provão, que fazia exatamente isso, avaliando instituições sobre as quais o governo federal tem enorme poder, até mesmo o de cassar o registro de faculdades. (O tucanato rosnou muito, mas cassou nenhuma.)
Tendo destruído o que poderia funcionar, montaram uma novidade que servirá para fechar contratos, formar cadastros, produzir logotipos e marquetagens. Feito o teste, a burocracia federal receberá os números do mau desempenho da escola de Marechal Fortunato. Vão fazer o quê com essa informação? O MEC não tem poder nem estrutura para se meter na vida da professora de matemática da cidade. Ela é prima do prefeito, foi requisitada pelo seu gabinete e, de cada três aulas, dá uma.
O governo federal pode estimular a realização de testes universais, desde que governadores e prefeitos queiram aplicá-los. Em pelo menos seis Estados vai-se gastar com coisa semelhante ao que existe. Entre 2000 e 2004, o governador Itamar Franco fez uma pesquisa censitária em Minas Gerais e teve os melhores resultados. O secretário de educação de São Paulo já denunciou a redundância da despesa. É verdade que as burocracias estaduais não divulgam números que permitam aos pais das crianças a observação do desempenho das escolas.
A memória do MEC ensina: investimentos federais em problemas municipais só servem para produzir papelada, propaganda e contratos (R$ 57 milhões, segundo o edital de licitação, para a empresa que organizará a prova).

Detergente eleitoral
Todos os candidatos a presidente precisarão convencer o eleitorado de que não estão montados num caixa dois. Proposta: o PT, o PSDB e o PFL juntam-se e cada um escolhe uma grande empresa de consultoria. Feito isso, formam-se três equipes mistas e cada candidato terá suas contas permanentemente auditadas por representantes das três auditorias, duas das quais indicadas pelos partidos adversários. Essa providência pode ser anunciada sem que sejam necessárias leis ou votações no Congresso. Basta papel, caneta e vontade de jogar limpo.

Aviso amigo
A turma do "mensalão" sindical acha que o caso dos cartazes que mostravam o presidente do PFL, Jorge Bornhausen, no corpo de Hitler será varrido para baixo do tapete. Falso. Puxando-se o fio da meada de Avel Alencar, diretor do Sindicato dos Trabalhadores de Informática de Brasília, chega-se ao cofre do Fundo de Amparo do Trabalhador.

EsmolaBrás
José Serra, prefeito de São Paulo e tucano favorito na sucessão presidencial, quer estatizar a esmola. Anunciou na Fiesp iniciativa intitulada "Dê mais que esmola. Dê futuro". A idéia é convencer a patuléia a negar trocados às crianças que os pedem nas esquinas. Serra quer canalizar o dinheiro a um Fundo Municipal da Criança e do Adolescente. Pode-se acreditar que o dinheiro será bem administrado pelos miserocratas municipais, mas a explicação do prefeito assusta: "Acredito que dessa maneira vamos conseguir erradicar o problema dos meninos de rua". Quando o problema dos meninos de rua precisa ser erradicado, como se fez com a varíola, algo vai mal.

Mestre Garotinho
Anthony Garotinho, príncipe da sociologia periférica, escreveu o seguinte: "Acusam-me de populista por implantar projetos dirigidos às camadas populares". No seu baronato, as locomotivas da Central do Brasil pagam alíquota de 30% sobre o consumo de energia elétrica. Elas transportam 400 mil pessoas por dia, cobrando R$ 1,65 por viagem. O ICMS representa cerca de R$ 0,10 em cada bilhete. (Em São Paulo, cobra-se menos da metade.) Na verdade, a alíquota de ICMS de Garotinho é de 25%. Os outros 5% são tungados para o Fundo da Pobreza. Isso é que é projeto para as camadas populares. Os nababos que usam os trens precisam aprender a pagar impostos.

Natasha social
Madame Natasha não recebeu a repasse de "mensalão" que custeava algumas de suas bolsas de estudo. Mesmo assim, zela pela concretude da fala. Outro dia, discursando para abonados, Lula se referiu pela enésima vez aos "movimentos sociais". Natasha faz um apelo ao nosso guia, para que defina o que vem a ser um "movimento social". Mesmo sabendo que, no morro, "movimento" é o nome que se dá ao tráfico, Madame indaga: O AeroLula, em vôo, é um movimento social?

Miserê americano
Vai mal o companheiro Bush. Hoje realiza-se a maratona de Nova York, com quase 85 mil inscritos. O percurso é vigiado por 20 postos de voluntários prontos para socorrer os corredores. Cada um precisava de algo como vinte macas. Cadê elas? Estão no Iraque. Como se estivessem em Nairobi, os novaiorquinos tiveram que se virar.


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