São Paulo, domingo, 06 de novembro de 2005

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POUSO DA ÁGUIA

Presidente vai sugerir moderação das críticas em relação à Venezuela, um dos temas da visita do americano

Lula pedirá a Bush que não anime antichavistas

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende sugerir ao presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, hoje, em Brasília, que não acirre a retórica contra o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, porque isso estimula a oposição venezuelana, "e ela não tem nada de democrática". Ou seja: Lula dirá que o risco é de Bush ajudar a incendiar o país.
Conforme a Folha apurou, Lula ensaiou usar um tom de alerta: reconhece que Chávez por vezes extrapola, mas foi eleito e reeleito democraticamente. Já a oposição venezuelana é "golpista" e interpreta o que Washington diz contra Chávez como apoio e incentivo a suas ações.
Lula tende a concordar com parte das críticas que Bush certamente fará a Chávez, mas pedirá moderação em relação à Venezuela, até para facilitar a mediação brasileira entre os dois países.
Assessores diplomáticos americanos informaram à Folha que não há indícios de que Bush pretende demonstrar apoio à pretensão brasileira de obter um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas). Segundo os assessores, os textos preparativos da visita não mencionam manifestação positiva de Bush. A visita começou ontem à noite e termina hoje, depois de almoço dos dois presidentes e de seus principais assessores na Granja do Torto e de uma palestra de Bush.
O Planalto e o Itamaraty devem ficar frustrados, porque a expectativa brasileira é a de que Bush dê um passo adiante a favor da candidatura do Brasil a uma vaga permanente no conselho -se não um apoio público, pelo menos gestos de simpatia.
O subsecretário-geral de Política do Itamaraty, embaixador Antônio Patriota, disse que há "chances renovadas" e "condições mais propícias" para que o governo Bush apóie a inclusão brasileira. Tanto o então secretário de Estado Colin Powell, em outubro de 2004, quanto sua sucessora, Condoleezza Rice, em abril, aproveitaram viagens a Brasília para deixar uma brecha para o apoio. Não defenderam explicitamente a vaga do Brasil, mas não descartaram a possibilidade.
A expectativa é a de que Bush seja mais afirmativo a favor da vaga brasileira. Em recente entrevista ao jornal "Miami Herald", o subsecretário americano para a América Latina, Thomas Shanon (que integra a comitiva de Bush), elogiou o Brasil como uma nação importante e emergente, comparável ao Japão e à Índia. Esses dois países também são candidatos a uma vaga permanente no Conselho da ONU. Os EUA só apoiam explicitamente o Japão.
Um quarto candidato é a Alemanha. Na avaliação brasileira, Washington dificilmente apoiará a Alemanha porque não quer ferir suscetibilidades de aliados -a pretensão alemã enfrenta resistência na União Européia.
Patriota diz que a vinda de Bush ocorre após várias visitas de altas autoridades americanas, como Powel e Rice, e contradiz a versão de que haveria um "sentimento anti-americanista" no governo Lula. "O diálogo entre os dois países é bom e está em fase de aprofundamento", disse.
Esse também é o argumento do embaixador dos EUA que se despede hoje de Brasília, John Danilovich. Ele diz que toda a cúpula do governo do seu país já visitou Brasília no atual governo e a própria vinda de Bush "demonstra a importância que ele dá ao Brasil".
Segundo Patriota, estarão em pauta temas políticos e econômicos bilaterais e multilaterais. Lula prefere não tocar em dois temas delicados. Um deles é a declaração de Chávez de que estaria em estudo um acordo nuclear Brasil-Argentina-Venezuela. Se houver referência a isso, o presidente pretende ser curto e negar o acordo.
Outro tema que incomoda o governo brasileiro é a presença de tropas americanas no Paraguai. Lula não deve questionar Bush, tampouco o americano tem interesse em levantar o assunto.


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