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POUSO DA ÁGUIA
Presidente vai sugerir moderação das críticas em relação à Venezuela, um dos temas da visita do americano
Lula pedirá a Bush que não anime antichavistas
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva pretende sugerir ao presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, hoje, em Brasília, que
não acirre a retórica contra o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, porque isso estimula a oposição venezuelana, "e ela não tem
nada de democrática". Ou seja:
Lula dirá que o risco é de Bush
ajudar a incendiar o país.
Conforme a Folha apurou, Lula
ensaiou usar um tom de alerta: reconhece que Chávez por vezes extrapola, mas foi eleito e reeleito
democraticamente. Já a oposição
venezuelana é "golpista" e interpreta o que Washington diz contra Chávez como apoio e incentivo a suas ações.
Lula tende a concordar com
parte das críticas que Bush certamente fará a Chávez, mas pedirá
moderação em relação à Venezuela, até para facilitar a mediação
brasileira entre os dois países.
Assessores diplomáticos americanos informaram à Folha que
não há indícios de que Bush pretende demonstrar apoio à pretensão brasileira de obter um assento
permanente no Conselho de Segurança da ONU (Organização
das Nações Unidas). Segundo os
assessores, os textos preparativos
da visita não mencionam manifestação positiva de Bush. A visita
começou ontem à noite e termina
hoje, depois de almoço dos dois
presidentes e de seus principais
assessores na Granja do Torto e
de uma palestra de Bush.
O Planalto e o Itamaraty devem
ficar frustrados, porque a expectativa brasileira é a de que Bush dê
um passo adiante a favor da candidatura do Brasil a uma vaga
permanente no conselho -se
não um apoio público, pelo menos gestos de simpatia.
O subsecretário-geral de Política do Itamaraty, embaixador Antônio Patriota, disse que há
"chances renovadas" e "condições mais propícias" para que o
governo Bush apóie a inclusão
brasileira. Tanto o então secretário de Estado Colin Powell, em
outubro de 2004, quanto sua sucessora, Condoleezza Rice, em
abril, aproveitaram viagens a Brasília para deixar uma brecha para
o apoio. Não defenderam explicitamente a vaga do Brasil, mas não
descartaram a possibilidade.
A expectativa é a de que Bush
seja mais afirmativo a favor da vaga brasileira. Em recente entrevista ao jornal "Miami Herald", o
subsecretário americano para a
América Latina, Thomas Shanon
(que integra a comitiva de Bush),
elogiou o Brasil como uma nação
importante e emergente, comparável ao Japão e à Índia. Esses dois
países também são candidatos a
uma vaga permanente no Conselho da ONU. Os EUA só apoiam
explicitamente o Japão.
Um quarto candidato é a Alemanha. Na avaliação brasileira,
Washington dificilmente apoiará
a Alemanha porque não quer ferir
suscetibilidades de aliados -a
pretensão alemã enfrenta resistência na União Européia.
Patriota diz que a vinda de Bush
ocorre após várias visitas de altas
autoridades americanas, como
Powel e Rice, e contradiz a versão
de que haveria um "sentimento
anti-americanista" no governo
Lula. "O diálogo entre os dois países é bom e está em fase de aprofundamento", disse.
Esse também é o argumento do
embaixador dos EUA que se despede hoje de Brasília, John Danilovich. Ele diz que toda a cúpula
do governo do seu país já visitou
Brasília no atual governo e a própria vinda de Bush "demonstra a
importância que ele dá ao Brasil".
Segundo Patriota, estarão em
pauta temas políticos e econômicos bilaterais e multilaterais. Lula
prefere não tocar em dois temas
delicados. Um deles é a declaração de Chávez de que estaria em
estudo um acordo nuclear Brasil-Argentina-Venezuela. Se houver
referência a isso, o presidente pretende ser curto e negar o acordo.
Outro tema que incomoda o governo brasileiro é a presença de
tropas americanas no Paraguai.
Lula não deve questionar Bush,
tampouco o americano tem interesse em levantar o assunto.
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