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Pesquisa indica percepção maior de corrupção no país
ONG classifica o Brasil como 70º colocado em uma lista de 163 participantes
Transparência Internacional credita nota 3,3 ao país; mensalão e sanguessugas são apontados como fatores da piora em classificação
MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DE LONDRES
A percepção da corrupção no
Brasil piorou "significativamente" no último ano, segundo
relatório que será divulgado
hoje pela Transparência Internacional, uma organização
não-governamental.
O país aparece em 70º lugar
em uma lista de 163 nações
classificadas de acordo com
uma nota que varia de zero a
dez, em um documento chamado Índice de Percepções de
Corrupção. O Brasil tem 3,3
pontos, bem mais próximo do
último colocado, o Haiti (1,8
ponto), do que dos três que estão no topo da lista -Finlândia,
Islândia e Nova Zelândia, com
9,6 cada um.
Levando em conta apenas os
154 países que aparecem nos
índices dos dois últimos anos, o
Brasil caiu cinco posições em
relação ao levantamento de
2005 -passou de 61º a 66º.
"Brasil, Cuba, Israel e Estados Unidos estão entre os países com uma piora significativa
nos níveis de corrupção percebidos", afirma o comunicado
oficial da organização.
Claudio Weber Abramo, diretor-executivo da Transparência Brasil, associada à ONG
que produz o índice, afirma que
a piora da percepção internacional está ligada aos escândalos políticos no último ano
-como o do mensalão e o da
máfia dos sanguessugas. "Parece-me que os escândalos do ano
passado foram determinantes
nessa queda do Brasil, porque
tiveram muita repercussão internacional", disse.
O ranking da Transparência
Internacional é feito anualmente desde 1995, colhendo
opiniões de pessoas ligadas direta ou indiretamente a negócios internacionais sobre a corrupção nos setores público e
privado de um grupo de países.
Apesar de não ser baseado
em dados objetivos e de ter
margem de erro de até oito posições para baixo ou para cima,
o índice é um bom indicador da
imagem internacional do país,
segundo Abramo. "Se o governo brasileiro tivesse tomado
medidas fortes e bastante nítidas de combate à corrupção, isso teria se refletido numa melhoria de imagem", avalia.
Durante a campanha eleitoral, o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva repetiu diversas
vezes que em seu governo não
foi a corrupção que aumentou,
mas sim as divulgações das medidas de combate. O presidente
chegou a dizer que era o único
brasileiro que governou o país e
que tinha autoridade para falar
em corrupção, pelo seu trabalho em eliminá-la.
Entre os países da América
do Sul pesquisados, o Brasil
aparece em quarto lugar, atrás
do Chile (20º), do Uruguai
(28º) e da Colômbia (59º). O
país com a pior percepção de
corrupção no continente é a
Venezuela (138º).
Impacto econômico
Apesar de respeitado internacionalmente e de servir de
base para sugestões de políticas
de combate à corrupção, o índice da Transparência Internacional não avalia o custo desta
prática sobre a economia.
O argumento mais comum é
o de que um país visto como
corrupto tende a ser preterido
nos investimentos industriais,
mas não há medidas objetivas.
"Ninguém fez este levantamento, não sei qual é a cesta de
fatores que são levados em conta em uma decisão empresarial
e o quanto a corrupção pesa",
afirma Abramo.
Um exemplo prático é o caso
da China, que continua sendo
um dos principais recebedores
de investimentos mesmo com
sua má posição no ranking
-está em 70º no deste ano, junto com o Brasil.
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