São Paulo, segunda-feira, 06 de novembro de 2006

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Pesquisa indica percepção maior de corrupção no país

ONG classifica o Brasil como 70º colocado em uma lista de 163 participantes

Transparência Internacional credita nota 3,3 ao país; mensalão e sanguessugas são apontados como fatores da piora em classificação

MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DE LONDRES

A percepção da corrupção no Brasil piorou "significativamente" no último ano, segundo relatório que será divulgado hoje pela Transparência Internacional, uma organização não-governamental.
O país aparece em 70º lugar em uma lista de 163 nações classificadas de acordo com uma nota que varia de zero a dez, em um documento chamado Índice de Percepções de Corrupção. O Brasil tem 3,3 pontos, bem mais próximo do último colocado, o Haiti (1,8 ponto), do que dos três que estão no topo da lista -Finlândia, Islândia e Nova Zelândia, com 9,6 cada um.
Levando em conta apenas os 154 países que aparecem nos índices dos dois últimos anos, o Brasil caiu cinco posições em relação ao levantamento de 2005 -passou de 61º a 66º.
"Brasil, Cuba, Israel e Estados Unidos estão entre os países com uma piora significativa nos níveis de corrupção percebidos", afirma o comunicado oficial da organização.
Claudio Weber Abramo, diretor-executivo da Transparência Brasil, associada à ONG que produz o índice, afirma que a piora da percepção internacional está ligada aos escândalos políticos no último ano -como o do mensalão e o da máfia dos sanguessugas. "Parece-me que os escândalos do ano passado foram determinantes nessa queda do Brasil, porque tiveram muita repercussão internacional", disse.
O ranking da Transparência Internacional é feito anualmente desde 1995, colhendo opiniões de pessoas ligadas direta ou indiretamente a negócios internacionais sobre a corrupção nos setores público e privado de um grupo de países.
Apesar de não ser baseado em dados objetivos e de ter margem de erro de até oito posições para baixo ou para cima, o índice é um bom indicador da imagem internacional do país, segundo Abramo. "Se o governo brasileiro tivesse tomado medidas fortes e bastante nítidas de combate à corrupção, isso teria se refletido numa melhoria de imagem", avalia.
Durante a campanha eleitoral, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva repetiu diversas vezes que em seu governo não foi a corrupção que aumentou, mas sim as divulgações das medidas de combate. O presidente chegou a dizer que era o único brasileiro que governou o país e que tinha autoridade para falar em corrupção, pelo seu trabalho em eliminá-la.
Entre os países da América do Sul pesquisados, o Brasil aparece em quarto lugar, atrás do Chile (20º), do Uruguai (28º) e da Colômbia (59º). O país com a pior percepção de corrupção no continente é a Venezuela (138º).

Impacto econômico
Apesar de respeitado internacionalmente e de servir de base para sugestões de políticas de combate à corrupção, o índice da Transparência Internacional não avalia o custo desta prática sobre a economia.
O argumento mais comum é o de que um país visto como corrupto tende a ser preterido nos investimentos industriais, mas não há medidas objetivas.
"Ninguém fez este levantamento, não sei qual é a cesta de fatores que são levados em conta em uma decisão empresarial e o quanto a corrupção pesa", afirma Abramo.
Um exemplo prático é o caso da China, que continua sendo um dos principais recebedores de investimentos mesmo com sua má posição no ranking -está em 70º no deste ano, junto com o Brasil.


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