São Paulo, terça-feira, 06 de novembro de 2007

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3º mandato é "sarna para se coçar", diz Lula

Segundo o presidente, debate sobre proposta de mais uma reeleição é "falta de sensibilidade" e "insensatez pura"

Sobre Hugo Chávez, disse achar "engraçadas" críticas ao venezuelano e não aos primeiros-ministros da Europa que ficam no poder

FELIPE SELIGMAN
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Pressionado pelos tucanos, que ameaçam o acordo para prorrogar a CPMF, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que a discussão em torno de um terceiro mandato é "insensatez pura" e "falta de sensibilidade". Segundo ele, tratar do assunto é "procurar sarna para se coçar".
Nos últimos dias, o PSDB passou a cobrar um novo posicionamento do presidente diante de declarações de petistas em favor de um projeto que permita a Lula disputar um terceiro mandato consecutivo.
"Acho que é insensato qualquer pessoa ficar discutindo aumentar a possibilidade de um terceiro mandato, acho que o PT tem que tomar uma decisão com relação à proposta que está sendo levantada dentro do Congresso", afirmou Lula.
"Ainda hoje [ontem] pretendo conversar com o presidente [do PT] Ricardo Berzoini, mas já conversei com o presidente [da Câmara] Arlindo Chinaglia, porque não tem sentido. Só interessa discutir eleições agora à oposição", complementou.

Chávez
Lula conversou com jornalistas ao final da cerimônia de entrega do 1º Prêmio Internacional dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, no Palácio do Planalto. Ele nem esperou ser questionado sobre a possibilidade do terceiro mandato, aproveitando para tocar no tema diante de uma pergunta sobre recente proposta de reforma constitucional do venezuelano Hugo Chávez, que inclui a reeleição sem limites.
A Folha apurou que na reunião de coordenação da manhã de ontem, com a presença de ao menos sete ministros, Lula foi aconselhado a negar a possibilidade de articulação para possível nova reeleição. Mesmo assim, ao responder às recentes propostas de Chávez, o presidente disse achar "engraçado" que críticas sejam feitas ao venezuelano e não a primeiros-ministros europeus que ficam "tanto tempo" no poder.
"É engraçado, porque eu já vi Margareth Thatcher [primeira-ministra do Reino Unido de 1979 a 1990] ser tantas vezes reeleita, já vi Helmut Khol [primeiro-ministro da Alemanha de 1982 a 1998] ficar tanto tempo, e eu nunca vi ninguém perguntar se vários mandatos sucessivos eram ruins", disse.
Reportagem da Folha mostrou que, em abril, a Câmara desarquivou, entre outras, uma PEC (Proposta de Emenda Constitucional) que permite a reeleição sem limites para cargos majoritários. Chinaglia nega articulação para um terceiro mandato, dizendo que desarquivar propostas é função direta da Secretaria Geral da Mesa.
O pedido partiu do deputado Fernando Ferro (PT-PE), que, em fevereiro, solicitou desarquivamento de proposta de sua autoria, o que abriu espaço para outras virem juntas. Entre elas, a de autoria do ex-deputado Inaldo Leitão (PR-PB), que permite a presidente, prefeitos e governadores concorrerem a infinitas reeleições, desde que se licenciem do cargo seis meses antes da disputa.


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