|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Dilma improvisa seu primeiro comício eletrônico
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES
Foi absolutamente involuntário, mas a ministra Dilma
Rousseff acabou sendo a protagonista do que soou como o primeiro comício eletrônico da
campanha eleitoral de 2010.
Dilma havia sido apresentada por Quentin Peel, um dos
moderadores do seminário sobre investimento no Brasil, como alguém que poderia concorrer à Presidência.
No intervalo, Dilma saiu para
tomar um café e começou a
conversar informalmente com
a Folha quando todos os jornalistas de televisão que seguiam
o evento apertaram a ministra
contra o balcão do café e crivaram-na de perguntas, a começar pela campanha de 2010.
A jornalista quis saber se Dilma achava que o público do seminário viera para ver a candidata. Ela negou: "99% vieram
para ver o Brasil". Mas depois
foi encadeando uma resposta
após outra até improvisar um
mini-manifesto eleitoral.
Manifesto que reforça a imagem usual da ministra como
nacionalista, desenvolvimentista e favorável a mais intervenção do Estado. Mas ela qualificou em que Estado acredita:
"Nem mínimo nem máximo; o
adequado". Exemplo prático de
adequação: quando assumiu
em 2003 o Ministério de Minas
e Energia, havia 25 motoristas
e apenas três engenheiros.
O Estado de Dilma seria, portanto, muito mais executivo do
que inchado. Nessa trilha, comentou a polêmica fiscalização
x execução desencadeada por
Lula, ao criticar o que considera excesso de instrumentos de
fiscalização, que travam as
obras. Para Dilma, o problema
não está no excesso de instrumentos de fiscalização, mas na
carência de meios de execução.
Um Estado capaz de ser mais
executivo teria, segundo ela,
que atacar o problema dos salários dos professores e do equipamento da Polícia Federal.
O desenvolvimentismo nacionalista aparece quando ela
defende que o Brasil em vez de
só exportar minério, produza
peças de aço ou cascos de plataforma para explorar petróleo.
Quando a Folha pergunta se
tudo o que ela dissera não era
uma plataforma pós-Lula, a
resposta vem rápida -e negativa: "Não, é para o que resta do
mandato do presidente Lula".
O Estado reapareceu no discurso com o qual Lula agradeceu o prêmio Chatam House-2009, do Royal Institute of International Affairs, que recebeu à noite: "Não queríamos, e
não queremos, um Estado que
intervenha abusivamente no
sistema produtivo ou busque
substituí-lo. Necessitamos no
entanto de um Estado que induza e regule o desenvolvimento. Um Estado democrático,
com fortes mecanismos de
controle e participação social".
Texto Anterior: "Efeito Ciro" implode grupo de Marta em SP Próximo Texto: Posse de senador põe fim a crise Índice
|