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CASO SANTO ANDRÉ
Denúncia de promotores sustenta que assassinato foi "queima de arquivo" e está ligado a esquema de corrupção
Amigo mandou matar Daniel, diz Promotoria
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
O empresário Sérgio Gomes da
Silva foi denunciado ontem pelo
Ministério Público de São Paulo
como um dos mandantes do assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel (PT). Segundo a
Promotoria, o crime tem relação
com a campanha eleitoral que levou Luiz Inácio Lula da Silva à
Presidência, no ano passado.
Antes de ser assassinado, Daniel
havia sido convidado a assumir a
coordenação do programa de governo da campanha de Lula. A cúpula petista, no entanto, teria feito
um pedido: que o prefeito afastasse da administração de Santo André possíveis focos de irregularidades e os eventuais envolvidos,
para que fatos negativos não atrapalhassem a candidatura Lula.
Diante disso, Daniel, segundo
os promotores, teria oferecido
"forte resistência" à atuação de
Gomes da Silva e de outras pessoas na prefeitura. Para "eliminar
aquele obstáculo [o prefeito] colocado para impedir o avanço de
suas atividades criminosas, que
lhe rendiam vultosas importâncias, Sérgio Gomes da Silva decidiu matar o prefeito", afirmam os
promotores na denúncia.
Servidores da prefeitura descreveram à Promotoria discussões
que teriam acontecido no gabinete do prefeito cerca de uma semana antes de sua morte. Podiam ser
ouvidas pelos corredores.
"A morte da vítima foi idealizada e encomendada por Sérgio Gomes da Silva para assegurar a execução de outros crimes (...) contra
a administração pública de Santo
André. Tais crimes eram combatidos pelo prefeito que, (...) na ótica de Sérgio Gomes da Silva, deveria ser eliminado definitivamente,
como de fato foi", escreveram os
promotores no documento.
A denúncia será aditada a um
processo criminal em trâmite no
Fórum de Itapecerica da Serra
(Grande São Paulo).
Ao pedido de aditamento, foram anexadas cópias da quebra
do sigilo bancário de Gomes da
Silva -que registram depósitos
de empresas de transporte de
Santo André em sua conta particular- e a denúncia oferecida
contra o empresário e outras cinco pessoas por formação de quadrilha e concussão (extorsão praticada por agente público).
Essa denúncia ainda não foi
aceita pelo juiz -condição básica
para a abertura de ação judicial.
Versões
A motivação do crime apresentada pelo Ministério Público coincide com o que afirma João Francisco, irmão de Daniel, mas diverge frontalmente da conclusão da
Polícia Civil, primeira a investigar
o assassinato do prefeito.
Em junho do ano passado, João
Francisco disse à Folha que o prefeito teria sido morto porque tinha se "rebelado" contra um esquema de propina cobrada por
colaboradores seus na prefeitura.
"Ele chegou a falar para Míriam
[Belchior, ex-mulher de Daniel,
hoje assessora especial da Presidência da República, ligada ao
ministro José Dirceu, da Casa Civil] que iria tomar providências
quanto a isso em setembro, mas
não teve tempo", disse.
A conclusão da Polícia Civil, de
abril do ano passado, é bem diferente. O prefeito teria sido vítima
de uma sucessão de azares.
Ao sair de um jantar com Gomes da Silva, a Pajero em que estava Daniel teria cruzado com a
quadrilha da favela Pantanal que,
minutos antes, tinha tentado sequestrar um empresário.
O grupo decidiu naquele momento levar Daniel e pedir resgate
depois. Ao descobrir a identidade
da vítima, um dos chefes da quadrilha teria telefonado para o cativeiro e dito: "dispense o BO", no
sentido de libertar o prefeito. A
mensagem foi interpretada como
uma ordem para matá-lo.
O Ministério Público reabriu a
apuração a pedido de familiares
de Daniel, que não aceitaram a
versão da polícia. "Nosso primeiro passo foi desconstruir a conclusão do DHPP (Departamento
de Homicídios e Proteção à Pessoa). Pesquisamos, ouvimos acusados e testemunhas várias vezes
e encontramos muitas contradições", disse Roberto Wider Filho,
um dos promotores do caso.
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