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São Paulo, sábado, 06 de dezembro de 2003

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CASO SANTO ANDRÉ

Denúncia de promotores sustenta que assassinato foi "queima de arquivo" e está ligado a esquema de corrupção

Amigo mandou matar Daniel, diz Promotoria

LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

O empresário Sérgio Gomes da Silva foi denunciado ontem pelo Ministério Público de São Paulo como um dos mandantes do assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel (PT). Segundo a Promotoria, o crime tem relação com a campanha eleitoral que levou Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência, no ano passado.
Antes de ser assassinado, Daniel havia sido convidado a assumir a coordenação do programa de governo da campanha de Lula. A cúpula petista, no entanto, teria feito um pedido: que o prefeito afastasse da administração de Santo André possíveis focos de irregularidades e os eventuais envolvidos, para que fatos negativos não atrapalhassem a candidatura Lula.
Diante disso, Daniel, segundo os promotores, teria oferecido "forte resistência" à atuação de Gomes da Silva e de outras pessoas na prefeitura. Para "eliminar aquele obstáculo [o prefeito] colocado para impedir o avanço de suas atividades criminosas, que lhe rendiam vultosas importâncias, Sérgio Gomes da Silva decidiu matar o prefeito", afirmam os promotores na denúncia.
Servidores da prefeitura descreveram à Promotoria discussões que teriam acontecido no gabinete do prefeito cerca de uma semana antes de sua morte. Podiam ser ouvidas pelos corredores.
"A morte da vítima foi idealizada e encomendada por Sérgio Gomes da Silva para assegurar a execução de outros crimes (...) contra a administração pública de Santo André. Tais crimes eram combatidos pelo prefeito que, (...) na ótica de Sérgio Gomes da Silva, deveria ser eliminado definitivamente, como de fato foi", escreveram os promotores no documento.
A denúncia será aditada a um processo criminal em trâmite no Fórum de Itapecerica da Serra (Grande São Paulo).
Ao pedido de aditamento, foram anexadas cópias da quebra do sigilo bancário de Gomes da Silva -que registram depósitos de empresas de transporte de Santo André em sua conta particular- e a denúncia oferecida contra o empresário e outras cinco pessoas por formação de quadrilha e concussão (extorsão praticada por agente público).
Essa denúncia ainda não foi aceita pelo juiz -condição básica para a abertura de ação judicial.

Versões
A motivação do crime apresentada pelo Ministério Público coincide com o que afirma João Francisco, irmão de Daniel, mas diverge frontalmente da conclusão da Polícia Civil, primeira a investigar o assassinato do prefeito.
Em junho do ano passado, João Francisco disse à Folha que o prefeito teria sido morto porque tinha se "rebelado" contra um esquema de propina cobrada por colaboradores seus na prefeitura. "Ele chegou a falar para Míriam [Belchior, ex-mulher de Daniel, hoje assessora especial da Presidência da República, ligada ao ministro José Dirceu, da Casa Civil] que iria tomar providências quanto a isso em setembro, mas não teve tempo", disse.
A conclusão da Polícia Civil, de abril do ano passado, é bem diferente. O prefeito teria sido vítima de uma sucessão de azares.
Ao sair de um jantar com Gomes da Silva, a Pajero em que estava Daniel teria cruzado com a quadrilha da favela Pantanal que, minutos antes, tinha tentado sequestrar um empresário.
O grupo decidiu naquele momento levar Daniel e pedir resgate depois. Ao descobrir a identidade da vítima, um dos chefes da quadrilha teria telefonado para o cativeiro e dito: "dispense o BO", no sentido de libertar o prefeito. A mensagem foi interpretada como uma ordem para matá-lo.
O Ministério Público reabriu a apuração a pedido de familiares de Daniel, que não aceitaram a versão da polícia. "Nosso primeiro passo foi desconstruir a conclusão do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa). Pesquisamos, ouvimos acusados e testemunhas várias vezes e encontramos muitas contradições", disse Roberto Wider Filho, um dos promotores do caso.


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