São Paulo, terça-feira, 06 de dezembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ FUNDOS DE PENSÃO

Segundo relatório, distribuidoras de títulos que obtiveram lucros milionários contra Prece estão ligadas a esquema de Valério

Coaf confirma elo entre fundo e "valerioduto"

LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

JANAÍNA LEITE
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA

Relatório do Coaf obtido pela Folha confirma, pela primeira vez, que distribuidoras de títulos que obtiveram lucros milionários contra o fundo de pensão Prece (da Cedae, companhia de saneamento do Rio) estão ligadas, direta ou indiretamente, ao esquema de repasses de Marcos Valério de Souza a partidos políticos.
Segundo auditoria da Secretaria de Previdência Complementar, ainda em curso, a Laeta DTVM e a Euro DTVM teriam ganho aproximadamente R$ 5 milhões, entre 2003 e 2005, em operações que teriam resultado em prejuízo de mesmo valor para a Prece, fundo de pensão que tem sido alvo de lobby dos deputados federais Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e Carlos Willian (PTC-MG), ambos da bancada do ex-governador do Rio Anthony Garotinho. Os dois têm se desentendido com integrantes da CPI dos Correios porque tentam tirar a Prece das investigações sobre os fundos.
De acordo com o documento do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), a Laeta e a Euro têm conexões com a empresa de fachada Guaranhuns (que Marcos Valério diz ter usado para repassar cerca de R$ 10 milhões ao PL), com a Natimar (que a Polícia Federal suspeita pertencer ao doleiro Najun Turner) e com a corretora Bônus-Banval (que Valério usou para repassar cerca de R$ 10 milhões ao PL).
Uma das linhas de investigação da CPI dos Correios é provar que recursos foram desviados dos fundos para atender a interesses políticos. Uma das hipóteses é que parte do dinheiro teria sido enviada ao exterior.

Relatório
Hoje, o deputado ACM Neto, sub-relator da CPI para fundos de pensão, deve apresentar seu relatório. A Prece e a Nucleos (fundação de previdência das estatais nucleares) estão entre seus principais alvos. O documento do Coaf demonstra que, no mesmo período em que a Euro transferiu R$ 525 mil para a Natimar (entre maio e julho de 2004), a Natimar depositou R$ 275 mil na RS Administração, offshore no Panamá.
O Coaf apurou que Laeta e Guaranhuns são ligadas informalmente ao operador de mercado Lúcio Bolonha Funaro, tido também como doleiro. Uma de suas empresas, a Royster Serviços, transferiu, em maio de 2004, R$ 5,539 milhões para a offshore panamenha.
Passaram pelas contas da Royster, entre agosto de 2004 e agosto deste ano, aproximadamente R$ 3 milhões, valor não condizente com a capacidade financeira presumida da empresa, de acordo com o relatório do Coaf. O documento informa que parte dos R$ 3 milhões foi sacada em dinheiro.
A offshore RS Administração aparece em outra operação suspeita sob investigação da CPI dos Correios. Um total de R$ 3,1 milhões teria sido enviado para a conta da RS pelo seguinte caminho: a 2S Participações, de Marcos Valério, repassou o valor, por meio da Bônus-Banval, para a RS Empreendimentos e Participações, que tem a presidente do Banco Rural, Kátia Rabelo, como principal acionista.
Segundo o sub-relator da CPI dos Correios, deputado federal Gustavo Fruet (PSDB-PR), depois de passar pela empresa da presidente do Rural, o dinheiro foi transferido para a offshore.

Bônus-Banval
A Bônus-Banval consta também do relatório do Coaf por ter declarado inadimplente, em maio de 2004, o operador de mercado Waldir Vicente do Prado, devido ao não-pagamento de uma dívida no valor de R$ 5,66 milhões. No mesmo mês, no entanto, ele transferiu R$ 2,2 milhões para a RS Administração. De acordo com Fruet, a CPI investiga se Prado foi usado como laranja.
A Euro DTVM, apontada como empresa que causou prejuízos ao fundo da Cedae, mantinha negócios com pelo menos uma das empresas de Lúcio Bolonha Funaro, a Erst Banking Empreendimentos, de acordo com Coaf. Entre setembro de 2003 e março de 2004, a Erst movimentou R$ 25,5 milhões numa conta do extinto BCN, comprado pelo Bradesco. Essa conta alimentou a Turfa DTVM, transformada posteriormente em Euro DTVM.
Assim como a Euro, a Laeta também aparece na lista de empresas que teriam recebido dinheiro da conta da Erst no BCN. Não há menção aos valores que teriam sido repassados à Turfa e à Laeta.
Em depoimento à CPI dos Correios no dia 31 de agosto, Enivaldo Quadrado, um dos donos da Bônus-Banval, disse que a Laeta é uma das empresas que Funaro representa. Por meio da DTVM, ele teria feito vários negócios com a Bônus-Banval.


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