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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ FUNDOS DE PENSÃO
Segundo relatório, distribuidoras de títulos que obtiveram lucros milionários contra Prece estão ligadas a esquema de Valério
Coaf confirma elo entre fundo e "valerioduto"
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
JANAÍNA LEITE
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA
Relatório do Coaf obtido pela
Folha confirma, pela primeira
vez, que distribuidoras de títulos
que obtiveram lucros milionários
contra o fundo de pensão Prece
(da Cedae, companhia de saneamento do Rio) estão ligadas, direta ou indiretamente, ao esquema
de repasses de Marcos Valério de
Souza a partidos políticos.
Segundo auditoria da Secretaria
de Previdência Complementar,
ainda em curso, a Laeta DTVM e a
Euro DTVM teriam ganho aproximadamente R$ 5 milhões, entre
2003 e 2005, em operações que teriam resultado em prejuízo de
mesmo valor para a Prece, fundo
de pensão que tem sido alvo de
lobby dos deputados federais
Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e
Carlos Willian (PTC-MG), ambos
da bancada do ex-governador do
Rio Anthony Garotinho. Os dois
têm se desentendido com integrantes da CPI dos Correios porque tentam tirar a Prece das investigações sobre os fundos.
De acordo com o documento do
Coaf (Conselho de Controle de
Atividades Financeiras), a Laeta e
a Euro têm conexões com a empresa de fachada Guaranhuns
(que Marcos Valério diz ter usado
para repassar cerca de R$ 10 milhões ao PL), com a Natimar (que
a Polícia Federal suspeita pertencer ao doleiro Najun Turner) e
com a corretora Bônus-Banval
(que Valério usou para repassar
cerca de R$ 10 milhões ao PL).
Uma das linhas de investigação
da CPI dos Correios é provar que
recursos foram desviados dos
fundos para atender a interesses
políticos. Uma das hipóteses é
que parte do dinheiro teria sido
enviada ao exterior.
Relatório
Hoje, o deputado ACM Neto,
sub-relator da CPI para fundos de
pensão, deve apresentar seu relatório. A Prece e a Nucleos (fundação de previdência das estatais
nucleares) estão entre seus principais alvos. O documento do Coaf
demonstra que, no mesmo período em que a Euro transferiu
R$ 525 mil para a Natimar (entre
maio e julho de 2004), a Natimar
depositou R$ 275 mil na RS Administração, offshore no Panamá.
O Coaf apurou que Laeta e Guaranhuns são ligadas informalmente ao operador de mercado
Lúcio Bolonha Funaro, tido também como doleiro. Uma de suas
empresas, a Royster Serviços,
transferiu, em maio de 2004,
R$ 5,539 milhões para a offshore
panamenha.
Passaram pelas contas da Royster, entre agosto de 2004 e agosto
deste ano, aproximadamente R$ 3
milhões, valor não condizente
com a capacidade financeira presumida da empresa, de acordo
com o relatório do Coaf. O documento informa que parte dos R$ 3
milhões foi sacada em dinheiro.
A offshore RS Administração
aparece em outra operação suspeita sob investigação da CPI dos
Correios. Um total de R$ 3,1 milhões teria sido enviado para a
conta da RS pelo seguinte caminho: a 2S Participações, de Marcos Valério, repassou o valor, por
meio da Bônus-Banval, para a RS
Empreendimentos e Participações, que tem a presidente do
Banco Rural, Kátia Rabelo, como
principal acionista.
Segundo o sub-relator da CPI
dos Correios, deputado federal
Gustavo Fruet (PSDB-PR), depois
de passar pela empresa da presidente do Rural, o dinheiro foi
transferido para a offshore.
Bônus-Banval
A Bônus-Banval consta também do relatório do Coaf por ter
declarado inadimplente, em maio
de 2004, o operador de mercado
Waldir Vicente do Prado, devido
ao não-pagamento de uma dívida
no valor de R$ 5,66 milhões. No
mesmo mês, no entanto, ele
transferiu R$ 2,2 milhões para a
RS Administração. De acordo
com Fruet, a CPI investiga se Prado foi usado como laranja.
A Euro DTVM, apontada como
empresa que causou prejuízos ao
fundo da Cedae, mantinha negócios com pelo menos uma das
empresas de Lúcio Bolonha Funaro, a Erst Banking Empreendimentos, de acordo com Coaf. Entre setembro de 2003 e março de
2004, a Erst movimentou R$ 25,5
milhões numa conta do extinto
BCN, comprado pelo Bradesco.
Essa conta alimentou a Turfa
DTVM, transformada posteriormente em Euro DTVM.
Assim como a Euro, a Laeta
também aparece na lista de empresas que teriam recebido dinheiro da conta da Erst no BCN.
Não há menção aos valores que
teriam sido repassados à Turfa e à
Laeta.
Em depoimento à CPI dos Correios no dia 31 de agosto, Enivaldo
Quadrado, um dos donos da Bônus-Banval, disse que a Laeta é
uma das empresas que Funaro representa. Por meio da DTVM, ele
teria feito vários negócios com a
Bônus-Banval.
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