São Paulo, sábado, 06 de dezembro de 2008

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36% das doações a prefeitos eleitos em capitais são ocultas

De R$ 115 mi arrecadados pelos vencedores, R$ 41 mi têm origem desconhecida

Para camuflar identidade, doador dá verba a partidos, que a repassam a candidatos; empreiteiras e bancos são os principais financiadores

ALAN GRIPP
FERNANDA ODILLA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A prática de doações ocultas de campanha se disseminou pelo país, aponta levantamento feito nas prestações de contas disponibilizadas pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) até ontem. Dos R$ 115 milhões arrecadados pelos prefeitos eleitos nas 26 capitais brasileiras, R$ 41 milhões (36%) têm origem desconhecida.
Para camuflar a identidade dos doadores, os partidos recorrem a uma brecha na legislação. Em vez de injetarem recursos diretamente nas contas dos candidatos, as empresas fazem suas contribuições aos partidos, que as repassam às campanhas. Assim, as prestações de contas feitas após as eleições registram os diretórios partidários como a origem dos recursos, e não os doadores.
O artifício, chamado de "burla legal" pelos técnicos do TSE, foi utilizado em pelo menos 17 das 26 campanhas vitoriosas nas capitais. Pelo menos sete legendas de diversas correntes políticas (PT, PMDB, PSDB, DEM, PV, PSB e PC do B) lançaram mão dessa estratégia.
Micarla de Souza (PV), eleita em Natal, foi quem mais usou proporcionalmente do expediente: 87% de sua arrecadação foi proveniente do diretório estadual da sigla no Rio Grande do Norte. Só é possível saber os responsáveis por 13% do financiamento de sua campanha.
Em São Paulo, o comitê do DEM arrecadou R$ 34,4 milhões, sendo R$ 17,6 milhões provenientes dos cofres do partido. Desses recursos, R$ 29,7 milhões foram para a campanha de Gilberto Kassab.
A campanha de Marcio Lacerda (PSB), eleito em Belo Horizonte com o apoio do PT e do PSDB, foi turbinada com R$ 9,1 milhões saídos dos cofres do partido. Os recursos injetados pelos diretórios municipal, estadual e nacional do partido representaram mais da metade (52%) do total doado.
Mesmo comportamento teve Eduardo Paes (PMDB) no Rio, que recebeu do partido R$ 5,2 milhões de R$ 11,4 milhões (45,6%) amealhados por ele.

Empreiteiras
Com contribuições de mais de R$ 33 milhões às candidaturas dos prefeitos eleitos nas capitais brasileiras, as empreiteiras e os bancos foram os principais doadores da campanha deste ano. A quantia supera o valor injetado por representantes dos mesmos setores para a reeleição do presidente Lula, em 2006, quando doaram R$ 24,4 milhões ao petista.
Destinatárias de grande parte dos recursos de investimento das prefeituras, as construtoras e empresas de engenharia doaram pelo menos R$ 30 milhões (26%) aos prefeitos eleitos, por meio das contas dos próprios candidatos e também para a de comitês.
A candidatura de Kassab recebeu mais de um terço desse montante: R$ 10,9 milhões. A participação das empreiteiras na eleição de Paes, no Rio, com doação de R$ 3,8 milhões, também foi expressiva.
Até ontem à noite, o TSE não havia disponibilizado os dados das prestações de contas de três eleitos -Luizianne Lins (PT), em Fortaleza; Duciomar Costa (PTB), em Belém; e João da Costa (PT), em Recife.


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