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36% das doações a prefeitos eleitos em capitais são ocultas
De R$ 115 mi arrecadados pelos vencedores, R$ 41 mi têm origem desconhecida
Para camuflar identidade, doador dá verba a partidos, que a repassam a candidatos; empreiteiras e bancos são
os principais financiadores
ALAN GRIPP
FERNANDA ODILLA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A prática de doações ocultas
de campanha se disseminou
pelo país, aponta levantamento
feito nas prestações de contas
disponibilizadas pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) até
ontem. Dos R$ 115 milhões arrecadados pelos prefeitos eleitos nas 26 capitais brasileiras,
R$ 41 milhões (36%) têm origem desconhecida.
Para camuflar a identidade
dos doadores, os partidos recorrem a uma brecha na legislação. Em vez de injetarem recursos diretamente nas contas
dos candidatos, as empresas fazem suas contribuições aos
partidos, que as repassam às
campanhas. Assim, as prestações de contas feitas após as
eleições registram os diretórios
partidários como a origem dos
recursos, e não os doadores.
O artifício, chamado de "burla legal" pelos técnicos do TSE,
foi utilizado em pelo menos 17
das 26 campanhas vitoriosas
nas capitais. Pelo menos sete
legendas de diversas correntes
políticas (PT, PMDB, PSDB,
DEM, PV, PSB e PC do B) lançaram mão dessa estratégia.
Micarla de Souza (PV), eleita
em Natal, foi quem mais usou
proporcionalmente do expediente: 87% de sua arrecadação
foi proveniente do diretório estadual da sigla no Rio Grande
do Norte. Só é possível saber os
responsáveis por 13% do financiamento de sua campanha.
Em São Paulo, o comitê do
DEM arrecadou R$ 34,4 milhões, sendo R$ 17,6 milhões
provenientes dos cofres do partido. Desses recursos, R$ 29,7
milhões foram para a campanha de Gilberto Kassab.
A campanha de Marcio Lacerda (PSB), eleito em Belo Horizonte com o apoio do PT e do
PSDB, foi turbinada com R$ 9,1
milhões saídos dos cofres do
partido. Os recursos injetados
pelos diretórios municipal, estadual e nacional do partido representaram mais da metade
(52%) do total doado.
Mesmo comportamento teve
Eduardo Paes (PMDB) no Rio,
que recebeu do partido R$ 5,2
milhões de R$ 11,4 milhões
(45,6%) amealhados por ele.
Empreiteiras
Com contribuições de mais
de R$ 33 milhões às candidaturas dos prefeitos eleitos nas capitais brasileiras, as empreiteiras e os bancos foram os principais doadores da campanha
deste ano. A quantia supera o
valor injetado por representantes dos mesmos setores para a
reeleição do presidente Lula,
em 2006, quando doaram R$
24,4 milhões ao petista.
Destinatárias de grande parte dos recursos de investimento das prefeituras, as construtoras e empresas de engenharia
doaram pelo menos R$ 30 milhões (26%) aos prefeitos eleitos, por meio das contas dos
próprios candidatos e também
para a de comitês.
A candidatura de Kassab recebeu mais de um terço desse
montante: R$ 10,9 milhões. A
participação das empreiteiras
na eleição de Paes, no Rio, com
doação de R$ 3,8 milhões, também foi expressiva.
Até ontem à noite, o TSE não
havia disponibilizado os dados
das prestações de contas de três
eleitos -Luizianne Lins (PT),
em Fortaleza; Duciomar Costa
(PTB), em Belém; e João da
Costa (PT), em Recife.
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