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Mensalões fragilizam debate ético em 2010
Para analistas, escândalos tiram credibilidade de grandes siglas e levariam candidatos a tratar do tema individualmente
Marina é a pré-candidata que chegaria à campanha com as melhores condições para debate ético, já que PT e PSDB pouparam dirigentes
FERNANDO BARROS DE MELLO
MALU DELGADO
DA REPORTAGEM LOCAL
A deflagração, na semana
passada, do esquema de corrupção no Distrito Federal apelidado de mensalão do DEM arrasta mais um grande partido
do sistema político brasileiro
para a seara da corrupção que já
abateu diretamente PT e PSDB.
Indiretamente, várias outras
siglas, como PMDB, PP, PR (ex-PL), PTB, PDT e PPS, foram envolvidas ou citadas nos escândalos do mensalão petista, no
valerioduto do PSDB e no recente mensalão do DEM.
A fragilidade dos partidos políticos não deverá banir o debate ético na campanha de 2010,
mas poderá obrigar os candidatos a trazer o tema para a esfera
pessoal e não partidária. Isso
beneficiaria, até o momento, a
pré-candidata do PV, a senadora Marina Silva (AC). A opinião
é de filósofos e cientistas políticos ouvidos pela Folha.
Segundo dados do Eseb (Estudo Eleitoral Brasileiro, feito
pela Unicamp), de 2002 a 2006
caiu de 40% para 29% o percentual do eleitorado que identificava algum partido político
como representativo de sua
maneira de pensar. O número
de eleitores que disseram gostar pelo menos um pouco de
um partido caiu de 48% a 33%.
Já o Datafolha mostra que,
em maio de 2002, o percentual
de eleitores que não se identificava com nenhum partido atingia 42%. Na pesquisa de agosto
de 2009, o número dos sem
partido subiu para 57%.
Para o professor titular de
Ciência Política da USP José
Álvaro Moisés, apenas os candidatos como indivíduos poderão trazer o tema da ética para
o embate eleitoral. Mas isso
"exigiria que eles, ao mesmo
tempo, fossem capazes de dizer
o que acham que os seus próprios partidos devem fazer (ou
deveriam ter feito) diante das
denúncias de que alguns de
seus membros estiveram ou estão envolvidos em corrupção".
Ética no palanque
O filósofo José Arthur Giannotti não vê a ética fora dos palanques. "A questão da ética pode se tornar fundamental
quando todo mundo está igualado. [O debate] vai se dar mais
pelos indivíduos que pelos partidos", afirmou. "Obviamente
haverá, dentro dos partidos,
candidatos que vão se apresentar mais éticos que os outros."
No Brasil, segundo o professor de Ética e Filosofia Política
da USP, Renato Janine Ribeiro,
os eleitores consideram mais
relevante a discussão sobre honestidade e competência do
que o debate programático sobre o papel do Estado e políticas públicas. "Não acho que a
ética será deixada de lado, embora quase nenhum dos grandes partidos esteja ileso da
mancha da corrupção."
Por ora, acrescenta o professor, Marina Silva e Ciro Gomes
se beneficiariam por não terem
nenhum escândalo de corrupção "colado" à imagem deles.
A cientista política Denise
Paiva, da Universidade Federal
de Goiás, concorda que Marina
Silva é quem terá a maior possibilidade de tratar da ética. "No
caso de Serra e Dilma, eles correm o risco de ficarem um
apontando o dedo para o outro,
o que não é frutífero", diz.
Democracia manca
Segundo Álvaro Moisés, a falta de responsabilização de políticos envolvidos em escândalos
faz com que a democracia brasileira fique "manca ou ande de
muletas".
"O PSDB tentará se limpar de
qualquer mácula apesar de o
então presidente da sigla
[Eduardo Azeredo], denunciado pelo Supremo, ter sido mantido", exemplifica Janine. No
caso do PT, enfatiza a professora Denise Paiva, a direção partidária, agora, estimula o retorno
de envolvidos no mensalão para o comando da sigla.
"A democracia não se define
apenas pelo direito de os eleitores escolherem governos, mas
também pelo seu poder de avaliarem a ação dos que governam e adotarem medidas de
apoio ou de correção dos rumos", complementa Moisés.
Citando pesquisas qualitativas, os professores dizem que a
população brasileira é extremamente severa no julgamento da corrupção quando envolve políticos e partidos, mas é
mais condescendente quando
os deslizes envolvem questões
cotidianas. Ou seja, a maior
parte da população brasileira é
crítica com a "corrupção dos
outros", mas leniente com a
corrupção próxima de si.
Se parece que chegamos ao
fundo do poço na política, a solução, segundo o filósofo Giannotti, é uma clara pressão da
sociedade por "uma reforma do
sistema político e por um sistema mais simples de votação e
representação, em que o relacionamento com o eleitor seja
mais próximo, como ocorre no
voto distrital". Sem isso, afirma
ele, "não sairemos do buraco".
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