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CULTURA
Em nota divulgada ontem, ministro diz que confronto é "artificial"
Para Gil, continuar polêmica só serve "para vender jornal"
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro da Cultura, Gilberto
Gil, divulgou ontem nota em que
defende o direito de pessoas criticarem o governo, mas diz que levar adiante a polêmica na qual a
pasta está envolvida atualmente
seria "acirrar um confronto artificial" para "vender jornal".
A nota é uma tentativa de pôr
fim à discussão entre ministério e
artistas iniciada por declarações
de Ferreira Gullar à Folha em dezembro, quando o poeta afirmou
haver "centralização" na gestão
da pasta. O debate foi inflamado
por uma carta aberta escrita por
Caetano Veloso.
Na nota, Gil classifica de "tautológica e vazia" a continuidade da
polêmica, mas afirma que "qualquer pessoa tem o direito de criticar o governo, de preferência com
conhecimento de causa".
"Levá-la [a polêmica] adiante,
agora, serve apenas para vender
jornal e acirrar um confronto artificial. O que poderia ser dito a respeito está posto. Que as pessoas
formem seu próprio juízo, para
além de qualquer distorção", diz o
ministro, que completa: "Insistir
no conflito, transformá-lo em
campanha, dar a ele uma conotação política, aproveitar-se dele
para vinganças pessoais, nada
disso interessa à democracia e à
cultura do Brasil".
Gil lembra que Gullar expôs um
ponto de vista e o Ministério da
Cultura, o dele, referindo-se à resposta dada ao poeta pelo secretário de Políticas Culturais da pasta,
Sérgio Sá Leitão, que classificou
Ferreira Gullar de "stalinista".
"Foi um exercício democrático
de expressão. Viva a diferença!",
diz a nota de Gil.
Para o ministro, "as palavras do
MinC não ensejam uma recusa à
crítica, mas um reconhecimento
dela. E não ensejam atos de discriminação, mas debates livres,
abertos, conseqüentes".
Em sua carta aberta, publicada
na última quarta-feira pela Folha,
Caetano, antigo parceiro de Gil,
ataca o secretário e diz ver um risco de totalitarismo. "Se um ministério demonstra não aceitar críticas -pior: exige adesão total às
suas decisões -, estamos sim a
um passo do totalitarismo", afirmou Caetano na carta.
"Totalitário seria o MinC fazer
algo contra Gullar ou contra
quem quer que seja. Isto jamais
acontecerá. Assim como seria totalitário negar ao MinC o direito
de debater ou exigir a demissão de
alguém por delito de opinião",
afirma a nota do ministro.
Para Gil, "se houve exagero, foi
mútuo e desnecessário, como a
própria controvérsia".
Depois da troca de declarações,
o ministro recebeu um pedido de
degola de seu secretário Sá Leitão.
Anteontem, Gil disse no Rio de Janeiro que, "se querem a cabeça de
Sá Leitão, não vão ter".
A polêmica envolve, principalmente, a gestão das regras de patrocínio das estatais. O governo
diz que "descentralizou" visando
distribuir dinheiro entre mais
projetos e mais Estados do país.
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