São Paulo, quarta-feira, 07 de janeiro de 2009

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Autor do requerimento de impeachment de Vargas se despede da Câmara do Rio

MÁRIO MAGALHÃES
DA SUCURSAL DO RIO

O homem que aos 18 anos foi o mais jovem fundador da UDN, que aos 27 protocolou o pedido de impeachment de Getúlio Vargas e que até hoje nega a existência do Holocausto despediu-se na semana passada da Câmara do Rio, para a qual foi eleito pela primeira vez em 1954, poucas semanas após ter seu o escritório destruído por manifestantes encolerizados pelo suicídio do presidente.
O carioca Wilson Leite Passos, 82, fez de antigos elogios que recebeu do brigadeiro Eduardo Gomes (1896-1981) o coração de sua campanha. Seus votos minguaram como os contemporâneos do ícone udenista: foram 5.062 sufrágios em outubro, menos que os 8.078 de 2004 e os 13.795 de 2000.
Terceiro suplente do PP, não tem perspectiva de herdar uma cadeira: "Houve fraude. Tenho bons amigos, mas excelentes inimigos, todos de mau caráter". Foi para casa dando de ombros às acusações de simpatia pelo Terceiro Reich: "Podem me chamar de nazista, não me incomodo. Só não podem me chamar de comunista".
"É nazista, as posições dele são sempre nazistas", diz a vereadora Teresa Bergher (PSDB). Ele alega inexistir provas do Holocausto: "Não devemos incutir em crianças ideias e convicções que não estejam totalmente estabelecidas". E o genocídio inegável de judeus? "É matéria para ser mais bem discutida."
Passos é um desses personagens que não alcançaram o proscênio da história, mas cuja trajetória encarna uma era -no caso, de polarizações: "Se ser um homem às direitas é ser direitista, eu sou um radical de direita".
Sua militância começou na oposição ao Estado Novo. Ele reivindica ter sido o delegado caçula da convenção inaugural da União Democrática Nacional em 1945.
A UDN foi o grande partido do que se convencionou chamar de direita no Brasil. Seu alvo supremo foi Getúlio Vargas (1882-1954). Como não era exigida a condição de deputado para pedir seu impedimento à Câmara, o então jornalista Wilson Leite Passos apresentou o requerimento em junho de 1954. Perdeu. Em agosto, acossado, Vargas se matou: "Nenhum de nós pretendia isso". Em outubro daquele ano foi eleito vereador. No total foram oito mandatos intercalados, nem todos integrais, como o último -assumiu no meio. Passou uma temporada como deputado federal.
Pautou-se pela proposição de políticas eugênicas. Seus oponentes identificam a proposta de nazista. Ele vê "má-fé siderúrgica" em seus detratores e diz que a eugenia quer "estimular a constituição de famílias sadias".
Como Passos revelou em 2000, tinha sido de um oficial nazista a pistola que ele portava em 1957 na estreia da peça "Perdoa-me por me Traíres", de Nelson Rodrigues, no Rio. "Deve ter matado muito russo, muito comunista", vangloriou-se. Hoje cala sobre o destino da arma.
Passos diz que a história recompensou seu anticomunismo. Mora sozinho e, como seu ídolo Eduardo Gomes, manteve-se solteiro. Considera o ex-ministro Jarbas Passarinho o único à altura de ocupar o Planalto.


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