|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
foco
Autor do requerimento de
impeachment de Vargas se
despede da Câmara do Rio
MÁRIO MAGALHÃES
DA SUCURSAL DO RIO
O homem que aos 18 anos
foi o mais jovem fundador da
UDN, que aos 27 protocolou
o pedido de impeachment de
Getúlio Vargas e que até hoje
nega a existência do Holocausto despediu-se na semana passada da Câmara do
Rio, para a qual foi eleito pela
primeira vez em 1954, poucas semanas após ter seu o
escritório destruído por manifestantes encolerizados
pelo suicídio do presidente.
O carioca Wilson Leite
Passos, 82, fez de antigos elogios que recebeu do brigadeiro Eduardo Gomes (1896-1981) o coração de sua campanha. Seus votos minguaram como os contemporâneos do ícone udenista: foram 5.062 sufrágios em outubro, menos que os 8.078 de
2004 e os 13.795 de 2000.
Terceiro suplente do PP,
não tem perspectiva de herdar uma cadeira: "Houve
fraude. Tenho bons amigos,
mas excelentes inimigos, todos de mau caráter". Foi para casa dando de ombros às
acusações de simpatia pelo
Terceiro Reich: "Podem me
chamar de nazista, não me
incomodo. Só não podem me
chamar de comunista".
"É nazista, as posições dele são sempre nazistas", diz a
vereadora Teresa Bergher
(PSDB). Ele alega inexistir
provas do Holocausto: "Não
devemos incutir em crianças
ideias e convicções que não
estejam totalmente estabelecidas". E o genocídio inegável de judeus? "É matéria para ser mais bem discutida."
Passos é um desses personagens que não alcançaram
o proscênio da história, mas
cuja trajetória encarna uma
era -no caso, de polarizações: "Se ser um homem às
direitas é ser direitista, eu
sou um radical de direita".
Sua militância começou
na oposição ao Estado Novo.
Ele reivindica ter sido o delegado caçula da convenção
inaugural da União Democrática Nacional em 1945.
A UDN foi o grande partido do que se convencionou
chamar de direita no Brasil.
Seu alvo supremo foi Getúlio
Vargas (1882-1954). Como
não era exigida a condição de
deputado para pedir seu impedimento à Câmara, o então jornalista Wilson Leite
Passos apresentou o requerimento em junho de 1954.
Perdeu. Em agosto, acossado, Vargas se matou: "Nenhum de nós pretendia isso".
Em outubro daquele ano foi
eleito vereador. No total foram oito mandatos intercalados, nem todos integrais,
como o último -assumiu no
meio. Passou uma temporada como deputado federal.
Pautou-se pela proposição
de políticas eugênicas. Seus
oponentes identificam a
proposta de nazista. Ele vê
"má-fé siderúrgica" em seus
detratores e diz que a eugenia quer "estimular a constituição de famílias sadias".
Como Passos revelou em
2000, tinha sido de um oficial nazista a pistola que ele
portava em 1957 na estreia
da peça "Perdoa-me por me
Traíres", de Nelson Rodrigues, no Rio. "Deve ter matado muito russo, muito comunista", vangloriou-se. Hoje
cala sobre o destino da arma.
Passos diz que a história
recompensou seu anticomunismo. Mora sozinho e, como seu ídolo Eduardo Gomes, manteve-se solteiro.
Considera o ex-ministro
Jarbas Passarinho o único à
altura de ocupar o Planalto.
Texto Anterior: Judiciário: Após escândalo, STF compra 55 telefones criptografados Próximo Texto: Bloquinho: Em busca de independência, PDT deve abandonar aliança, diz Lupi Índice
|