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Rumo a Paris, Amorim diz que escolha de caças é política
Em Genebra, chanceler afirma que "não se trata de decisão puramente militar"
Ministro participa de evento que já estava marcado e pode ter encontro com Sarkozy; diplomacia brasileira prevê discussão de relatório da FAB
LUCIANA COELHO
DE GENEBRA
ELIANE CANTANHÊDE
DA COLUNISTA DA FOLHA
O chanceler Celso Amorim,
que estava ontem em Genebra
e hoje participa de seminário
em Paris ao lado do presidente
francês, Nicolas Sarkozy, disse
que a decisão sobre a compra
de 36 caças supersônicos para a
Força Aérea Brasileira será política e "não se trata de uma decisão puramente militar".
"A decisão final é sempre política, pois é tomada por órgãos
políticos", disse Amorim ontem, em resposta a um jornalista francês durante uma entrevista coletiva, depois de se reunir com o chanceler da Autoridade Nacional Palestina, Riad
Malki, em Genebra.
"Evidentemente será tudo
estudado, os relatórios [técnicos] serão levados em conta,
mas quem vai decidir é o ministro da Defesa, é o presidente da
República", continuou o ministro das Relações Exteriores. "A
decisão cabe ao presidente, auxiliado por seu Conselho de Defesa. Não se trata de uma decisão puramente militar", disse.
Amorim foi a primeira autoridade a falar sobre a opção técnica da FAB a favor dos caças
suecos Gripen NG, em detrimento dos franceses Rafale,
preferidos pelo presidente Luiz
Inácio Lula da Silva e pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim. A conclusão da FAB foi antecipada pela Folha anteontem
e, para fins de consumo público, ainda não foi oficialmente
entregue a Jobim.
Hoje, o próprio presidente
Sarkozy terá uma boa chance
de questionar Amorim sobre a
preferência da Aeronáutica pelos caças suecos e voltar a pressionar a favor dos franceses
-que já têm uma parceria estratégica e um acordo militar
assinados com o Brasil, para
fornecimento de submarinos e
helicópteros.
Sarkozy vai abrir um seminário sobre crise econômica em
Paris, e Amorim estará presente. O seminário, marcado bem
antes da divulgação da avaliação técnica da FAB sobre os caças, será na École Militaire,
com o título "Novo Mundo,
Novo Capitalismo?".
A resposta de Amorim a
qualquer indagação já foi ensaiada na resposta ao jornalista
francês, em Genebra. Na expectativa do Itamaraty, Amorim voltará também a ser abordado sobre a questão dos caças
tanto pelos jornalistas quanto
pelo assessor diplomático do
governo francês, Jean Levitte,
com quem tem almoço marcado hoje, depois do seminário.
No dia 7 de Setembro do ano
passado, quando o Brasil divulgou nota atropelando o processo de seleção da FAB e anunciando prematuramente a decisão pelos Rafale, Amorim
ajudou a aumentar o mal-estar
ao ratificar a decisão em entrevista. O governo, depois, foi
obrigado a recuar.
O embarque de volta do ministro a Brasília está previsto
para hoje à tarde.
O ministro da Defesa, que ao
contrário de Amorim não tem
comentado publicamente o relatório da Aeronáutica, mantém a versão, por meio de sua
assessoria, de que não viu o relatório e que continua válido o
que declarou à Folha em dezembro: que a FAB não fará um
ranking dos aviões e que é Lula
quem decide.
Negócio de até R$ 10 bi
A compra dos caças, 36 unidades, está estimada em até R$
10 bilhões, dependendo da proposta negociada. O desejo dos
militares é que, em etapas subsequentes, a substituição de
frota chegue a um total estimado de 120 aviões.
A decisão é soberana do presidente, já que é um assunto de
segurança nacional. Mas o fato
de a FAB ter colocado o preferido do governo em terceiro lugar, atrás do Gripen e do americano Boeing F-18, cria um incômodo político -não menos
porque as Forças Armadas estão melindradas com a ideia do
governo de levar ao banco dos
réus os crimes cometidos apenas pelo lado dos militares durante a ditadura.
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