São Paulo, quinta-feira, 07 de janeiro de 2010

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Rumo a Paris, Amorim diz que escolha de caças é política

Em Genebra, chanceler afirma que "não se trata de decisão puramente militar"

Ministro participa de evento que já estava marcado e pode ter encontro com Sarkozy; diplomacia brasileira prevê discussão de relatório da FAB


LUCIANA COELHO
DE GENEBRA
ELIANE CANTANHÊDE
DA COLUNISTA DA FOLHA

O chanceler Celso Amorim, que estava ontem em Genebra e hoje participa de seminário em Paris ao lado do presidente francês, Nicolas Sarkozy, disse que a decisão sobre a compra de 36 caças supersônicos para a Força Aérea Brasileira será política e "não se trata de uma decisão puramente militar".
"A decisão final é sempre política, pois é tomada por órgãos políticos", disse Amorim ontem, em resposta a um jornalista francês durante uma entrevista coletiva, depois de se reunir com o chanceler da Autoridade Nacional Palestina, Riad Malki, em Genebra.
"Evidentemente será tudo estudado, os relatórios [técnicos] serão levados em conta, mas quem vai decidir é o ministro da Defesa, é o presidente da República", continuou o ministro das Relações Exteriores. "A decisão cabe ao presidente, auxiliado por seu Conselho de Defesa. Não se trata de uma decisão puramente militar", disse.
Amorim foi a primeira autoridade a falar sobre a opção técnica da FAB a favor dos caças suecos Gripen NG, em detrimento dos franceses Rafale, preferidos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim. A conclusão da FAB foi antecipada pela Folha anteontem e, para fins de consumo público, ainda não foi oficialmente entregue a Jobim.
Hoje, o próprio presidente Sarkozy terá uma boa chance de questionar Amorim sobre a preferência da Aeronáutica pelos caças suecos e voltar a pressionar a favor dos franceses -que já têm uma parceria estratégica e um acordo militar assinados com o Brasil, para fornecimento de submarinos e helicópteros.
Sarkozy vai abrir um seminário sobre crise econômica em Paris, e Amorim estará presente. O seminário, marcado bem antes da divulgação da avaliação técnica da FAB sobre os caças, será na École Militaire, com o título "Novo Mundo, Novo Capitalismo?".
A resposta de Amorim a qualquer indagação já foi ensaiada na resposta ao jornalista francês, em Genebra. Na expectativa do Itamaraty, Amorim voltará também a ser abordado sobre a questão dos caças tanto pelos jornalistas quanto pelo assessor diplomático do governo francês, Jean Levitte, com quem tem almoço marcado hoje, depois do seminário.
No dia 7 de Setembro do ano passado, quando o Brasil divulgou nota atropelando o processo de seleção da FAB e anunciando prematuramente a decisão pelos Rafale, Amorim ajudou a aumentar o mal-estar ao ratificar a decisão em entrevista. O governo, depois, foi obrigado a recuar.
O embarque de volta do ministro a Brasília está previsto para hoje à tarde.
O ministro da Defesa, que ao contrário de Amorim não tem comentado publicamente o relatório da Aeronáutica, mantém a versão, por meio de sua assessoria, de que não viu o relatório e que continua válido o que declarou à Folha em dezembro: que a FAB não fará um ranking dos aviões e que é Lula quem decide.

Negócio de até R$ 10 bi
A compra dos caças, 36 unidades, está estimada em até R$ 10 bilhões, dependendo da proposta negociada. O desejo dos militares é que, em etapas subsequentes, a substituição de frota chegue a um total estimado de 120 aviões.
A decisão é soberana do presidente, já que é um assunto de segurança nacional. Mas o fato de a FAB ter colocado o preferido do governo em terceiro lugar, atrás do Gripen e do americano Boeing F-18, cria um incômodo político -não menos porque as Forças Armadas estão melindradas com a ideia do governo de levar ao banco dos réus os crimes cometidos apenas pelo lado dos militares durante a ditadura.


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