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Decisão irrita presidente
ELIANE CANTANHÊDE
Diretora da Sucursal de Brasília
O presidente Fernando Henrique Cardoso ficou surpreso e
irritado com a decisão de Itamar Franco de decretar moratória unilateral.
Ao saber do fato por agências
de notícias, FHC ligou para os
ministros Pedro Malan (Fazenda) e Eliseu Padilha (Transportes). Leu a nota de Itamar, convocou Malan ao Planalto e
mandou Padilha entrar em
contato com o governo mineiro. À noite, Padilha cancelou
uma viagem a Minas que faria
amanhã.
Um dos temores do Planalto é
justamente que outros Estados,
especialmente os governados
pela oposição, sigam o mesmo
caminho e criem uma situação
de impasse político e de dificuldades econômicas.
FHC não esperava que Itamar
efetivamente cumprisse a
ameaça de decretar moratória
(ou "dar o calote"), avaliando
ser um jogo político.
Depois de almoçar com FHC,
mas antes de saber da moratória, Padilha disse à Folha que
seria "impossível" qualquer renegociação das dívidas dos Estados com a União.
"Isso arrebentaria com o
ajuste fiscal. Tudo o que for
transigido para os Estados será
cobrado inevitavelmente à sociedade, porque a conta do
ajuste tem de fechar."
Ele, o ministro Renan Calheiros (Justiça) e o também peemedebista Ovídio de Ângelis
(Políticas Regionais) cancelaram ontem à noite um almoço
que teriam amanhã com Itamar, em Belo Horizonte.
"Ficamos surpresos com a
notícia da moratória", disse Padilha, que vinculou o cancelamento à sua presença na reunião ministerial de sexta.
Antes, Padilha havia acenado
com a possibilidade de acertos:
"Quando é um aliado, sempre
se pode dar um jeito. Quando é
adversário, aí é mais difícil".
Depois, reviu o discurso: "Os
governadores querem melhorar o que já foi ótimo para eles."
O porta-voz da Presidência,
Sergio Amaral, disse que as
propostas de moratória podem
atrasar o ajuste fiscal e a queda
nas taxas de juros.
"Além de pressionar em si o
déficit público, uma renegociação do governo federal com
Minas Gerais abriria a porteira
para uma renegociação com os
demais Estados."
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