São Paulo, quinta, 7 de janeiro de 1999

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Decisão irrita presidente

ELIANE CANTANHÊDE
Diretora da Sucursal de Brasília

O presidente Fernando Henrique Cardoso ficou surpreso e irritado com a decisão de Itamar Franco de decretar moratória unilateral.
Ao saber do fato por agências de notícias, FHC ligou para os ministros Pedro Malan (Fazenda) e Eliseu Padilha (Transportes). Leu a nota de Itamar, convocou Malan ao Planalto e mandou Padilha entrar em contato com o governo mineiro. À noite, Padilha cancelou uma viagem a Minas que faria amanhã.
Um dos temores do Planalto é justamente que outros Estados, especialmente os governados pela oposição, sigam o mesmo caminho e criem uma situação de impasse político e de dificuldades econômicas.
FHC não esperava que Itamar efetivamente cumprisse a ameaça de decretar moratória (ou "dar o calote"), avaliando ser um jogo político.
Depois de almoçar com FHC, mas antes de saber da moratória, Padilha disse à Folha que seria "impossível" qualquer renegociação das dívidas dos Estados com a União.
"Isso arrebentaria com o ajuste fiscal. Tudo o que for transigido para os Estados será cobrado inevitavelmente à sociedade, porque a conta do ajuste tem de fechar."
Ele, o ministro Renan Calheiros (Justiça) e o também peemedebista Ovídio de Ângelis (Políticas Regionais) cancelaram ontem à noite um almoço que teriam amanhã com Itamar, em Belo Horizonte.
"Ficamos surpresos com a notícia da moratória", disse Padilha, que vinculou o cancelamento à sua presença na reunião ministerial de sexta.
Antes, Padilha havia acenado com a possibilidade de acertos: "Quando é um aliado, sempre se pode dar um jeito. Quando é adversário, aí é mais difícil". Depois, reviu o discurso: "Os governadores querem melhorar o que já foi ótimo para eles."
O porta-voz da Presidência, Sergio Amaral, disse que as propostas de moratória podem atrasar o ajuste fiscal e a queda nas taxas de juros.
"Além de pressionar em si o déficit público, uma renegociação do governo federal com Minas Gerais abriria a porteira para uma renegociação com os demais Estados."



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