São Paulo, quarta-feira, 07 de fevereiro de 2007

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"Métodos condenáveis" deram vitória a Chinaglia, diz Aldo

Deputado atribui sua derrota a interferência de ministros e perspectiva de cargos

Ex-presidente da Câmara afirma que Serra também atuou por petista e que bloco PSB-PC do B deve ter candidato próprio em 2010


Sérgio Lima/Folha Imagem
Com a estátua do corneteiro de Pirajá à frente, Aldo Rebelo concede entrevista em seu gabinete


VALDO CRUZ
LETÍCIA SANDER
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Derrotado na disputa pela reeleição à presidência da Câmara dos Deputados, Aldo Rebelo (PC do B-SP) diz que o governo Lula vai precisar do bloco que o apoiou (PSB, PC do B, PDT, PAN e PMN) para "assegurar a governabilidade" e classifica de "método condenável" as promessas de cargos em troca do apoio a seu adversário Arlindo Chinaglia (PT-SP), segundo diz ter ouvido de aliados.
Aldo poupa o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas faz várias insinuações sobre o uso da máquina por ministros do PT.
Ele atribui sua derrota não só à atuação de ministros, mas também ao governador José Serra (PSDB-SP).
O comunista indica que a eleição da Câmara sepulta a aliança entre PT e PC do B. Segundo ele, o bloco de esquerda vai buscar outro caminho, que inclui um candidato próprio à Presidência da República.

 

FOLHA - A quem o senhor atribui a sua derrota?
ALDO REBELO -
O vitorioso teve apoio da cúpula da maioria dos partidos da base do governo. Houve também algum nível de apoio de ministros ligados ao PT e de ao menos um governador de um Estado importante, como São Paulo.

FOLHA - Quais encantos desfilaram pelo Congresso nessa disputa?
ALDO -
A perspectiva de participação no poder, a ocupação de postos, de mandos.

FOLHA - O sr. identifica a atuação de qual ministro, especificamente?
ALDO -
O nome do santo não é o mais importante. Importante é que se operou um milagre. Eu diria que compreendo a manifestação de apoio de alguém do PT a uma candidatura do PT. Acho que isso teve influência nas eleições. Como não há forma de indicar exatamente como ocorreu, você mede a influência disso pelo resultado concreto da batalha.

FOLHA - Mas o sr. considera o oferecimento de benesses, cargos e emendas normal?
ALDO -
Eu acho que, se realmente houve, o método, naturalmente, é condenável.

FOLHA - Na campanha, a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) o visitou e sondou se o sr. poderia renunciar?
ALDO -
Não, na visita da ministra não houve proposta de renúncia, nem a ministra insinuou qualquer tipo de atitude que não fosse a de respeitar as duas candidaturas. No final da eleição, eu não tenho a convicção se essa atitude foi mantida.

FOLHA - O sr. reclamou diretamente com o Executivo de interferência?
ALDO -
Eu sempre tomava atitudes preventivas e defensivas. No dia da eleição, soube que um funcionário do palácio circulava pelo Congresso, e tomei a iniciativa de telefonar ao ministro Tarso Genro e manifestar a minha preocupação com a interpretação que pudesse ser dada à presença desse funcionário aqui [tratava-se de Marcos Lima, responsável por negociações com parlamentares].

FOLHA - Qual a interpretação que o sr. deu à presença dele aqui?
ALDO -
Eu não dei interpretação nenhuma. Mas claro que pessoas que apoiavam a minha candidatura temiam que a presença dele pudesse influenciar na posição de parlamentares.

FOLHA - Aliados seus disseram que Dilma teria ligado para deputados pedindo votos para Chinaglia.
ALDO -
Apenas os deputados que receberam essas ligações podem falar sobre esse assunto. Não acredito que ela tenha pedido voto.

FOLHA - Como analisa a participação dos governadores tucanos Aécio Neves e José Serra na disputa?
ALDO -
Tenho uma relação pessoal muito boa com José Serra. Acho que ele teve suas razões, não diria pessoais, mas políticas, para ajudar a vitória de Arlindo Chinaglia. Respeito essas razões, mas só o governador poderá explicá-las. Quanto a Aécio, sei que alguns deputados da bancada de Minas votaram na minha candidatura, e creio que Aécio teve um papel nessa opção.

FOLHA - Como fica sua relação com o governo daqui para a frente?
ALDO -
Minha relação é a do bloco parlamentar que apóia o governo. O que marca a nossa relação é uma maior independência de projetos e de atitudes em relação ao PT.

FOLHA - O sr. se sentiu abandonado pelo presidente?
ALDO -
Não, porque, ao menos, o presidente manifestou publicamente a sua atitude de respeito às duas candidaturas.

FOLHA - Se ele o convidar para algum ministério, qual será o comportamento do senhor?
ALDO -
Eu creio que não é conveniente discutir iniciativas que são próprias da esfera do presidente. Dizer que aceitaria pareceria a busca de uma compensação pela perda da Câmara. Dizer que não aceitaria teria o sentido de uma grosseria, algum tipo de ressentimento. Essas coisas também nunca são decisões pessoais. Eu integro um partido, um bloco de parlamentares que dispõe de quadros experientes.

FOLHA - Qual é o projeto do bloco?
ALDO -
É integrar a base do governo, apoiar, procurando aperfeiçoar metas como a do crescimento econômico, dos direitos sociais do povo, e trabalhar para as batalhas políticas que se avizinham.

FOLHA - É um grupo que tem a disposição de participar da eleição de 2010 com candidato próprio?
ALDO -
Claro. O presidente Lula não é candidato à reeleição. O nosso compromisso é com o governo Lula, não é com o PT.


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