Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"Métodos condenáveis" deram vitória a Chinaglia, diz Aldo
Deputado atribui sua derrota a interferência de ministros e perspectiva de cargos
Ex-presidente da Câmara afirma que Serra também atuou por petista e que bloco PSB-PC do B deve ter candidato próprio em 2010
Sérgio Lima/Folha Imagem
|
Com a estátua do corneteiro de Pirajá à frente, Aldo Rebelo concede entrevista em seu gabinete |
VALDO CRUZ
LETÍCIA SANDER
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Derrotado na disputa pela
reeleição à presidência da Câmara dos Deputados, Aldo Rebelo (PC do B-SP) diz que o governo Lula vai precisar do bloco
que o apoiou (PSB, PC do B,
PDT, PAN e PMN) para "assegurar a governabilidade" e classifica de "método condenável"
as promessas de cargos em troca do apoio a seu adversário Arlindo Chinaglia (PT-SP), segundo diz ter ouvido de aliados.
Aldo poupa o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, mas faz várias insinuações sobre o uso da
máquina por ministros do PT.
Ele atribui sua derrota não só
à atuação de ministros, mas
também ao governador José
Serra (PSDB-SP).
O comunista indica que a
eleição da Câmara sepulta a
aliança entre PT e PC do B. Segundo ele, o bloco de esquerda
vai buscar outro caminho, que
inclui um candidato próprio à
Presidência da República.
FOLHA - A quem o senhor atribui a
sua derrota?
ALDO REBELO - O vitorioso teve
apoio da cúpula da maioria dos
partidos da base do governo.
Houve também algum nível de
apoio de ministros ligados ao
PT e de ao menos um governador de um Estado importante,
como São Paulo.
FOLHA - Quais encantos desfilaram pelo Congresso nessa disputa?
ALDO - A perspectiva de participação no poder, a ocupação
de postos, de mandos.
FOLHA - O sr. identifica a atuação
de qual ministro, especificamente?
ALDO - O nome do santo não é
o mais importante. Importante
é que se operou um milagre.
Eu diria que compreendo a
manifestação de apoio de alguém do PT a uma candidatura
do PT. Acho que isso teve influência nas eleições. Como
não há forma de indicar exatamente como ocorreu, você mede a influência disso pelo resultado concreto da batalha.
FOLHA - Mas o sr. considera o oferecimento de benesses, cargos e
emendas normal?
ALDO - Eu acho que, se realmente houve, o método, naturalmente, é condenável.
FOLHA - Na campanha, a ministra
Dilma Rousseff (Casa Civil) o visitou
e sondou se o sr. poderia renunciar?
ALDO - Não, na visita da ministra não houve proposta de renúncia, nem a ministra insinuou qualquer tipo de atitude
que não fosse a de respeitar as
duas candidaturas. No final da
eleição, eu não tenho a convicção se essa atitude foi mantida.
FOLHA - O sr. reclamou diretamente com o Executivo de interferência?
ALDO - Eu sempre tomava atitudes preventivas e defensivas.
No dia da eleição, soube que
um funcionário do palácio circulava pelo Congresso, e tomei
a iniciativa de telefonar ao ministro Tarso Genro e manifestar a minha preocupação com a
interpretação que pudesse ser
dada à presença desse funcionário aqui [tratava-se de Marcos Lima, responsável por negociações com parlamentares].
FOLHA - Qual a interpretação que o
sr. deu à presença dele aqui?
ALDO - Eu não dei interpretação nenhuma. Mas claro que
pessoas que apoiavam a minha
candidatura temiam que a presença dele pudesse influenciar
na posição de parlamentares.
FOLHA - Aliados seus disseram que
Dilma teria ligado para deputados
pedindo votos para Chinaglia.
ALDO - Apenas os deputados
que receberam essas ligações
podem falar sobre esse assunto. Não acredito que ela tenha
pedido voto.
FOLHA - Como analisa a participação dos governadores tucanos Aécio
Neves e José Serra na disputa?
ALDO - Tenho uma relação
pessoal muito boa com José
Serra. Acho que ele teve suas
razões, não diria pessoais, mas
políticas, para ajudar a vitória
de Arlindo Chinaglia. Respeito
essas razões, mas só o governador poderá explicá-las.
Quanto a Aécio, sei que alguns deputados da bancada de
Minas votaram na minha candidatura, e creio que Aécio teve
um papel nessa opção.
FOLHA - Como fica sua relação com
o governo daqui para a frente?
ALDO - Minha relação é a do
bloco parlamentar que apóia o
governo. O que marca a nossa
relação é uma maior independência de projetos e de atitudes
em relação ao PT.
FOLHA - O sr. se sentiu abandonado pelo presidente?
ALDO - Não, porque, ao menos,
o presidente manifestou publicamente a sua atitude de respeito às duas candidaturas.
FOLHA - Se ele o convidar para algum ministério, qual será o comportamento do senhor?
ALDO - Eu creio que não é conveniente discutir iniciativas
que são próprias da esfera do
presidente. Dizer que aceitaria
pareceria a busca de uma compensação pela perda da Câmara. Dizer que não aceitaria teria
o sentido de uma grosseria, algum tipo de ressentimento.
Essas coisas também nunca
são decisões pessoais. Eu integro um partido, um bloco de
parlamentares que dispõe de
quadros experientes.
FOLHA - Qual é o projeto do bloco?
ALDO - É integrar a base do governo, apoiar, procurando
aperfeiçoar metas como a do
crescimento econômico, dos
direitos sociais do povo, e trabalhar para as batalhas políticas que se avizinham.
FOLHA - É um grupo que tem a disposição de participar da eleição de
2010 com candidato próprio?
ALDO - Claro. O presidente Lula não é candidato à reeleição.
O nosso compromisso é com o
governo Lula, não é com o PT.
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Frase Índice
|