São Paulo, quinta-feira, 07 de fevereiro de 2008

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Governo atropela oposição e pede CPI que inclui anos FHC

Planalto deu aval à investigação sobre cartões, desde que antecessor também vire alvo

Em nota, PSDB diz que não "compactuará com farsa" e com "CPI para transformar em pizza investigação" sobre cartões corporativos

VALDO CRUZ
MARIA CLARA AMARAL
ADRIANO CEOLIN

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ao considerar inevitável uma CPI dos Cartões Corporativos, o governo mudou sua estratégia e decidiu se antecipar à oposição: propôs uma comissão apenas no Senado para investigar gastos de cartões e despesas eventuais de presidentes e ministros nos últimos dez anos, o que incluiria o segundo mandato de FHC. O pedido foi protocolado ontem à noite na Mesa Diretora do Senado.
A manobra, que teve o aval de Lula, foi desencadeada ontem na abertura dos trabalhos do Congresso. Assim que a sessão começou, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), começou a circular pelo plenário em busca das 27 assinaturas necessárias. Conseguiu 35, inclusive da oposição.
Surpreendida, a oposição criticou a manobra. "O PSDB não compactuará com nenhuma farsa, com nenhuma tentativa de setores governistas de, pretensamente antecipando-se às oposições, propor CPI para transformar em "pizza" uma investigação sobre o escândalo dos cartões corporativos", disse o PSDB, em nota.
Enquanto os tucanos defendem uma comissão mista -Câmara e Senado- para investigar o uso de cartões desde 2001, o governo propôs uma restrita aos senadores, englobando não só os cartões mas também os gastos dos chamados fundos de suprimentos ou conta B, que bancam pagamentos de despesas eventuais livres de licitação.
"O governo sabia que a CPI era inevitável e se antecipou, só que seu objetivo é criar confusão para preservar o sigilo dos gastos do presidente e da primeira-dama", disse o senador Alvaro Dias (PSDB-PR).
Logo cedo, Jucá se reuniu no Palácio do Planalto com os ministros José Múcio Monteiro (Relações Institucionais), Dilma Rousseff (Casa Civil), Paulo Bernardo (Planejamento) e Jorge Hage (Controladoria Geral da União). Na reunião, mencionou-se que em 2002, último ano de FHC, o governo teria gasto com as contas B R$ 229 milhões e, com cartões, R$ 3,6 milhões.
No ano passado, foram R$ 77 milhões com cartões e R$ 98 milhões com as contas B, utilizadas por ministros e servidores para bancar despesas que podem ser efetuadas com dispensa de licitação. "Vamos ver quem gastou mais", desafiou Jucá, já no Congresso. Descansando no Guarujá, Lula foi contatado por telefone por Dilma e deu seu aval à manobra.
"A oposição queria a CPI. Então, vamos fazê-la. E podemos investigar até os gastos do presidente, mas não só do atual governo", disse Jucá. Criticado por limitar a CPI ao Senado, o líder disse que naquela Casa a correlação de forças é mais equilibrada, enquanto na Câmara o Planalto tem maioria.
Esse discurso esconde o temor do governo de tentar controlar uma CPI na Câmara, onde fica sujeito a pressões de deputados governistas e o custo político sai mais caro com distribuição de cargos e verbas. Para evitar problemas, o governo quer acelerar as negociações com o PMDB em torno dos cargos do setor elétrico.
"O governo deu um tiro pé. Todo mundo sabe como uma CPI começa, mas ninguém sabe como termina", disse o senador Efraim Morais (DEM-PB).


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