|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Governo federal intensifica negócios com empreiteiras
Cinco maiores construtoras negociam com BNDES, Petrobras e fundos estatais
Candidata à Presidência, Dilma Rousseff vê "com bons olhos" as transações, que envolvem notórias doadoras de campanhas eleitorais
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
No ano eleitoral, o governo
federal intensificou parcerias e
transações bilionárias com as
cinco maiores empreiteiras do
país. Notórias doadoras de
campanhas, elas vêm negociando com BNDES, Petrobras e
fundos de pensão de estatais.
Os movimentos avalizados
pelo Palácio do Planalto coincidem com a consolidação da
candidatura da ministra Dilma
Rousseff (Casa Civil) à sucessão do presidente Lula. As
construtoras foram as maiores
doadoras de campanha do PT
nas duas últimas eleições.
Entre dezembro e janeiro, a
Petrobras anunciou a injeção
de R$ 2,5 bilhões na petroquímica Braskem (controlada pela
Odebrecht), o BNDES repassou
um terço do capital votante da
Cemig para a Andrade Gutierrez, e a Casa Civil deu aval à Camargo Corrêa para comprar o
controle da Neoenergia e da
Eletropaulo e AES Sul.
Em março do ano passado, a
Invepar, administrada pela
OAS, recebeu aporte de R$ 719
milhões da Funcef (fundo de
pensão dos funcionários da
Caixa Econômica Federal) e da
Petros (Petrobras), o que viabilizou a compra do Metrô do Rio
de Janeiro e da concessão da
rodovia Raposo Tavares.
Há vários outros grandes negócios recentes das empreiteiras com a participação, direta
ou indireta, do governo.
No caso das ações da Cemig,
o BNDES as detinha por conta
de uma dívida de R$ 2,1 bilhões
(em valores atualizados) contraída pela americana AES, inadimplente havia seis anos, para
a compra de 33% do capital votante da companhia energética.
Após dois anos de negociação, a Andrade Gutierrez concluiu a transação em dezembro,
assumindo a dívida da AES e levando os papéis da Cemig, com
dez anos para quitar o débito.
Se não foi um mau negócio
para o BNDES, a operação foi
melhor ainda para o grupo AG,
cliente assíduo do banco estatal. Entre 2008 e 2009, o
BNDES liberou quase R$ 7 bilhões para a Oi, controlada por
AG e La Fonte, comprar a Brasil Telecom. Lula editou decreto para permitir o negócio.
No fim do mês passado, a
Braskem comprou a Quattor,
criando a maior empresa do setor nas Américas. Uma semana
depois, anunciou a aquisição da
americana Sunoco Chemicals,
por US$ 350 milhões.
As operações foram possíveis
graças ao aumento da participação da Petrobras na empresa
-o controle da Braskem está
nas mãos da Odebrecht, com
50,1% das ações ordinárias.
Carlos Fadigas, vice-presidente de finanças da petroquímica, ressalta que a maior operação da companhia foi realizada em 2001, com a compra da
Copene, rebatizada de Braskem. "Não foi só no governo
Lula. É uma história ao longo
do tempo", disse ele.
Conforme a Folha noticiou
na semana passada, o Palácio
do Planalto aprovou a constituição de uma superelétrica
formada pela Camargo Corrêa.
Controladora da CPFL, a
empreiteira pretende adquirir
também as ações na Neoenergia pertencentes à Previ (fundo
de pensão dos funcionários do
Banco do Brasil) e ao BB, e a
participação do BNDES na Eletropaulo e na AES Sul -duas
operações na casa dos bilhões.
Para concretizá-las, a Camargo
precisará de financiamento do
banco federal de fomento.
Na quarta-feira, Dilma confirmou as tratativas. "Não vemos com maus olhos. É uma
tendência internacional ter
grandes empresas nessa área."
Ressaltou que o negócio ainda
não foi "colocado de forma
completa para o governo".
A Funcef anunciou também
que pretende comprar metade
da participação da Camargo
Corrêa na usina de Jirau, no rio
Madeira, o que ajudaria a capitalizar a empreiteira.
Já a Queiroz Galvão tem na
Petrobras um de seus maiores
clientes em construção civil e
sua principal parceira na área
de exploração de óleo e gás.
Procuradas pela reportagem,
Invepar-OAS e Queiroz Galvão
disseram, via assessoria, que
não iriam se manifestar.
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Janio de Freitas: De volta ou para trás Índice
|