|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
30 ANOS DO PT
PT promove PMDB de "impróprio" a essencial
Aos 30, partido aposta em aliança com sigla descrita em sua carta de princípios como "aglomerado altamente heterogêneo'
Pragmatismo na política de coligações é justificado pelo fato de 60% do eleitorado
se identificar com valores
de "centro", dizem petistas
MALU DELGADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Da conflituosa relação com o
MDB (Movimento Democrático Brasileiro) em meio à luta
pelo fim da ditadura à estratégica aliança com o PMDB na
tentativa de eleger a ministra
Dilma Rousseff à Presidência
da República, as três décadas de
existência do PT passam por
graduais inflexões na política
de alianças, justificadas no partido como consequência da história, do aprendizado político e
da tática eleitoral.
Hoje, os petistas do alto escalão do governo Lula apontam o
PMDB como o parceiro que o
PT precisa para angariar votos
e permanecer no poder. A cúpula do PT calcula que cerca de
60% dos eleitores se identificam com valores "de centro".
"O eleitor do PMDB não tem
a mesma visão de Estado do
PSDB e do DEM. Quer a presença forte do Estado no serviço público, e não é privatista",
diz um auxiliar do presidente.
Ainda que ninguém no PT
ouse apostar numa fidelidade
integral do PMDB ao governo
Lula ou ao projeto que Dilma
pretende oferecer ao país na
campanha, a avaliação geral entre petistas é que a aliança não
doeu. Ou seja, a inclusão social,
a bandeira mais cara ao PT, será o legado do governo Lula.
"Vivemos basicamente o que
o PT desejou e deseja: a colocação da questão dos pobres no
centro das políticas públicas",
afirma o ministro Patrus Ananias (Desenvolvimento Social).
Para a professora Rachel Meneghello, do departamento de
Ciência Política da Unicamp,
foi acertada a decisão do PT de
ampliar o arco de alianças. O
pacto com o PMDB é hoje estratégico, diz ela, porque a sigla
"passou a vida sendo guarda-chuva de alternativas e estratégias" e, como o maior partido, é
"o equilibrador do sistema".
"O curioso é que o PT não se
deu bem com aquele MDB doutrinário, coerente e programático, mas se dá muito bem com
o PMDB do [Michel] Temer,
que vende até a mãe", critica o
historiador Marco Antônio Villa, professor da Universidade
Federal de São Carlos.
Os fundadores do PT alegam
que, na década de 80, o conflito
com o MDB ocorreu porque os
petistas pregavam a necessidade de organização crítica dos
trabalhadores e a frente democrática [liderada pelo MDB]
acusava-os de dividir e enfraquecer a oposição à ditadura.
"Aglomerado de composição
altamente heterogênea e sob
controle e direção de elites liberais conservadoras, o MDB
tem-se revelado um conduto
impróprio para expressão dos
reais interesses das massas exploradas brasileiras", dizia a
Carta de Princípios do PT, de
1979, anterior à fundação, no
dia 10 de fevereiro de 1980. Hoje, os petistas insistem que
houve grande convergência histórica entre as siglas.
"O MDB se constituiu por
imposição da ditadura; o
PMDB se mantém por força da
política. Nossa parceria hoje
deve ser bilateral e o PMDB
também precisa querer o PT
pelo que ele representa", diz o
governador Jaques Wagner,
em disputa com o ministro
Geddel Vieira Lima (PMDB) pelo governo da Bahia.
"O PT mudou como o Brasil
mudou, como o mundo mudou", diz o futuro presidente da
sigla, José Eduardo Dutra.
Segundo ele, a mudança em
relação à política de alianças
começou em 1987, no 5º Encontro Nacional do partido, em
que foi aprovada uma resolução política que permitiu alianças. "Viu-se que o partido não
podia marchar sozinho", diz.
O pragmatismo se traduz em
números: entre mais de um milhão de filiados, convivem empresários e assalariados. O partido conquistou, em 2006, 83 cadeiras na Câmara dos Deputados. Fez 14 senadores. Pelo
país, governa, desde 2008, 558 municípios. Em 1982, a primeira eleição de que participou, foram dois os prefeitos eleitos.
À frente da pré-campanha de
Dilma, o ex-prefeito de Belo
Horizonte Fernando Pimentel
está satisfeito com o resultado
das inflexões: "A alternativa contemporânea das esquerdas é o que o Lula sintetiza: a incorporação das grandes massas, e isso levou-nos ao centro".
Colaborou ANA FLOR, da Reportagem Local
Texto Anterior: 30 anos do PT Próximo Texto: Guinada rumo ao centro levou sigla a ter dissidências Índice
|