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OPINIÃO
PT, o suplício de uma saudade
FRANCISCO DE OLIVEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA
AOS 30 ANOS de sua fundação, o PT realiza todas as previsões da
ciência social sobre a estrutura
e o funcionamento das grandes
organizações. No caso dos partidos, foi Robert Michels quem
traçou essa rota.
Burocratizado, previsível,
com abissal espaço entre suas
elites e a massa, mesmo a hoje
fracamente militante. Prestou
uma excelente contribuição à
democratização nacional, e
continuará sendo um dos dois
principais partidos políticos no
Brasil. Mas não ampliou a democratização nem a republicanização do Estado.
De partido ideológico, transitou rapidamente para "partido-ônibus" e deste para "partido
paraestatal". O partido paraestatal se define como uma organização ambígua, que realiza
tarefas que o Estado lhe delega.
No caso do PT, o Estado lhe delega as funções de legitimação
na massa popular, e o Bolsa Família é seu maior instrumento.
A mídia e a oposição, em geral, acusam o PT de aparelhamento do Estado. O fenômeno
real é o oposto: é o Estado quem
aparelha os partidos, embora
esse aparelhamento venha coberto de deliciosos chantillys
de bons salários, influência nas
licitações e descaradamente na corrupção desenfreada.
Por isso, o PT já não é um
partido da transformação. Na
periferia subdesenvolvida, um
partido patrimonialista, na versão machadiana/schwartziana
da cultura do favor.
O pós-Lula não conhecerá
grandes mudanças no rol dos
partidos. O PT é o que mais sofrerá com uma magra dieta não
governamental, se sua até agora pretensa candidata não se
eleger: tensões internas ou a luta pelo espólio pós-Lula podem
aproximá-lo do peronismo sem Perón. Se Dilma se eleger, a luta interna pelo controle de um governo sem personalidade e força partidária própria será também muito feroz.
A luta será para saber quem
ocupa os cargos-chave, já que o
próprio Lula tem a vocação de
eminência parda, mas dirigirá
Dilma de muito perto. Se os
deuses favorecerem o atual governador de São Paulo, então
será a vez de o tucanato voltar a
engordar, e tratar de desfazer
os trunfos lulistas.
Mas a política real passará
longe dos partidos, como já
acontece, e o Banco Central e as
outras instituições serão os
verdadeiros eixos da política.
Por último, convém frisar
que o PT não tem nenhuma
contribuição para a ampliação
tanto da participação popular
nas decisões mais importantes,
como não melhorou a musculatura institucional do Estado.
Desde Vargas, o último grande
reformador do Estado, ele segue o mesmo. FHC tentou introduzir um semiliberalismo
via agências reguladoras, mas
não foi muito longe; Lula, nem
tentar tentou. E La Nave Va
FRANCISCO DE OLIVEIRA,76, é professor
emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.
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