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A MORTE DE COVAS
Clima mais tenso no velório ocorreu na chegada do corpo do
governador, quando secretários, amigos da família e assessores choravam em volta do caixão de Covas, exposto no salão nobre
"O governo Mário Covas continua", diz Alckmin
O novo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, foi o único
político a acompanhar o caixão de
Mário Covas, ao lado da família
Covas, na chegada para o velório
no Salão Nobre do Palácio dos
Bandeirantes. Eram 11h43. Fez-se
um longo silêncio no salão.
"Na política brasileira, todos os
significados da palavra dignidade
podem ser resumidos num nome:
Mário Covas", disse ele, rapidamente, aos jornalistas.
"O governo Mário Covas continua, em seus valores e seus princípios", comprometeu-se Alckmin,
que assume o cargo até janeiro de
2003 e estava acompanhado da
mulher, Maria Lúcia.
Até chegar ao Palácio dos Bandeirantes, o rápido cortejo fúnebre desde o Incor foi saudado ao
longo de ruas e avenidas de São
Paulo com aplausos, lenços e roupas brancas. No Morumbi, moradores portavam faixas: "Covas,
descanse em paz".
A postura dos paulistanos foi de
reverência silenciosa. Quase não
se ouviam buzinas, à exceção de
uma centena de motoqueiros que
acompanharam o cortejo buzinando e gritando. O carro funerário estava protegido por um cordão de batedores da PM.
Ao chegar para o velório no Palácio dos Bandeirantes, o corpo
foi recebido pela viúva do governador, Lila Covas, toda de preto e
de óculos escuros, seus filhos, Renata e Mário Covas Neto, o Zuzinha, e a irmã de Covas, Nídia,
além de Alckmin e a mulher.
O corpo foi velado durante todo
o dia e a noite no Salão Nobre do
palácio. O presidente Fernando
Henrique Cardoso, 23 ministros,
16 governadores e parlamentares
de todos os Estados compareceram. O enterro será hoje, no cemitério do Paquetá, em Santos.
Além de Covas, só um outro governador do Estado de São Paulo
morreu no meio do mandato:
Carlos de Campos, em 27 de abril
de 1927. O cargo era denominado
"Presidência de São Paulo".
Quando o corpo de Covas entrou no Salão Nobre, havia cerca
de 400 pessoas ali, metade delas,
jornalistas. O primeiro ministro a
chegar foi Paulo Renato de Souza
(Educação), que estava desde as
7h no Incor. Apesar da multidão,
fez-se um longo silêncio até que o
caixão fosse colocado no local.
O clima mais tenso e mais emocionado no Bandeirantes foi nesse
início do velório, quando Lila
aproximou-se do caixão e passou
alguns minutos acariciando Covas e chorando.
Mais tarde, ela causou novo
momento de comoção quando foi
com sua neta, Sílvia, filha de Zuzinha, até o caixão. Sussurrou algo
ao ouvido dela, que sorriu.
O secretário de Ciência e Tecnologia, José Aníbal, a deputada Zulaiê Cobra, o assessor de Comunicação, Oswaldo Martins, o secretário particular, Antônio Carlos
Malufe, alguns deputados e várias
secretárias choravam.
"Ele não podia ter feito isso com
a gente", repetia Zulaiê, amparada pelos dois filhos e por colegas
deputados. Ela é muito próxima
da família Covas.
O caixão do governador estava
ladeado por quatro cadetes da
PM. Duas esculturas de anjos-tocheiros (considerados "guardiães
das almas"), de 1,5 m de altura, foram postas dos dois lados.
Eram esculturas do século 18,
em madeira, do acervo do próprio palácio. Logo atrás do caixão,
havia uma pequena imagem de
Nossa Senhora com Jesus, em
marfim e madeira. No meio da
tarde, chegou também uma estátua do "Senhor morto".
Na primeira hora do velório,
chegou a prefeita de São Paulo,
Marta Suplicy, acompanhada do
marido, o senador Eduardo Suplicy (PT). Marta abraçou longamente Renata e depois Lila.
Por volta das 13h, abriram as
portas para cidadãos comuns. Ou
seja, sem o adesivo verde que indicava as "autoridades".
Um momento de susto: o santista Plínio Augusto de Camargo,
61, muito parecido com Covas,
entrou no salão. Da mesma altura, barriga proeminente, cabelos
brancos cortados rentes, ele já está acostumado a ser confundido
com o conterrâneo.
"Na greve dos professores, quase quebram os vidros do meu carro", contou ele, que na época saía
justamente do Palácio dos Bandeirantes.
"Ele se foi para
sempre", diz Lila
Ao abraçar Lila Covas, o ex-governador Richa estava com presidente da Itaipu Binacional, Euclides Scalco. Em minutos, juntou-se a eles o ministro da Saúde, José
Serra. Além deles, foram fundadores do PSDB o próprio Covas, o
presidente Fernando Henrique
Cardoso e o governador Franco
Montoro, que morreu em julho
de 1999.
Richa e Scalco, desiludidos,
abandonaram a política e o próprio PSDB. Richa, porém, continuou sendo próximo amigo de
Covas e sempre jantava com ele
quando em São Paulo. No velório,
abraçou-se longamente com Lila,
que chorava alto: "Ele se foi. Se foi
para sempre", dizia ela.
"Se fosse outro, já tinha desistido há muito tempo. Ele, não. Ele
lutou até o fim. Era um guerreiro.
Queria saber de tudo, queria participar até o fim", relatou a viúva
de Covas a Richa.
Serra havia chorado duas vezes
pela manhã, durante o lançamento de uma campanha de saúde em
Recife. "Um grande lutador", definiu, quando soube da morte.
No velório, Serra dizia à imprensa, no canto à direita do salão, que Covas era um "político
único, insubstituível, pelo padrão
ético irretocável".
No canto à esquerda, o governador Tasso Jereissati (CE), outro
presidenciável tucano, classificava Covas como "uma unanimidade". Antes de morrer, Covas declarou preferência por Tasso, apesar de Serra ser paulista.
Um PFL de
cada lado
Os representantes do PFL também se dividiram em dois grupos:
o vice-presidente da República,
Marco Maciel, o presidente do
partido, senador Jorge Bornhausen (SC), o líder na Câmara, Inocêncio Oliveira, e o presidente da
seção paulista, Cláudio Lembo,
chegaram juntos.
O ex-presidente do Senado Antonio Carlos Magalhães (BA), em
confronto aberto com o PMDB, o
governo e FHC, chegou com sua
própria tropa pela entrada principal, fazendo questão de passar no
meio de uma pequena multidão
de anônimos.
Estavam com ele o senador e ex-governador da Bahia Paulo Souto,
o prefeito de Salvador, Antonio
Imbassahy, e o ex-ministro Rodolpho Tourinho, demitido por
FHC na véspera do Carnaval.
Num ambiente fortemente político, ninguém se arriscava a dar
declarações formais sobre a crise
política instalada em Brasília pelas denúncias feitas por ACM e
pelas provas que surgem contra o
atual presidente do Senado, Jader
Barbalho (PMDB-PA).
Jader também compareceu ao
velório, pouco depois da chegada
do do presidente da Câmara, Aécio Neves (PSDB-MG).
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