São Paulo, quarta-feira, 07 de março de 2001

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A MORTE DE COVAS

FHC decidiu cancelar o pronunciamento que pretendia fazer ontem no velório de Mário Covas, no Palácio dos Bandeirantes, e acompanhou cerimônia religiosa ao lado de Lila e Ruth

Presidente decreta luto oficial no país por sete dias

O presidente Fernando Henrique Cardoso chegou ao Palácio dos Bandeirantes às 19h56, de helicóptero, direto do aeroporto de Congonhas, vindo de Brasília.
Com o presidente, vieram a primeira-dama, Ruth Cardoso, 17 ministros e dois líderes do governo no Congresso. Somados aos ministros que já estavam no velório, chegavam a pelo menos 20.
FHC permaneceu pouco mais de dois minutos ao lado do corpo, durante os 101 minutos em que ficou no Salão Nobre do Palácio dos Bandeirantes. Sozinho, não ficou nem dez segundos -teve tempo somente de tocar as mãos de Covas, ao final da cerimônia eucarística celebrada à noite.
O presidente cancelou o pronunciamento que faria ao país. Segundo sua assessoria, por dois fatores: ele estava muito emocionado e considerou que poderia causar um tumulto no salão, diante da grande quantidade de jornalistas presentes. O que FHC não queria era quebrar o clima de tranquilidade no velório.

A torcida por Alckmin
Antes da chegada do presidente e na ausência de declarações formais, havia duas grandes perguntas nas rodas que se formavam no Salão Nobre. 1) Como será a gestão do agora governador Geraldo Alckmin? 2) Qual o futuro do PSDB sem Covas?
Em geral, os elogios a Covas eram automaticamente transferidos para o sucessor Alckmin: "Ele fará um grande governo, vocês verão", dizia Tasso Jereissati.
Ele participara de jantar de FHC na véspera, no Palácio da Alvorada, com a cúpula tucana. Esquivou-se, porém, de relatar as conversas políticas. "Toda a hora, o telefone tocava. Era de São Paulo, informando da gravidade da saúde do Covas. Passamos a maior parte do tempo falando nele."
Ele só aproveitou para negar que o novo projeto do governo para unir a base aliada contenha a previsão de instalação do parlamentarismo a partir de 2006.
"Nós, tucanos, somos todos parlamentaristas. Mas o projeto que vocês estão falando é para o atual governo", disse.

Manifestações à esquerda e à direita
Compareceram vários políticos de esquerda e de direita: a ex-prefeita Luiza Erundina (PSB-SP), o líder petista Luiz Inácio Lula da Silva, o deputado José Genoino Neto, o líder do PDT Leonel Brizola e o ex-prefeito de São Paulo Paulo Maluf (PPB), um rival político histórico. O ex-governador Paulo Egydio Martins reapareceu.
Entre os governadores, além de Tasso, Anthony Garotinho (RJ), Jaime Lerner (PR), Dante de Oliveira (MT), Marconi Perillo (GO), Itamar Franco (MG).
O rabino Henry Sobel chorava bastante. O empresário Antonio Ermírio de Moraes foi rápido. José Rainha Júnior, um dos líderes do MST, também compareceu. O apresentador Gugu Liberato abraçou Lila e foi discreto.
Por volta das 13h, Lila e os filhos retiraram-se para a parte íntima do palácio, e as portas foram abertas para pessoas comuns. Quem passou para a primeira fileira, com a mulher, Maria Lúcia, foi o novo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Ele passou a receber os cumprimentos.
"Deus te ilumine", disse Scalco. "Iluminando São Paulo, ilumina o Brasil". Alckmin respondeu fazendo um sinal com o dedo para o caixão de Covas: "Ele também vai me iluminar lá de cima".

Prece à tarde, cerimônia à noite
Às 15h20, o cardeal e arcebispo emérito de São Paulo, d. Paulo Evaristo Arns, fez uma prece. Ao lado de Lila e dos filhos, referiu-se a Covas como "aquele que foi talvez o maior político deste século".
Na cerimônia que aconteceu à noite, FHC, ao lado de Ruth e Lila, rezou o "Pai Nosso" (trocando algumas poucas palavras) ao final da cerimônia, quando o cardeal-arcebispo de São Paulo, d. Cláudio Hummes, fez o cerimonial católico de encomenda do corpo.
Nesse momento, Ruth chorou -na saída, o próprio presidente foi visto chorando. Depois, FHC abraçou o cardeal, em vez de beijar-lhe a mão, como fizeram Alckmin e Maria Lúcia.
FHC ficou alguns minutos na sala reservada à família de Covas e, depois de entrar no Salão Nobre (às 20h34), ficou quase todo o tempo conversando com Lila, entremeado por Ruth. Por causa do forte calor, Ruth ganhou dois leques e repassou um deles a Lila.
Segundo a assessoria do presidente, ele passou o dia bastante abalado, mas não precisou tomar nenhum medicamento. O presidente soube da morte às 5h50. Decretou luto oficial por sete dias -em São Paulo, Alckmin e Marta tomaram medidas semelhantes. Foi decretado ponto facultativo para o funcionalismo estadual.
Às 22h20, FHC foi para o seu apartamento em Higienópolis, de onde sairia no início da tarde de hoje para o enterro de Covas, em Santos. (ELIANE CANTANHÊDE, FÁBIO ZANINI, FERNANDO RODRIGUES, FLÁVIA DE LEON, JULIA DUAILIB, LUIZA DAMÉ, PATRICIA ZORZAN, ROBERTO COSSO, SILVIA CORRÊA E WILLIAM FRANÇA)


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